Sempre que pensamos em seca,
uma imagem vem a nossa cabeça: a do gado morto por falta de água e de comida.
Como se não bastassem os impactos social e cultural dessa dura realidade, em
Pernambuco, a maior estiagem das últimas décadas tem ultrapassado a atividade
bovina e tem atingido também a avicultura. Para se ter ideia, somos o sexto
maior produtor de ovos e de frango do País e, segundo os avicultores locais, se
a seca insistir em permanecer por aqui, é possível que a participação no
mercado nacional seja colocada em xeque e que demissões aconteçam.
Atualmente, são gerados 150
mil postos de trabalho para produzir 210 milhões de ovos e 13 milhões de
frangos, por mês. Do total produzido, 2% são destinados ao comércio exterior e
o restante abastece as regiões do País, sobretudo o Nordeste.
Presidente da Associação
Avícola em Pernambuco (Avipe), Edival Veras explica que o maior problema está
no Agreste, que concentra metade da produção do Estado. “A outra fica na Zona
da Mata. No entanto, a produção mais expressiva está em municípios como São
Bento do Una, Garanhuns, Belo Jardim, Pesqueira, Lajedo, Canhotinho e Bezerros,
onde a seca de quase seis anos consecutivos atinge gravemente”, afirma,
destacando que São Bento do Una, que possui uma das granjas mais importantes do
Brasil, está no epicentro da crise hídrica.
É lá que acontece, todos os
anos, a Corrida das Galinhas, tradicional festa do setor. Por ano, a atividade
injeta R$ 2,8 bilhões na economia do Estado.
Até agora, de acordo com
Veras, não houve demissão forte no segmento. Boa parte dos produtores locais
está absorvendo custos para evitar impacto econômico na cadeia.
“Pelo menos por enquanto,
não sabemos até quando podemos aguentar. O produtor do Agreste é quase um
super-herói para se manter”, lamenta o presidente. As aves não podem ficar sem
água por um instante sequer e o reservatório mais próximo fica a 40 quilômetros
de distância da localidade. “Como atenuante, existe um entendimento junto ao Governo
do Estado para construirmos uma adutora da Barragem de Pau Ferro, que hoje está
preenchida em sua totalidade, para São Bento do Una”, diz.
Em setembro passado,
relembra o secretário de Desenvolvimento Econômico (SDEC), Thiago Norões, foi
publicada no Diário Oficial do Estado, o extrato do contrato para execução da
implantação da Barragem de São Bento do Una.
A obra seria executada pela
Construtora Getel, mas, por problemas internos, ela deixou as obras. Agora, a
Ápia Engenharia, a segunda colocada na licitação, será convocada para erguer a
obra de R$ 54 milhões, conveniada com a União por meio do Ministério da
Integração. A conclusão permanece prevista para 2018, entretanto, a entrega
oficial deve sofrer atrasos.
Avicultor e dono da Granja
que leva seu sobrenome, Fernando Vilela conta que a situação chega a ser
vexatória. “Estamos em 2016 e faz cinco anos que não chove na região. Não há
água para abastecer os mananciais”, lamenta. Sua propriedade, que fica em São
Bento do Una, emprega 42 pessoas e, até agora, não precisou demitir.
“A estratégia é manter o que
temos, ou seja, um plantel com 100 mil aves. Porém, estou gastando mais e
diminuindo as margens de lucro. Ou seja, nem crescemos e nem geramos empregos”,
justifica. “O gasto para ter a água chega a ser de R$ 17 mil por mês,
correspondente a quase 10% da nossa planilha de custos”, calcula
A situação do também
avicultor Josimário Florêncio é mais delicada. “Para sobreviver, reduzimos em
30% a nossa capacidade produtiva e elevamos os custos em 10%, sem poder
repassar ao consumidor. Além disso, demitimos 20% do pessoal do total de 150
empregos. Eu coloquei um limite: se até março de 2017 não chover como o
esperado, vou reduzir 50% do volume total da produção”, revela. Fonte:Folha PE