O Brasil está emergindo rapidamente como uma
nova área quente global da pandemia de coronavírus, atrás apenas
dos EUA em mortes diárias, que em média é de 2 mil. O país
registrou 751 mortes nesta sexta-feira, ultrapassando o número diário
de mortos no Reino Unido, que foi de 626.
O número de infecções quase triplicou nas últimas duas
semanas para mais de 145 mil, deixando 9.897 mortos. As autoridades
de saúde dizem que os números são provavelmente mais altos, já que a falta de
testes causa uma subnotificação de casos e mortes, que não entram na contagem
oficial. As mortes em casa subiram 10% em comparação com o ano passado.
O agravamento da crise da saúde, após mais de um mês de
ordens de quarentena e bloqueio pouco respeitadas pela população, levou
governadores e prefeitos a aumentar as restrições para tentar impedir a
propagação da doença. São Paulo, que representa cerca de um terço do PIB
do Brasil e é o mais atingido pela pandemia, prolongou a quarentena até 31
de maio, em meio ao que o governador João Doria chamou de "devastador". As
cidades nas regiões mais pobres do Norte e Nordeste, com sistemas de saúde que
já estavam sobrecarregados antes da pandemia, implementaram bloqueios ainda
mais severos.
Ao mesmo tempo, o esforço para reabrir a maior economia
da América Latina ganhou força. Com cerca de 25% da população em situação
de pobreza, muitos não podem se dar ao luxo de não trabalhar e viver em locais
apertados que tornam quase impossível o distanciamento social. Os
primeiros sinais do impacto da pandemia em uma economia já anêmica mostram um
quadro terrível: a produção industrial afundou 9% em março e a produção de
veículos em abril foi a mais baixa desde 1957. As previsões mostram contração
do PIB em até 7% este ano.
Na quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro e vários
membros do gabinete fizeram uma visita não programada ao Supremo Tribunal Federal (STF) em
um pedido para facilitar as medidas de restrição. O presidente muitas
vezes desconsidera o isolamento social, misturando-se com apoiadores, chamando
o vírus de "gripezinha" e alertando para o
impacto da crise econômica à frente se as pessoas não voltarem ao
trabalho. Várias regiões já o fizeram. Os estados de Santa Catarina e do Mato Grosso do Sul estão reabrindo
shoppings, academias e igrejas.
Não há consenso ou diretrizes nacionais sobre como
retornar aos negócios. O ministro da Saúde, Nelson Teich, evitou uma
posição firme sobre o distanciamento social — uma fonte frequente de confrontos
entre Bolsonaro e seu ex-ministro da Saúde, que ele demitiu em abril —, muitas
vezes dizendo que não é uma questão política nem um assunto "a favor ou
contra" . Ele disse nesta semana que o ministério pode recomendar bloqueios em áreas específicas,
mas ainda não emitiu nenhuma orientação específica.
Teich disse no final de abril que os dados mostraram que
a situação do Brasil estava piorando, mas tentar identificar o pico era um jogo
de adivinhação.
— Você me pergunta quando chegaremos ao pico. Eu não
sei, e ninguém sabe. Podemos projetar datas, mas são apenas suposições —
disse ele.
Fonte: G1
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