Lula fez aniversário nesta sexta-feira.
Deveria ter presenteado a si mesmo com o silêncio. Mas percorre Minas Gerais em
caravana. Faz comícios diários. Seus lábios não desgrudam do microfone. Assim,
sem medo de ser patético, declarou: ''Não é aos 72 anos que vou roubar um
centavo para envergonhar milhões e milhões de pessoas que a vida inteira
confiaram em mim''.
Lula discursou num comício
na cidade de Montes Claros. Apresentou-se à plateia como um símbolo, seu papel
predileto: ''Estão tentando me destruir desde que nasci. Tentem destruir o
Lula, vocês nunca vão conseguir, porque o Lula não é o Lula, é uma síntese
daquilo que são milhões e milhões de mulheres e homens. Lula é uma idéia criada
por vocês.''
O pajé do PT, de fato, pode
se dar ao luxo de falar como símbolo. Deixou de ser qualquer um quando virou
líder sindical em plena ditadura. Perdeu eleições como símbolo, chegou ao
Planalto como símbolo, invocou a condição de símbolo para sobreviver ao mensalão
e como símbolo imaginou-se invulnerável no petrolão. Agora, responde pelo que
passou a simbolizar.
Suprema ironia: coube ao
companheiro Antonio Palocci formular a pergunta que explica por que muitos
brasileiros deixaram de respeitar os cabelos brancos do símbolo: “Até quando
vamos fingir acreditar na autoproclamação do ‘homem mais honesto do país’
enquanto os presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do Instituto
Lula são atribuídos a dona Marisa?”, indagou Palloci na carta que enviou ao PT para
se desfiliar da legenda.
Lula tornou-se um símbolo
completo. Fez-se sozinho na vida. E se desconstrói sem a ajuda de ninguém. O
símbolo discursa como se fosse uma estátua de si mesmo. E age como um pardal
que suja sua própria testa de bronze. Costuma-se dizer que Lula virou um
político como todos os outros. Bobagem. Aconteceu algo pior. Lula tornou-se um
símbolo completamente diferente de si mesmo.
Certas frases —“Não é aos 72
anos que vou roubar um centavo…”— passam a impressão de que o autor será símbolo
do cinismo até o fim. No aniversário do símbolo, um simples “parabéns” soa como
ironia. Fonte: Josias Souza