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Alexandre Farias volta a Caruaru pela primeira vez após tiro: 'A vida venceu'


O jornalista Alexandre Farias esteve em Caruaru nesta sexta-feira (22) pela primeira vez após ser atingido por uma bala perdida em setembro de 2017. Ele visitou a TV Asa Branca e foi entrevistado pelo apresentador Almir Vilanova no AB1. 

Alexandre Farias foi apresentador do AB2 por mais de dois anos e foi atingido na cabeça por uma bala perdida quando voltava para casa no bairro Alto do Moura, após apresentar o jornal. Ele passou oito meses internado no Hospital Esperança e segue em recuperação no Recife.

Confira a entrevista com Alexandre Farias:
Antes de chegar na redação, quando você foi vendo Caruaru pela janela do carro, o que foi passando na cabeça?
Essa cidade desde o momento em que vim morar aqui, me abraçou. Eu passei esse tempo longe diante dos fatos. Foi uma expectativa muito grande. Eu fiz uma contagem regressiva, eu vinha contando os dias. E chegou o dia. Estou muito feliz por estar aqui, de volta a TV Asa Branca, por encontrar meus amigos do trabalho, por estar dentro deste estúdio mais uma vez. O estúdio foi um dos últimos lugares onde estive antes de levar o tiro na testa. Estou muito feliz de estar aqui, conversando com meu telespectador, estar diante das câmeras, nesse estúdio, isso é muito bom. Em nenhum momento senti tristeza ou aperto no coração em voltar a Caruaru, o que tem guardado aqui dentro são os momentos bons, as coisas boas que essa cidade tem me dado. Uma dessas coisas, que tem trazido bons resultados, são as orações. Várias pessoas, várias igrejas, pessoas sozinhas em casa, se mobilizaram para orar pela minha vida. A vida venceu. Aqui estou eu, graças a Deus.


Você que está voltando ao estúdio hoje. E foi aqui que você esteve no dia do acidente. Você lembra que trabalhou, que foi ao supermercado, lembra do trajeto todo?
Lembro só até o estúdio, só jornal. Lembro do dia na redação, do plantão de sábado preparando tudo. Tive contato agora com o espelho, com as matérias que foram exibidas no dia. Lembrei de alguns flashes do dia, da edição pude relembrar agora. O fato de ir pra casa, do barulho do tiro, nada disso eu lembro.


No hospital, você lembra dos primeiros instantes quando foi retomando a consciência?
Lembro de uma voz de mulher dizendo: “Alexandre?”. Eu respirei, mas não respondi. Depois ela disse: “Abra vagarosamente seus olhos”. Aí eu fui abrindo. Paralelamente, eu escutava os aparelhos ligados. Isso foi aproximadamente dez meses após o fato. Aí fui abrindo meus olhos, foi entrando a claridade, mas eu não sabia de nada, não parava para associar onde eu estava. Nada disso vinha a minha cabeça. Quando abri os olhos, vi um monte de gente na sala. A mesma voz que tinha dado o comando para abrir os olhos, se identificou. “Eu sou Fulana e essa é a equipe médica”. 

Depois gritaram: “Deu tudo certo”. Eu ouvi, não tinha afetado minha audição, eu obedeci quando ela mandou abrir os olhos. Então, a questão cognitiva estava funcionando. Todos os comandos dados por ela eu reagia. Todos vibraram de alegria comigo, isso no Hospital Esperança do Recife. Eu nenhum momento me perguntei o que estava acontecendo comigo. Mas aí o meu irmão me colocou no canto e disse: “Alexandre, há dez meses você foi atingido com um tiro na cabeça. Não coloque a mão na testa, você não pode ainda. Estamos no Hospital Esperança no Recife. Faz dez meses que tudo isso acontece. Você estava perto de casa, no Alto do Moura”. A partir daí começou o trabalho de recuperação, de fisioterapia, de fonoterapia, de psicólogos, um batalhão de trabalho.


Qual foi o sentimento que ficou em você em relação a pessoa que efetuou o disparo? 
Se eu tivesse a oportunidade de estar na frente dela, eu diria que ela está perdoada. Desde o primeiro instante me veio na cabeça que ela não sabe o que fez, o mal que causou. Está perdoada.


Esse perdão ele deve ser um exercício nosso no cotidiano?
No dia a dia. Esse perdão me traz uma paz tão grande. Uma paz que talvez a pessoa que deu o tiro não tenha. Eu tenho e deito todos os dias com uma paz imensa.


Foram muitas as manifestações, correntes de oração, muita gente com uma demonstração de fé e transferindo essa fé para a sua recuperação. Como você recebe isso?
Eu não tenho outra palavra que defina o que aconteceu comigo a não ser a palavra milagre. Muitas pessoas quando chegam perto de mim sentem algo diferente, uma paz, uma obra do divino.


Como você pensou em elaborar essa palestra?
As pessoas na minha casa, quando foram me visitar, começaram a dizer a mesma coisa: “Eu vim trazer paz, força, mas saio mais fortalecido”. Percebi que várias pessoas tinham a mesma percepção. Por isso pensei em tornar isso mais amplo. Aí veio a ideia da palestra. O título “A Vida Venceu” quem deu foi Silvério Pessoa, o cantor e compositor. Ao ligar para o meu irmão, ao ir no hospital, dizia: “A Vida Venceu”. Isso me lembra muito Silvério e achei fantástico. A obra não está concluída por que não estou andando ainda. Mas vai ser concluída em nome de Deus. A vida venceu.


Você além de jornalista, é ator também. Não haveria lugar mais propício do que o palco do teatro do Sesc, né?
Foi um presente imenso. Quando se falou na palestra, eu pensei em primeiro momento no Sesc. Surgiram outras ideias, outros locais. Mas o Sesc é fantástico, aquele palco é muito aconchegante. A estrutura é maravilhosa. Eu me sinto bem, em casa, como aqui com vocês.


Você que a gente se prepara quando vai fazer uma entrevista. Eu me preparei muito pra esse momento. Até ontem eu tava muito preocupado em relação a minha própria reação diante da sua chegada. Mas, quando você chegou com o punho erguido e dando aquele grito, tudo se transformou em alegria. 

No meu coração também. Você não sabe a alegria no meu coração como tá grande. Na estrada, de cantar, agradecer a Deus, rever meus amigos, me sentir em casa de novo. Tudo maravilhoso.

Fonte: G1 Caruaru