Com equipes na linha de frente de combate ao novo
coronavírus, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192)
Metropolitano do Recife já realizou a testagem para covid-19 de 101
profissionais (entre médicos, enfermeiros, socorristas e condutores de
ambulância) que apresentaram sintomas sugestivos da infecção. Entre eles, 43
tiveram resultado laboratorial positivo. Desse universo de casos confirmados,
três precisaram ser encaminhados para internamento hospitalar por apresentarem
quadro que inspira cuidados especializados.
Outros 55 profissionais do Samu Recife que estão com
suspeita de covid-19 aguardam resultado dos exames, permanecem afastados de
suas atividades e em isolamento social. Ao todo, 98 profissionais estão
afastados do serviço por confirmação ou suspeita da infecção. Até agora, só
três tiveram resultado negativo para o novo coronavírus.
Dessa maneira, a Secretaria de Saúde do Recife (Sesau)
reconhece a necessidade de se fazer reposição dos profissionais afastados e
informou que está realizando plantões extras, além de ter convocado cerca de
100 médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem de seleções simplificadas
para atuarem no serviço e ajudarem na manutenção das escalas.
Os profissionais que testam negativo, que se apresentam
clinicamente bem e sem sintomas podem retornar imediatamente ao serviço, assim
como aqueles que testam positivo e não apresentam mais nenhum sintoma da doença
após 14 dias de isolamento.
Em nota, a Sesau esclarece também que adota medidas para
minimizar os riscos de contaminação dos profissionais. Entre elas, está a
utilização de quatro escolas municipais como bases de atendimento
descentralizadas para evitar a aglomeração de profissionais em um mesmo posto e
a sanitização das ambulâncias e espaços de áreas comuns na central de
atendimento. "É importante salientar que muitos profissionais atuam em
outras unidades de saúde, e não apenas no Samu, o que aumenta os riscos de
contaminação", diz a Sesau.
A Sesau reforçou ainda que, desde janeiro, realiza a
capacitação dos profissionais de saúde da rede municipal para que estejam
alinhados com o protocolo de manejo clínico dos pacientes com suspeita ou
confirmação de covid-19. O Samu Recife ainda disponibiliza aos seus
profissionais todos os equipamentos de proteção individual necessários para
atendimento das ocorrências, bem como treinamento adequado para paramentação e
desparamentação dos mesmos, de acordo com os protocolos da Anvisa.
Depoimento
No último dia 5, em entrevista a Cinthya Leite, titular
da coluna Saúde e Bem-Estar, do JC, o médico Leonardo Gomes, diretor-geral do
Samu Metropolitano do Recife, falou sobre o papel do serviço no enfrentamento à
covid-19. Confira:
"Profissionalmente esta pandemia é o meu maior
desafio. Até a covid-19 chegar, achávamos que a nossa maior missão tinha sido a
Copa do Mundo (em 2014), que teve São Lourenço da Mata (Grande Recife) como uma
das cidades-sede. Montamos quase uma operação de guerra, com hospital de
campanha e equipes capacitadas para atuar em acidentes. Então, esse time que
está hoje no enfrentamento ao novo coronavírus já tinha recebido treinamento lá
atrás para atuar numa situação como a atual. Os nossos equipamentos de proteção
individual já existiam antes de recebermos o primeiro caso suspeito de covid-19
(em 25 de fevereiro), uma mulher que estava em avião que pousou no Recife. Não
posso dizer que estamos confortáveis. Sabemos da realidade exposta e que o
serviço de saúde pode colapsar a qualquer momento. É difícil, e há uma
mobilização de todo o Samu para ofertar o que for preciso. Somos um time de
aproximadamente 700 profissionais. Eu preciso primeiramente manter o
autocontrole diante de tudo que está acontecendo para coordenar as pessoas que
também estão vivendo isso pela primeira vez. Acredito que viveremos um momento
pós-pandemia pior do que a pandemia. Síndrome de burnout e demais transtornos
psiquiátricos poderão surgir. É como se agora a gente abrisse feridas que só
vão doer lá na frente”, disse o cirurgião-geral e urologista Leonardo Gomes, 41
anos, diretor-geral do Samu Metropolitano do Recife.
Do Ne10 Por Cinthya Leite
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