O ministro da saúde, Henrique Mandetta, mudou neste
sábado (28) o tom novamente de suas declarações sobre isolamento social. Na
terça-feira (24), ele tinha
ajustado o seu discurso ao do presidente Jair Bolsonaro, contrário a
um isolamento mais geral e favorável ao isolamento apenas de idosos e pessoas
de 60 anos e mais.
Neste sábado, Mandetta foi mais enfático na defesa de que
as pessoas que podem devem ficar em casa. Ele justificou sua defesa de que as
pessoas devem permanecer em casa para que o sistema de saúde não se
sobrecarregue, aumentando a letalidade da Covid 19 por falta de leitos e de
UTI.
Ele disse que o fato de as pessoas estarem em casa já fez
o número de internados por acidentes de trânsito diminuir, o que libera espaço
para os que precisam se tratar da Covid:
" Mais uma razão pra gente diminuir bastante a
atividade de circulação de pessoas no intuito de diminuir o trauma, que é um
efeito também secundário, benefico, além do efeito de diminuir a
transmissão", ele disse.
O ministro afirmou: "Mais uma razão pra gente ficar
em casa, parado, até que a gente consiga colocar os equipamentos na mão dos
profissionais que precisam. Porque se a gente sair andando todo mundo de uma
vez vai faltar pro rico, pro pobre, pro dono da empresa, pro dono do botequim,
pro dono de todo mundo".
Critérios técnicos
Mandetta disse que vai se pautar por critérios técnicos e
pela ciência:
"Nós precisamos ter racionalidade e não nos mover
por impulso neste momento. Nós vamos nos mover, como eu disse desde o
princípio, vamos nos mover pela ciência e pela parte técnica, com planejamento.
Pensando em todos os cenários quando a gente fala de colapso, de sobrecarga, ou
de sobreuso no sistema, a gente tá falando disso. Não só de sobrecarga na saúde
mas por exemplo na logística."
Desafio inédito
O ministro da saúde enfatizou que o desafio do novo
coronavírus é inédito no mundo. E que a doença ataca a saúde, a economia e a
sociedade como um todo. E que por esse motivo exige toda a cautela:
"E aí eu volto a repetir: muitas vezes... Hoje está
cheio de professor de epidemiologia, cheio de fazedores de conta, de cálculos.
Preste atenção: essa epidemia é totalmente diferente da H1N1."
"Não há receita de bolo. Quem raciocinar pensando:
nesta aqui foi assim, vai errar feio. Essa não é assim. Essa causou não uma
letalidade pro indivíduo, não é esse o nosso problema. Nem daqueles que falam
assim: ah essa doença vai matar só 5 mil, só 10 mil. Não é essa a conta",
ele disse.
"A conta é: esse vírus ele ataca o sistema de saúde
e ataca o sistema da sociedade como um todo. Ele ataca logística, ele ataca
educação, ele ataca economia, ele ataca uma série de estruturas, no
mundo."
Setores essenciais
O ministro da saúde descartou nesse momento a discussão
sobre quarentena
vertical - só de idosos - ou horizontal, que pega todas as idades.
Ele disse que o que não pode haver é uma parada de todos,
em todo o Brasil. Um discurso compatível com o que vem sendo praticado: fica em
casa quem pode para que os trabalhadores de setores essenciais possam
trabalhar, entre eles aquele que abastecem as cidades de alimentos e outros
insumos:
"Não existe quarentena vertical, horizontal. Existe
a necessidade de arbitrar em determinado tempo qual o grau de retenção que uma
sociedadade deve fazer", disse o ministro.
"O lockdown - parada absoluta ou total -, pode vir a
ser necessário, em algum momento, em alguma cidade. O que não existe é um
lockdown ao mesmo tempo, desarticulado. Isso é um desastre que vai causar muito
problema pra nós da saúde", ele afirmou.
