A Organização Mundial de Saúde (OMS)
suspendeu nesta segunda-feira (25) o uso da hidroxicloroquina em pesquisas que
ela coordenava com cientistas de 100 países.
A suspensão temporária foi tomada até que a segurança da
droga seja reavaliada, já que estudos recentes mostraram que ela não é eficaz
contra a Covid-19 e
pode aumentar a taxa de mortalidade.
A OMS diz que estão mantidos os demais testes dentro da
iniciativa internacional batizada de "Solidariedade". Além do
medicamento agora vetado, os pesquisadores ainda avaliam em pacientes o
resultados de três tipos de antivirais e de um remédio usado para tratar
esclerose múltipla (leia mais abaixo).
De acordo com a cientista-chefe da OMS, Soumya
Swaminathan, a cloroquina não é usada nos testes da iniciativa Solidariedade.
Tanto a cloroquina quanto a hidroxicloroquina usam o mesmo princípio ativo, mas
a cloroquina é considerada potencialmente mais tóxica. A hidroxicloroquina,
composta por uma versão "atenuada" da substância, é considerada mais
segura e é usada em tratamentos de longo prazo.
OMS interrompe testes clínicos com hidroxicloroquina
O diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus,
afirmou que a suspensão foi determinada depois da divulgação dos resultados
do estudo
publicado na sexta-feira (22) na revista científica "The Lancet".
A pesquisa, feita com 96 mil pessoas, apontou que não houve eficácia das
substâncias contra a Covid-19 e detectou risco de arritmia cardíaca nos
pacientes que as utilizaram.
A OMS já havia anunciado que era contra o uso amplo da
cloroquina para tratar a Covid-19. Quando o Brasil passou a orientar que
pacientes com quadros leves pudessem usar o medicamento, os diretores da
entidade ressaltaram que a droga
só deveria ser usada dentro de "ensaios clínicos", que são os
testes dentro de pesquisas médicas.
"Os autores reportaram que, entre pacientes com
Covid-19 usando a droga, sozinha ou com um macrolídeo [classe de antibióticos
da qual a azitromicina faz parte], estimaram uma maior taxa de
mortalidade", afirmou Tedros.
A OMS afirmou que o quadro executivo do Solidariedade vai
analisar dados disponíveis globalmente sobre as drogas, que são usadas para
tratar malária e doenças autoimunes.
"Eu quero reiterar que essas drogas (cloroquina e
hidroxicloroquina) são aceitas como geralmente seguras para uso em pacientes
com doenças autoimunes ou malária", destacou Tedros.
Tedros afirmou, ainda, que os outros testes dos ensaios
Solidariedade vão continuar (veja detalhes abaixo) – a suspensão refere-se
apenas às pesquisas com a cloroquina e a hidroxicloroquina.
Ensaios Solidariedade
Os ensaios Solidariedade foram anunciados por Tedros em
18 de março. Vários hospitais, no mundo inteiro, fazem parte da iniciativa.
Segundo a entidade, nesta segunda-feira (25) havia 35 países recrutando
pacientes para estudos em mais de 400 hospitais ao redor do mundo.
Segundo a OMS, a iniciativa pode diminuir em 80% o tempo
necessário para ensaios clínicos, que geralmente levam anos para serem
desenhados e conduzidos.
Qualquer adulto com Covid-19 que seja internado em um
hospital participante pode fazer parte das pesquisas. Os pacientes são
distribuídos, de forma aleatória por um computador, entre 5 opções de
tratamento:
Um grupo de pacientes recebe apenas a forma de
tratamento padrão do local onde está.
O segundo grupo recebe essa forma de tratamento + o
antiviral remdesivir,
que já foi testado para o ebola e teve resultados promissores contra a Sars e a
Mers, também causadas por vírus da família corona (como o Sars-CoV-2,
o novo coronavírus).
O terceiro grupo recebe o tratamento padrão + a
cloroquina ou hidroxicloroquina (esse foi o "braço" suspenso da
pesquisa).
O quarto grupo recebe o tratamento padrão + os antivirais
lopinavir e ritonavir, usados para tratar HIV. Ainda não há evidências de que
sejam eficazes no tratamento ou prevenção da Covid-19, segundo a OMS.
O quinto grupo recebe o tratamento padrão + interferon
beta-1a, usado para tratar esclerose múltipla.
Antes do "sorteio" do tratamento, o paciente é
avaliado por uma equipe médica para descartar medicamentos que definitivamente
não poderiam ser dados a ele.
No Brasil, os ensaios do Solidariedade são coordenados
pela Fiocruz.
Cloroquina e hidroxicloroquina no Brasil
Mesmo sem evidências científicas que comprovem a eficácia
dos medicamentos contra a Covid-19, o Ministério da Saúde divulgou,
na semana passada, um documento com orientações para uso da cloroquina.
A droga foi motivo de discórdia entre dois ex-ministros
da Saúde e o presidente Jair Bolsonaro.
Tanto Luiz Henrique Mandetta quanto Nelson Teich, ambos médicos, alertaram para
os efeitos colaterais dos remédios, mas, mesmo assim, Bolsonaro defendeu o uso
deles contra a Covid-19.
Após Teich alertar sobre risco da cloroquina, Bolsonaro
defende o uso do remédio
Mandetta
foi demitido; Teich pediu
demissão menos de um mês após assumir o cargo. Além da questão da
cloroquina, os
dois ex-ministros divergiram do presidente quanto ao isolamento social.
Logo após a divulgação do documento pelo governo
brasileiro, que recomendava o uso dos remédios contra a Covid-19, especialistas
brasileiros emitiram
notas contra a decisão.
A própria OMS e a Opas, braço da organização nas
Américas, também reafirmaram
que não recomendam nem a cloroquina nem a hidroxicloroquina para
tratar a Covid-19 fora
de ensaios clínicos.
Fonte: G1
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