O governador e o filantropo
Há dez anos, Eike Batista
fez sua estreia como alvo da Polícia Federal. O empresário teve a casa
vasculhada na Operação Toque de Midas. Era suspeito de se beneficiar de fraudes
na licitação de uma ferrovia no Amapá.
Eike contratou o ex-ministro
Márcio Thomaz Bastos, que era considerado o advogado mais caro do país. Mas seu
principal defensor foi Sérgio Cabral. Dias depois da batida da PF, o governador
abriu o Palácio Guanabara para homenageá-lo.
“Vá em frente. Os teus
negócios são maravilhosos. Você é um homem limpo”, desmanchou-se. “Você anda de
cabeça erguida na rua porque você é um brasileiro extraordinário, um carioca
extraordinário”.
Empolgado, Cabral citou Max
Weber, Nelson Rodrigues e Tom Jobim para exaltar as virtudes de Eike. “Você é o
anti-complexo de vira-latas”, festejou. “É um filantropo”, prosseguiu. “É um
exemplo para nós. Um orgulho para o Rio de Janeiro”, arrematou. O empresário
ficou tão sensibilizado que chorou diante dos fotógrafos.
Ontem o juiz Marcelo Bretas
condenou Cabral e Eike por corrupção e lavagem de dinheiro. O ex-governador
pegou mais 22 anos de cadeia. O ex-bilionário foi sentenciado a 30. Ele já
passou três meses preso, mas foi libertado por Gilmar Mendes.
Em 119 páginas, a sentença
descreve uma longa relação de promiscuidade, troca de favores e “comércio da
função pública”. Na transação mais explícita, Eike depositou US$ 16,5 milhões
numa das contas que escondiam a fortuna de Cabral no exterior.
O empresário também
patrocinou campanhas, bancou mordomias e manteve um jatinho à disposição do
político. Uma única viagem às Bahamas custou mais de R$ 600 mil, conta Malu
Gaspar no livro “Tudo ou Nada”. O roteiro incluiu idas e vindas para buscar
governador, primeira-dama, crianças e babás.
O filantropo tinha interesses
bem materiais. Queria garantir influência, liberar licenças e agilizar os
empreendimentos no estado. Cabral se comportava como um despachante de luxo, e
usava a máquina oficial para facilitar os negócios do amigo.
A relação era tão
escancarada que o governador se sentia à vontade para fazer piadas em público.
“Vamos anunciar nos próximos dias que o Vasco da Gama passa a se chamar Vasco
X”, disse, na cerimônia de 2008. Por um bom dinheiro, ele venderia até o seu
time de coração. Fonte: Blog do Magno Martins