O segundo turno das eleições para governador de Pernambuco será disputado pelas candidatas Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra (PSDB). Esta é a primeira vez na história que uma mulher chega ao segundo turno das eleições estaduais. Com isso, Pernambuco terá, pela primeira vez, uma governadora eleita.
Marília e Raquel disputam pela primeira vez o Executivo
estadual, que há 16 anos é governado pelo PSB, nas gestões de
Eduardo Campos, por duas vezes, e de Paulo Câmara,
por mais duas.
Com 100% das urnas apuradas, Marília Arraes teve
1.175.651 votos, o que equivale a 23,97% dos votos válidos. Raquel Lyra teve
1.009.556 votos, ou 20,58% dos votos válidos. A votação dos candidatos foi a
seguinte:
Marília Arraes (Solidariedade): 23,97% (1.175.651 votos);
Raquel Lyra (PSDB): 20,58% (1.009.556 votos);
Anderson
Ferreira (PL):
18,15% (890.220 votos);
Danilo Cabral (PSB):
18,06% (885.994 votos);
Miguel
Coelho (União
Brasil): 18,04% (884.941 votos);
Jones Manoel (PCB): 0,69% (33.931 votos);
João
Arnaldo (PSOL):
0,26% (12.558 votos);
Pastor
Wellington (PTB):
0,16% (8.020 votos);
Jadilson
Bombeiro (PMB):
0,05% (2.435 votos);
Claudia Ribeiro (PSTU): 0,04% (1.745
votos).
Marília Arraes liderou de forma isolada todas as
pesquisas de intenção de voto desde o início da campanha. Em 6 de setembro,
chegou a ter 38%, segundo pesquisa realizada pelo Ipec (ex-Ibope). Também de
acordo com levantamentos do Ipec, Raquel Lyra, em toda a campanha, esteve em
segundo lugar, empatada tecnicamente com outros três candidatos: Miguel Coelho
(União Brasil), Danilo Cabral (PSB) e Anderson Ferreira (PL).
Durante a pré-campanha e em todo o período eleitoral,
Marília Arraes tentou associar a imagem dela à do ex-presidente Lula (PT), aproveitando-se da
relação de proximidade que tem com o petista. Mas Lula, devido à aliança
nacional com o PSB, apoiava oficialmente o candidato da Frente Popular de
Pernambuco, Danilo Cabral (PSB).
A imagem de Lula foi disputada por Marília e Danilo. No
estado natal do ex-presidente, ele sempre teve mais de 60% das intenções de
voto para as eleições deste ano, segundo as pesquisas divulgadas pelo Ipec.
Usando sempre roupas vermelhas, Marília Arraes chegou a
ser alvo de ações judiciais com autoria do PSB, para que ela fosse impedida de
usar imagens de Lula na campanha, mas isso foi negado pelo Tribunal Regional
Eleitoral de Pernambuco. Entretanto, o tribunal proibiu que ela e a militância
usassem peças com símbolo e sigla do PT.
Raquel Lyra apoiava Simone Tebet (MDB) na disputa pela
Presidência, mas por poucas vezes citou a senadora nas campanhas. No estado, a
candidata ao Planalto tinha cerca de 2% de intenções de voto, de acordo com o
Ipec.
Nas entrevistas, enquanto Marília Arraes buscava se
viabilizar por meio de críticas ao PSB e apoio ao governo de Lula, Raquel Lyra
falava sobre a experiência em cargos no estado, durante o governo de Eduardo
Campos, e na prefeitura de Caruaru.
Ambas, no entanto, disparavam críticas aos governos de
Paulo Câmara, mesmo tendo participado de gestões do PSB. O pai de Raquel, João
Lyra Neto, foi vice de Eduardo Campos, em 2010, e assumiu o governo quando o
então governador saiu para ser candidato à Presidência da República, em 2014.
Nas duas chapas, houve a tentativa de dialogar com
diferentes regiões do estado. Marília Arraes, sendo do Recife, escolheu
para candidato a vice o deputado federal Sebastião Oliveira (Avante), cuja base
é do Sertão.