Articulação
O ministro disse que, enquanto um acordo nacional não
sai, os governadores devem seguir os parâmetros que adotaram até aqui:
"Agora não é hora de sobrecarregar o sistema de
saúde seja em nome do que for. Agora é hora de aguardar, vamos ver como essa
semana vai se comportar, e nós vamos ter nessa semana a discussão dentro da
Saúde para achar os parâmetros, aqueles que tomaram medidas de acordo com a sua
localidade sem o parâmetro, usou o parâmetro próprio, utiliza o seu parâmetro
que nós vamos construir um consenso para nós podermos andar."
A entrevista foi precedida por uma reunião
na manhã de hoje entre o presidente Jair Bolsonaro e outros ministros. Isso
gerou novamente boatos de que o ministro seria demitido por discordar do
presidente na questão do isolamento na atual fase da pandemia. Mandetta
comentou os rumores:
"Eu sei que hoje, essa semana, todo mundo ficou 'mas
e o ministro? ele sai? ministro não sai?'. Eu volto a repetir: vou ficar aqui
junto com vocês, enquanto o presidente permitir, enquanto eu tiver saúde e não
puder sair. E digo mais, aqui no fundo do Ministério da Saúde tem um lugarzinho
pra uma creche, tem um quarto, se toda a equipe aqui estiver com gripe e tiver
tudo bem, inclusive eu, nós vamos ficar no quartinho ali, pra gente ficar perto
pra pelo menos a gente ficar conversando"
"Ou na hora que não for mais necessário nós estarmos
aqui, na hora que falarmos 'olha, cumprimos o nosso dever', e tá encerrada a
nossa participação no Ministério da Saúde. E vamos trabalhar com essa equipe e
vamos terminar com essa equipe."
O ministro criticou aqueles que querem convocar protestos
pelo fim do isolamento:
"Fazer movimento assimétrico, de efeito manada,
agora nós vamos daqui duas semanas, três semanas, os mesmos que falam 'vamos
fazer uma carreata de apoio' os mesmos que fizerem vão ser os mesmos que vão
estar em casa. Não é hora agora.
Jovens em casa e comércio
Mandetta explicou por que o comércio não pode reabrir e
também por
que os jovens têm de ficar em casa, apesar de terem apenas sintomas
leves em sua maioria:
"Por que se suspendem
aulas? Se todas as crianças e jovens, como vocês viram, se têm a doença e
são assintomáticos e são sintomas leves, por que a gente os tira da aula?
Muitas vezes é o que fala: 'Deixa as crianças e adolescentes'. É porque eles
são assintomáticos e não sabem, só transmitem. Como voltam para casa e casa tem
comodo, temos déficit habitacional enorme, pode contaminar cinco, seis pessoas.
Quando a gente diminui a mobilidade, cada um positivo contamina dois. Quando
deixa todo mundo andando, cada um contamina seis, e isso faz progressão geométrica,
faz essa curva super rápida."
"Se eu deixar a movimentação social contínua eu não
estou preparado para hora da periferia sobrecarregar em bloco o sistema de
saúde. Todo comércio diz: eu quero abrir, eu quero abrir. Calma porque vamos
ter que fazer isso. Uma regrinha para saberem. Vou abrir assim: faço teste com
funcionário, menos mesa, não pode ter fila de espera, buffet, fila um atras do
outro. Algumas coisas que vamos colocar para serem pontos de referência. Para
não falar que está tratando assim ou assado."
E, pouco antes do fim da entrevistas, o ministro elogiou
a preocupação do presidente Bolsonaro:
"Espero que tenhamos tranquilizado todos vocês,
Vamos trabalhar, essa semana a gente encerra, começa amanhã domingo com
trabalho no Ministério da Saúde e vamos ver se conseguimos fazer um plano
mínimo que compatibilize saúde e economia. Esse é nosso trabalho de fim de
semana junto com a equipe econômica. Como ir, como voltar, o que funciona, o
que é essencial, o que pode rodar a economia. O presidente está certíssimo
quando fala que a crise econômica vai matar as pessoas. As pessoas não
aguentarão a fome. Está certíssimo. E estamos 100% engajados em achar a solução
junto com a equipe da economia, mostrar a fórmula para o Ministério da
Economia. Vamos aumentar, vamos melhorar. Precisa de um grande pacto para que
possamos sair do outro lado", disse Mandetta. Fonte: G1
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