Professor da Universidade de Exeter, no Reino Unido e
autor de estudos sobre fake news e fact checking (checagem de informações),
Jason Reifler foi um dos palestrantes do 13º Congresso Internacional de
Jornalismo Investigativo promovido pela Abraji, que começou nesta quinta-feira
(28) e termina no sábado (30) em São Paulo. Ao jornal O Estado de S. Paulo, ele
disse que talvez haja um certo exagero em torno das fake news, e que devemos
nos preocupar mais com a desinformação espalhada por políticos em época
eleitoral. Abaixo os principais trechos da entrevista:
No Brasil, muitos projetos de lei foram propostos no
Congresso para combater as fake news. O senhor acha que é eficaz?
Acho que toda vez que o governo começa a entrar na área
de regulamentar ou restringir o discurso político, acendem alertas. Embora as
notícias falsas sejam um problema, a capacidade do governo de usar de maneira
errada o poder de regular as chamadas fake news é grande o suficiente para que
eu não apoie automaticamente esse tipo de iniciativa. Nas mãos erradas, é um
poder que pode ser usado para restringir discurso legítimo, em vez de apenas
impedir o discurso ilegítimo. Além disso, alguns puristas da liberdade de
expressão podem dizer que até mesmo o discurso incorreto deve ser
protegido.
Recentemente, o presidente do TSE disse que pode anular
as eleições se o resultado for influenciado por fake news. Estamos criando
pânico ao dar importância demais às notícias falsas?
De alguma forma, provavelmente estamos. Primeiro, seria
muito difícil mostrar que as fake news tiveram impacto direto no resultado das
eleições. Não seria impossível, mas difícil. E se estamos pensando em manter a
democracia e as instituições, uma ameaça de cancelar as eleições é algo
inerentemente problemático particularmente em um País que não tem uma tradição
democrática tão longa.
Por que estamos exagerando?
Tenho trabalhado com fake news desde as eleições de 2016
com meus parceiros Andy Glass e Brendan Nyhan. Inicialmente, tínhamos o mesmo
nível de pânico e preocupação que muitos outros tinham. Mas, ao olhar mais
cuidadosamente, pudemos ver que as notícias falsas são uma parte relativamente
pequena do consumo de notícias geral da maioria das pessoas. Estão muito
concentradas em um segmento do eleitorado, com intenções de voto provavelmente
bem estabelecidas. Não quero dizer que a desinformação não é um problema. Mas o
que vai ser muito mais problemático são as imprecisões, exageros e mentiras que
políticos que estão concorrendo a cargos nacionais podem dizer sem maiores
consequências. Isso é uma ameaça mais séria ao poder do que as informações
evidentemente falsas publicadas por pequena quantidade de sites.
O fact checking terá poder durante as eleições?
Minha pesquisa com Brendan Nyhan mostrou que o fact
checking pode ser uma ferramenta muito poderosa, mas não faz todas as mentiras
e os políticos desaparecerem. Só funciona nas margens, mas é nas margens que se
perde ou se ganha uma eleição. Se as intenções de voto estão em 51% a 49% em um
sistema bipartidário, pode causar um efeito muito profundo, mesmo que, pelas
porcentagens, o efeito pareça pequeno. Pessoas expostas ao fact checking, de
acordo com a nossa pesquisa, são mais informadas e têm crenças factuais mais
precisas. Também temos um estudo que aponta que, quando políticos estão cientes
de que estão sendo checados, eles são lembrados de podem ser visto como alguém
que não fala a verdade. Pode representar uma ameaça à reputação.
Fact checking brasileiras foram atacadas por
conservadores. Como isso influencia na percepção de notícias falsas?
É um problema, acontece o mesmo nos Estados Unidos. É uma
clara tentativa de tentar desacreditar a fonte para desacreditar a mensagem. É
só um dos problemas que o fact checking vai enfrentar. Cabe aos checadores ter
certeza que estão suficientemente embasados e cientes de seus próprios vieses
para ter certeza de que estão avaliando a veracidade de declarações de
políticos de todo o espectro ideológico. Essa é a melhor defesa: fazer fact
checking de alta qualidade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.