Raquel Lyra, que é do Agreste pernambucano, escolheu para
candidata a vice a deputada estadual Priscila Krause, que por dez anos foi
vereadora do Recife e tem atuação concentrada principalmente no Grande Recife.
Primeira governadora mulher
No dia 30 de outubro, Pernambuco conhecerá a primeira
governadora eleita da história. Uma mulher já ocupou o cargo: a atual
vice-governadora Luciana Santos (PCdoB), durante as gestões de Paulo Câmara
(PSB), entre 2015 e 2022. Mas ela assumiu o executivo apenas temporariamente,
em algumas ocasiões, como em 2019 e 2021.
Em toda a história, apenas sete mulheres disputaram o
governo de Pernambuco. Na atual disputa, o PSTU também teve uma postulante,
Cláudia Ribeiro.
A que obteve a maior votação, até então, foi Dani Portela
(PSOL), em 2018. Ela teve 188.087 votos, equivalente a 4,97% dos votos válidos.
Antes, Kátia Telles (PSTU) teve 8.718 (0,21%), em 2006; Ana Lins Gomes (PSTU)
teve 6.547 (0,19%), em 2002; e Maria Lucia Marques (PSC) teve 29.683 (1,05%),
em 1998.
Segundo turno pela segunda vez
Esta é a segunda vez na história do estado que haverá
segundo turno na disputa pelo governo. A primeira foi em 2006, entre o
ex-governador Eduardo Campos (PSB), que morreu em 2014 em um acidente aéreo, e
Mendonça Filho, que era do PFL, partido que se tornou o DEM e, depois, o União
Brasil.
Naquela eleição, Eduardo começou o primeiro turno em
terceiro lugar, atrás de Humberto Costa (PT), atualmente senador, e de Mendonça
Filho, que era o governador do estado. Campos venceu Mendonça no segundo turno
e depois foi reeleito, em 2010.
Trajetória política das candidatas
Marília Arraes
Recifense, Marília Arraes tem 38 anos e é deputada
federal. É advogada, foi vereadora da capital pernambucana por três mandatos e
está no terceiro partido de sua carreira política.
Ela é mãe de Maria Isabel, de 7 anos, e de Maria Bárbara,
de oito meses. Está grávida de outra menina, que vai se chamar Maria Magdalena,
mesmo nome de Magdalena Arraes, viúva do ex-governador e avô de Marília, Miguel
Arraes.
Marília começou a carreira política no PSB, legenda à
qual se filiou em 2005, ano da morte do avô Miguel Arraes, que presidiu o
partido. Foi pelo PSB que ela se elegeu vereadora do Recife pela primeira vez,
em 2008. Se manteve no mesmo partido até 2016, ano em que se filiou ao PT.
Em 2014, ainda no PSB, Marília Arraes apoiou a
candidatura à presidência da República de Dilma Rousseff (PT), em detrimento da
candidatura à presidência do primo Eduardo Campos (PSB), ex-governador de
Pernambuco.
Em seus dois últimos anos no PSB, entre 2014 e 2016,
Marília Arraes discordou de posições e orientações do partido.
O desgaste piorou ao longo dos anos e, em 2016, culminou
na desfiliação da então vereadora do PSB. Em uma carta publicada nas redes
sociais, na época, ela relatou ter sido vítima de ofensas desde 2014 e acusou o
partido de não ter democracia interna.
A candidatura de Marília Arraes ao governo é cogitada
desde 2018, quando ela ainda era filiada ao PT. No entanto, a possibilidade,
mesmo tendo sido aprovada pelo diretório estadual da legenda, foi limada pelo
Partido dos Trabalhadores em prol do apoio à reeleição do governador Paulo
Câmara (PSB).
Marília se candidatou a prefeita do Recife em 2020, sendo
derrotada por seu primo, João Campos (PSB), filho do ex-governador Eduardo
Campos. A campanha deixou rusgas na relação de Marília com o PT.
Para as eleições de 2022, o nome dela era novamente
cogitado, e apoiado pela militância do partido. O PT, no entanto, fechou apoio
ao PSB, em nome da aliança nacional que lançou o nome de Geraldo Alckmin (PSB)
na chapa com Lula.
