Por Hylda Cavalcanti – Jornal de Brasília
O presidente da Câmara dos Deputados, deputado Rodrigo
Maia (DEM-RJ), afirmou na noite desta quinta-feira (21) que se contrair a
covid-19 e Jair Bolsonaro lhe recomendar tomar cloroquina ele não tomará, pois
“ninguém no país deve prescrever qualquer medicamento para os outros se não for
médico”. Maia não seguiu adiante no comentário, feito horas após uma reunião
com Bolsonaro e os governadores e tida como harmônica. De forma mais
descontraída que de costume, ele disse que a crítica construtiva ao governo é
importante, que muitas vezes se sentiu desconfortável em relação ao presidente
e que a culpa do ativismo judicial, tão criticada por parlamentares e
integrantes do Executivo, é culpa dos próprios políticos que anos atrás
procuraram muito os tribunais para impedir a tramitação de projetos e atos do
governo.
A entrevista de Maia foi concedida pela internet, numa
live, ao jornalista Magno Martins, e acompanhada por vários jornalistas –
inclusive a repórter do Jornal de Brasília. O presidente da Câmara também
defendeu a importância de as eleições serem adiadas por poucos meses para que
os mandatos dos atuais prefeitos e vereadores não sejam prorrogados. Disse,
ainda, que considera o seu partido, o DEM, muito diferente do Centrão e contou,
de maneira diplomática, mas mantendo o tom de sempre, detalhes sobre suas
divergências com o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Rodrigo Maia só tentou desconversar uma única vez: quando
perguntado sobre o motivo pelo qual não autoriza a abertura do pedido de
impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Além das mais de 30 solicitações
sobre o tema já protocoladas, nesta quinta-feira (21) um pedido coletivo foi
entregue à Câmara por parlamentares de vários partidos e cerca de 400 entidades
da sociedade civil organizada.
“Não posso falar sobre esse tema porque como presidente
da Câmara terei de atuar na questão como um juiz”, afirmou, tentando mudar de
assunto. Quando a pergunta foi repetida em relação à possibilidade de um futuro
pedido da Procuradoria-Geral da República de impeachment, a partir do inquérito
que foi aberto para apurar interferência do presidente nas atuações da Polícia
Federal, ele desconversou ainda mais. Disse que “aí se trata de outra questão”.
“Nesse caso vou ter de instalar o processo atendendo à
ordem da PGR, mas são situações diferentes”, argumentou, sem maiores
explicações sobre se vai considerar ou não os pedidos que estão na sua mesa
desde o ano passado.
Momentos difíceis
Rodrigo Maia afirmou que já teve momentos difíceis com
Bolsonaro e outros momentos mais amenos na relação com o presidente. Acha que
boa parte dos problemas têm sido provocados por notícias falsas que circulam
nos gabinetes do Palácio do Planalto e do Congresso que são levados ao
presidente. E também, por fake news noticiadas diariamente nas mídias sociais.
“Lamento que isto esteja acontecendo num momento em que
precisamos de união para trabalhar pelo país e ajudar as pessoas a se
prevenirem dessa pandemia”, afirmou. Maia ressaltou que considera o
exacerbamento observado nas redes sociais tão grave nos grupos de extrema
direita como também nos de extrema esquerda. “O próprio presidente é bastante
duro em vários posicionamentos, principalmente nas redes sociais e isso não é
bom. Toda ação leva a uma reação”, opinou.
O presidente da Câmara lembrou, ao falar sobre a confusão
entre Executivo e Judiciário por conta da decisão do ministro Alexandre de
Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de impedir a posse de Alexandre
Ramagem na Polícia Federal, o caso do ex-presidente Lula.
“É engraçado. O que o Supremo fez foi o mesmo que já
aconteceu no período da posse do ex-presidente Lula, que terminou não podendo
assumir um ministério no governo Dilma Rousseff. E na época muita gente que
está reclamando agora, achou bom”, frisou.
Em outro momento em que demonstrou desconforto, Maia foi
contundente ao afirmar que seu partido o DEM, não tem semelhanças com o
Centrão, que está fazendo articulações com o governo para aumentar a base
aliada de Bolsonaro no Congresso.
DEM e Centrão
“O DEM não é o Centrão. Com todo o respeito aos partidos
que fazem o bloco, mas o Centrão costuma se articular por troca de cargos e nós
não, tanto é que não participamos de todos os governos. Temos uma atitude
programática e nunca fizemos parte dos governos de Lula, de Dilma e nem deste
do presidente Bolsonaro. Participamos, sim, dos governos de Fernando Henrique
Cardoso (FHC) e de Temer”, pontuou.
Quando indagado sobre os ministros do DEM no governo,
Maia afirmou que estes foram indicados por iniciativa própria de Bolsonaro
levando em conta interesse pessoal dele em tê-los na equipe – até mesmo o
ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (demitido no último mês).
E que os cargos ocupados por estes integrantes do DEM
nunca foram computados como uma vaga ocupada pela legenda no atual Executivo.
São estes, além de Mandetta, Onix Lorenzoni (ex-ministro da Casa Civil, hoje
titular do Ministério da Cidadania), a ministra Tereza Cristina, da Agricultura,
e o ex-ministro Osmar Terra, ex-titular da Cidadania.
Eleições
Rodrigo Maia aguarda a decisão do grupo que avalia a
possibilidade de adiamento das eleições, mas adiantou ser favorável a que o
pleito aconteça ainda este ano, para que os mandatos não sejam prorrogados.
“Vamos tentar ver uma data adequada, mas o adiamento para 2021 só em última
hipótese. Esperamos que, a partir de agosto, as coisas estejam melhores em
relação à pandemia”, frisou.
“Estamos estudando a solução que vários países adotaram
para realizar eleições nesta situação que estamos enfrentando. Nossa posição é
que, prorrogando os mandatos, abriremos uma brecha para que no futuro,
governantes que estejam com problemas para se reeleger arranjem algum pretexto
para conseguirem ter seus mandatos adiados. Isso depõe contra a democracia do
país”, disse.
O deputado falou de forma elegante sobre as divergências
que teve com o ministro da Economia, Paulo Guedes, quando chegou a dizer, numa
entrevista, que Guedes não era “um homem sério” e, sem citar explicitamente as
palavras, manteve a existência das divergências.
Segundo ele, tudo aconteceu por conta do projeto de
socorro aos estados e municípios com a pandemia e a votação da matéria – cujo
conteúdo foi alterado na Câmara, mudado no Senado e o texto terminou sendo
sancionado da forma como a Câmara queira inicialmente – mostrou que a intenção
dele e dos parlamentares estava correta. “Mas o momento é de focarmos em ajudar
o país e a população para combatermos esta pandemia”, reiterou.
Fonte: Blog do Magno
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