Num processo que envolveu
até chefes de estado, a Fifa definiu a América do Norte como sede da Copa do
Mundo de 2026. Esta é a primeira vez que o evento será disputado em um continente,
e não apenas num país. O Mundial ainda volta para o mercado norte-americano,
mais de três décadas depois da primeira Copa, em 1994.
A América do Norte ficou com
134 votos, contra apenas 65 para o Marrocos. Assim, será também a primeira vez
que um Mundial será disputado em três países ao mesmo tempo. Antes, o evento só
havia sido dividido em dois países, no Japão e na Coreia do Sul, em 2002,
quando o Brasil faturou o pentacampeonato.
A votação ocorreu na manhã
desta quarta-feira, em Moscou, durante o Congresso anual da Fifa. Os
norte-americanos usaram uma cartada que agradou a muitos na Fifa: a promessa de
uma receita recorde de US$ 15 bilhões (cerca de R$ 55 bilhões), quase três vezes
o que se obteve no Brasil em 2014.
A votação ainda cumpriu um
plano do presidente da Fifa, Gianni Infantino, que precisava levar o Mundial
para os EUA, país que o apoiou para assumir o comando da entidade em 2016. Numa
tacada só, ele retribuiu sua eleição, compensou os americanos pela derrota na
disputa pela Copa de 2022 e ainda criou um compromisso do governo dos EUA de
não atacar sua entidade.
Pelos planos da América do
Norte, um total de 17 cidades se candidataram para receber os jogos, sendo que
80% da Copa ocorrerá nos EUA, enquanto México e Canadá ficarão cada um deles
com 10% das partidas. A Copa deverá ser a primeira com 48 seleções, o que
exigirá 80 partidas, dezenas de campos de treinamento e uma infraestrutura
perfeita. Na avaliação técnica da Fifa, a candidatura norte-americana era bem
superior à marroquina.
Depois da polêmica e
suspeita de compra de votos para a Copa de 2022, a Fifa reformou seu processo
de eleição. Até agora, quem votava eram apenas os 24 membros do Comitê
Executivo da entidade - o órgão caiu em descrédito e foi substituído pelo
Conselho da Fifa. Desta vez, as 209 federações votaram e o resultado foi
publicado.
Marrocos, em sua última
apresentação diante dos eleitores, tentou insistir no aspecto emocional,
alertando que a decisão não pode ser apenas financeira. Um dos ministros
marroquinos também acompanhou a delegação, dando garantias financeiras. Mas ele
também apontou que as armas estão proibidas no país, num ataque aos americanos.
Outra arma usada: a acusação diante dos eleitores de que um garoto americano
não saberia quem seria Maradona.
Já nos bastidores, os
marroquinos também tentaram insistir no fato de que a candidatura unida não
seria tão unida, diante da tensão hoje existente entre o presidente americano,
Donald Trump, e seus vizinhos.
Como resposta, a candidatura
americana usou um jogador canadense, que chegou como refugiado, para romper com
a imagem de racismo ou xenofobia do governo de Trump. As referências aos
imigrantes, união e solidariedade se repetiam. Brianna Pinto, jogadora
americana, fez referência à sua boa relação com atletas iranianas. Mas não
convenceu.
Os americanos também
insistiram que, pela infraestrutura que o continente dispõe, a Copa poderia
ocorrer lá a qualquer momento. "Já está tudo pronto. Não precisamos
construir nada", apontou um vídeo da candidatura. Além disso, a receita da
Copa no Marrocos seria menos da metade daquela que os americanos garantiriam.
A realidade é que a última
noite foi permeada por barganhas e tensão. Na véspera do voto, Holanda e
Luxemburgo mudaram de lado e anunciaram seu apoio ao marroquinos. Nos
bastidores, o ex-presidente da Uefa, Michel Platini, estava na campanha. O
governo da França, depois de receber promessas de que ganharia contratos em
obras no Marrocos para os novos estádios, passou a ser o principal cabo
eleitoral.
Mas as capitais e governos
também entraram na disputa. Os cartolas americanos solicitaram que Donald Trump
usasse o encontro histórico com a Coreia do Norte para pedir apoio do país
asiático à sua candidatura.
Horas antes da votação, o
presidente Vladimir Putin informou ao presidente da Fifa, Gianni Infantino, de
que apoiaria os americanos, levando consigo seus aliados.
Trump também acionou o
Conselho Nacional de Segurança para fazer pressão entre os aliados, enquanto
seu genro, Jared Kushner, convenceu os sauditas a não apoiar o país muçulmano e
se aliar aos americanos. Funcionou.
Fonte: Diario de Pernambuco