Genivaldo Dionísio, 58 anos,
e Valdemir Barbosa, o Valdé, 60 anos, são poetas populares da comunidade de
Santa Luzia, em Belo Jardim. Juntos com o tocador de cavaco Antônio Ferreira, o
Gasolina, 70 anos, formam um trio de cantadores que há mais de 30 anos anima as
festas da comunidade rural que já foi conhecida como Volta do Rio. Com poesias
autorais bem-humoradas que falam sobre o cotidiano da vida no campo, muitas
vezes flertando com o improviso, a arte deles, apesar da qualidade e
consistência, corre um sério risco de extinção: os três cantadores são
analfabetos, e não existe qualquer registro escrito sobre a suas obras.
Essa história começou a
mudar há cinco meses, quando o professor de espanhol do IFPE Campus Belo
Jardim, André Luiz Gonçalves, levou uma turma de alunos para conhecer o
Memorial Frei Damião, que fica na comunidade de Santa Luzia. Durante a visita,
aconteceu uma apresentação do trio que deixou todos os visitantes encantados.
Ao saber que os cantadores eram analfabetos, André Luiz, juntamente com as
estudantes monitoras de sua disciplina, Anne Karolyne Monteiro e Ayanne Maria
Rodrigues, decidiram fazer um trabalho de resgate visando manter a arte dos
poetas para a posteridade, através do registro e transcrição de suas obras.
Criado o projeto, as
estudantes passaram a se reunir mensalmente com o trio de cantadores em sua
própria comunidade, e um novo horizonte artístico se abriu na vida delas. “Está
sendo incrível. Eles ficam super felizes em nos receber e nós aprendemos muito
a cada encontro. Toda reunião é uma festa!”, conta Anne Karolyne. “Estamos
impressionadas com a qualidades deles e isso tem nos ajudado a valorizar cada
vez mais a cultura local”, relata Ayanne.
Para Genivaldo Dionísio, que
além de poeta é também um dos membros da centenária Associação dos
Bacamarteiros de Santa Luzia, o projeto das estudantes é motivo de orgulho para
o trio. “Não dá nem para falar sobre o tamanho da felicidade que sentimos
durante esses encontros. É muito bom se apresentar para essa geração mais nova
e ainda por cima saber que nossos versos ficarão registrados para sempre”,
disse o poeta, que ainda por cima brindou a equipe com um tiro do seu famoso
bacamarte.
Segundo as estudantes, todas
as poesias serão gravadas e transcritas até o final do ano, e nos primeiros
meses de 2018 será criado um cordel com a obra dos cantadores, que será
distribuído por toda a região de Belo Jardim. “Não vamos deixar a poesia
popular de nossa região morrer”, promete Anne Karolyne. Fonte:BJ1