A lei que praticamente acaba com o uso da máscara de proteção facial contra o coronavírus chega justamente no momento em que o país vive uma onda de flexibilização, vista com a retomada de atividades em diversos estados. E a maior preocupação dos especialistas é a mensagem que os vetos do presidente Jair Bolsonaro passam à população neste momento. Antes mesmo da publicação da lei no Diário Oficial da União, a cidade do Rio de Janeiro exibiu cenas de aglomerações nas ruas durante a reabertura de bares e restaurantes. As imagens, feitas na zona boêmia do Leblon, apresentavam pessoas sem máscaras e concentradas na porta dos estabelecimentos.
A cidade de São Paulo se prepara para abrir bares,
restaurantes e salões de beleza a partir da próxima semana. As condições são de
funcionamento com 40% da capacidade, redução de jornada e funcionamento até, no
máximo, 17h. Ontem, em coletiva, o governador de São Paulo, João Doria,
criticou os vetos de Bolsonaro, apesar de ele mesmo estar promovendo a
reabertura do comércio.
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“Ele foi coerente com ele mesmo. O presidente Bolsonaro
não usar máscaras, não recomenda o uso de máscaras, não recomenda isolamento
social, adora cloroquina. O presidente Jair Bolsonaro foi o presidente Jair
Bolsonaro ao fazer esse veto”, comentou.
O governador esclareceu que, independentemente da decisão
presidencial, no estado de São Paulo a regra continua valendo. “Para o
governador, para o prefeito e para todos os cidadãos que vivem no estado de São
Paulo. E por quê? Porque aqui nós apreciamos a vida e queremos viver”, atacou.
No Distrito Federal, dias depois de declarar calamidade
pública e diante do crescimento de casos e óbitos pela covid-19, o governador
Ibaneis Rocha autorizou a reabertura total do comércio e a volta das aulas
presenciais em escolas e universidades das redes pública e particular no
Distrito Federal. As escolas devem começar a funcionar presencialmente em 3 de
agosto (leia mais na página 15).
Divergências
Em abril, o STF garantiu autonomia para que prefeitos e
governadores determinem medidas para o enfrentamento ao novo coronavírus. No
entanto, a falta de um discurso convergente entre o presidente e os
governadores, desde o início da pandemia no Brasil, preocupa especialistas.
“Ainda que prevaleçam as legislações locais,
Bolsonaro produz o que se chama dupla mensagem”, afirma o especialista em
gestão da Saúde da Fundação Getúlio Vargas, Walter Cintra.
Na avaliação dele, Bolsonaro insiste em fazer das ações
de combate à pandemia um instrumento de disputa política. “Com isso, demonstra,
mais uma vez, o seu desprezo pela saúde pública e o bem-estar dos brasileiros e
brasileiras”, completa.
O médico infectologista Leandro Machado também vê com
preocupação os vetos em relação ao uso de máscaras no combate ao coronavírus,
sobretudo neste momento em que o comércio se escancara e as pessoas deixam de
lado cuidados básicos. Ele defende a necessidade de orientar a população.
“As medidas de prevenção passam pelo uso do equipamento
que faz barreira mecânica no controle do vírus. O uso de máscara é uma medida
de prevenção efetiva que o mundo usou e está usando. Tirar isso é um risco
muito alto”, observou.
Para Leandro, “é preciso educar as pessoas a adotarem não
porque é lei, mas porque é necessário. Acredito ainda que isso vai se tornar um
caso de vigilância pública, onde o próprio cliente vai fazer essa cobrança de
que se o estabelecimento não atender aos requisitos de higiene sanitária, a
pessoa deixa de frequentar”, salientou.Ou seja, tudo que não se viu na noite
carioca.
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Bia Doria: quem vive na rua “gosta”
Bia Doria, primeira-dama de São Paulo, declarou em
entrevista ao programa da socialite Val Marchiori que não se deve doar marmitas
para moradores de rua porque “as pessoas gostam de ficar na rua” e elas “têm
que se conscientizar e sair dessa situação”. O encontro foi gravado no Palácio
dos Bandeirantes, sede do governo estadual, e publicado em uma rede social na
noite de quinta-feira. De acordo com a prefeitura da capital, a pandemia de
coronavírus matou 28 sem-teto. No vídeo, elas dizem que os moradores de rua
“não querem ter responsabilidades”. Mais tarde, Bia disse que tiraram a frase
de contexto e se desculpou. Fonte: DP
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