Diante disso, Marília Arraes passou a se movimentar para
sair do partido. Houve, então, uma reunião do Grupo Tático Eleitoral do PT,
que, sem que ela estivesse presente, anunciou o nome dela ao Senado. Ela
respondeu com uma postagem nas redes sociais, em que disse ter o nome utilizado
como “massa de manobra”.
Poucos dias depois, a candidata deixou o PT e se filiou
ao Solidariedade. A ata de filiação foi abonada pelo presidente nacional da
legenda, deputado federal Paulinho da Força. No mesmo dia, Marília Arraes
tornou-se presidente do partido e anunciou a pré-candidatura.
Raquel Lyra
Raquel Lyra nasceu no Recife, tem 43 anos e foi prefeita
de Caruaru, no Agreste, por dois mandatos consecutivos. Renunciou ao cargo em
março deste ano, para concorrer ao governo. Entre 2007 e 2016, foi filiada ao
PSB e, em 2016, se filiou ao PSDB, partido do qual faz parte atualmente.
Ela é mãe de João, de 12 anos, e de Fernando, de 10 anos.
O mais velho tem o mesmo nome do pai de Raquel, João Lyra Neto (PSDB), que foi
vice-governador de Eduardo Campos e assumiu o governo em 2014, quando Campos
deixou o cargo para concorrer à Presidência.
Raquel era casada com o empresário Fernando Lucena,
que morreu
na manhã deste domingo. Ele estava em casa, em Caruaru, no Agreste, quando
se sentiu mal. Chegou a ser socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de
Urgência (Samu), mas não resistiu.
Raquel Lyra é advogada formada pela UFPE. Já foi advogada
do Banco do Nordeste e, em 2002, assumiu o cargo de delegada da Polícia
Federal, onde permaneceu até 2005. Ela renunciou ao cargo após passar no
concurso para a Procuradoria-Geral do Estado (PGE).
Durante a gestão de Eduardo Campos, foi chefe da
Procuradoria de Apoio Jurídico e Legislativo do governo, entre 2007 e 2010. Foi
eleita deputada estadual em 2010, mas licenciou-se do cargo para assumir a
Secretaria da Criança e da Juventude no segundo mandato de Eduardo Campos. Em
2014, foi reeleita deputada estadual.
Em 2016, foi eleita em primeiro turno a primeira mulher
prefeita de Caruaru, sendo reeleita em 2020.
Propostas
Entre as propostas de Marília Arraes está o investimento
de 1% da receita corrente líquida do estado em políticas de habitação. Na
saúde, ela prometeu criar “Casas da Mulher Pernambucana”, para ampliar o acesso
de mulheres grávidas a serviços de saúde, bem como a criação do programa Mais
Médicos Pernambuco, para custear a graduação de medicina de estudantes de
escola pública para que eles se comprometam a passar três anos no interior.
Marília Arraes também propôs a criação de um bilhete
único para desempregados e pessoas pobres, bem como concluir obras de estradas,
barragens e adutoras, e construir o Arco Metropolitano, respeitando o mínimo
impacto ambiental. Na segurança pública, prometeu atualizar o Pacto Pela Vida e
criar Delegacia da Mulher Itinerante.
Raquel Lyra, por sua vez, prometeu criar 60 mil vagas em
creches em todo o estado, e conceder benefício mensal de R$ 300 para mães
pobres. Ela afirmou que vai investir na integração do ensino médio ao ensino
técnico e criar uma Poupança Escola, para reduzir os índices de evasão escolas.
Na segurança pública, ela propôs criar o programa Juntos
pela Segurança, com políticas sociais para incentivar a cultura de paz e a
criação de patrulhas Maria da Penha nos municípios. Ela afirmou que vai
construir centros terapêuticos regionalizados para pessoas com deficiência, bem
como construir um hospital de câncer no Sertão e concluir obras em outras
unidades. Ela também disse que vai promover um “choque de gestão” na Compesa e
dialogar com o governo federal para resolver os problemas do Metrô do Recife. Fonte: G1
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