Com 1.085.038 pessoas infectadas, o Brasil ultrapassou a
marca de 50 mil mortes por COVID-19. Entre sábado e ontem, foram registrados
641 novos óbitos, elevando o número para 50.617, de acordo com dados do
Ministério da Saúde. No mesmo período de 24 horas, foram adicionados 17.459 casos
às estatísticas do órgão. Para especialistas, não só o Brasil começou o
relaxamento das medidas de isolamento social no momento errado, quando a
elevação da curva ainda não foi freada, como não tomou as medidas necessárias
para evitar novos saltos. Ao mesmo tempo que prefeitos e governadores discutem
a flexibilização do isolamento social, o Brasil chega ao seu período mais
devastador do coronavírus. E novos recordes de mortes ainda podem ser batidos.
“É muito triste ver esses dados epidemiológicos do Brasil.
Mas, infelizmente, era de se esperar com uma política governamental tão
errática e, muitas vezes, contraditória, na qual o próprio presidente da
República é contra as orientações do Ministro da Saúde, quando nós ainda
tínhamos um ministro”, disse o professor da Universidade Federal de Minas
Gerais Unaí Tupinambás, que é referência em Belo Horizonte e integra o comitê
formado por infectologistas para combate ao coronavírus na capital mineira. Há
37 dias, o oncologista Nelson Teich deixou o comando do ministério – segunda
baixa no cargo em meio à pandemia do novo coronavírus. “Infelizmente, a gente
pode ainda bater novos recordes já que a taxa de letalidade não para de
aumentar”, acrescentou.
A infectologista, MBA em Gestão de Saúde e Controle de
Infecção Associada a Sistemas de Saúde e mestre em Saúde Pública pela Johns
Hopkins, Luana Araújo, classifica a situação atual como uma “tragédia”. “E não
se pode dizer que a tragédia já se encerrou. Independentemente do número bruto
de mortes, cada uma delas é um sofrimento imensurável e elas precisam ser
respeitadas e sentidas”, disse. “Infelizmente, a gente não pode dizer que vamos
parar por aí. A doença está se interiorizando, tem se espalhado rapidamente e
isso é extremamente preocupante”, acrescentou. Ela acredita que o problema está
bem longe de uma resolução.
De acordo com o Ministério da Saúde, o maior número de
casos confirmados ainda continua com o Nordeste (379.297). A Região Sudeste vem
logo em seguida, com 377.817. Centro-Oeste conta com 63.553, o Sul com 51.531 e
o Norte, com 212.940 casos confirmados. A taxa de letalidade da doença está em
4,7%.
E a interiorização do coronavírus no Brasil preocupa. Os
casos confirmados da doença aumentaram de forma significativa nas cidades-polo
dos estados nos últimos dias. O quadro se agrava com o esgotamento dos leitos
de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e a escassez de respiradores. “A
interiorização da doença preocupa por várias razões. Ela preocupa porque existe
uma subnotificação ainda maior fora das cidades polo. São locais nos quais
existe uma qualidade técnica e suporte tecnológico menor que nas capitais. Isso
dificulta o manejo do paciente grave com a COVID-19 e, quando se recorre aos
sistemas de saúde das capitais, eles estão saturados”, explica Unaí Tubinambás.
Platô?
Em 19 de maio, pela primeira vez, o Brasil registrou mais
de mil mortes por COVID-19 em 24 horas. Desde essa data, por 19 dias o país
contabilizou mais de mil óbitos. Daquele dia até ontem 32.646 pessoas perderam
a vida em decorrência da doença. Na quinta-feira, o Ministério da Saúde avaliou
que o país caminha para uma tendência de estabilização da curva de casos e
mortes em decorrência da doença. "Quando olhamos a inclinação da curva de
novos casos de COVID-19, dá a entender que estamos entrando em um platô e que a
curva se encaminha para uma estabilidade", disse, na ocasião, o secretário
de Vigilância em saúde, Arnaldo Correia de Medeiros.
Na visão do infectologista Unaí, a avaliação é precoce.
“As taxas de transmissão no Brasil inteiro estão se estabilizando em 1,05 – que
ainda é um pouco alto. Precisamos pensar com muita segurança sobre essa
flexibilização. Lembrando que, em momento nenhum, a gente fez o isolamento
social total. Vale lembrar que quando foi proposto, o presidente foi às ruas
incentivar a população a sair”. Disse.
Luana ainda ressalta que a subnotificação dificulta a avaliação
do estado real da pandemia do país. “Estamos sempre correndo atrás do vírus e
nunca conseguimos nos preparar. Se não tivermos uma abordagem bastante
agressiva com relação a testagem em massa, estaremos sempre correndo atrás do
vírus”, disse. “Dizer que o pior já passou é muito difícil. Depende da região e
do comportamento das pessoas”, acrescentou.
Quebra-cabeça nacional
Os diferentes estágios da doença país afora dificultam a
adoção de uma flexibilização das atividades econômicas como estratégia
unificada no país. “O Brasil é um país continental, temos disparidades muito
grandes em termos de comportamento de pandemia a depender da região. Por
exemplo, Amazonas, nas três últimas semanas, estava um caos. Agora, registra
uma certa queda do número de pacientes já confirmados e suspeitos. Por outro
lado, você tem o estado do Mato Grosso que, há três semanas, tinha um número de
casos bastante modesto. Mas agora vem enfrentando um aumento explosivo”,
explica a nfectologista, MBA em Gestão de Saúde e Controle de Infecção
Associada a Sistemas de Saúde e mestre em Saúde Pública pela Johns Hopkins,
Luana Araújo.
“Manaus parece que atingiu o seu nível mais baixo e está
mais tranquilo no momento. Mas há estudos mostrando que pode ter a segunda onda
de contaminação na segunda quinzena de julho”, completa o infectologista Unaí
Tupinambás. De acordo com o boletim epidemiológico divulgado ontem pelo
Ministério da Saúde, a cidade tinha 25.103 casos e 1.711 mortos. Em 24 horas,
foram 125 novos casos e oito mortes.
“Rio de Janeiro e São Paulo mostram redução de casos mais
graves, principalmente, nas últimas duas semanas. Isso é uma notícia boa,
claro, mas a preocupação agora é com o que vem pela frente”, disse Luana. Mesmo
com a redução, São Paulo e Rio de Janeiro seguem como os estados com números
mais altos de incidência da doença no país. Com mais 949 registros de casos nas
últimas 24 horas, São Paulo alcançou ontem 106.540 confirmações de infecção
pelo novo coronavírus. O número de óbitos chegou a 6.387, com 16 mortes a mais
do que sábado. Já o Rio de Janeiro registrou 8.875 mortes por COVID-19 em 24
horas – 51 óbitos a mais. No estado, 96.133 pessoas já testaram positivo para a
doença. Fonte: DP
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