O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), afirmou neste sábado (24), em Vitória (ES), que o presidente Jair
Bolsonaro (PSL) mudou o discurso que vinha fazendo sobre a crise ambiental no
país ao afirmar tolerância zero às queimadas na Amazônia.
Ele disse que o discurso "radical" do
presidente pode ter passado a ideia de apoio ao desmatamento, mas afirmou não
crer que o governo dê "qualquer incentivo a esses criminosos".
"O que o presidente da República diz é muito forte,
tem peso. O que eu digo talvez não tenha a mesma força. Então, por isso, temos
que compreender que muitas vezes o que falamos tem um impacto muito maior do
que a gente imagina", afirmou Maia.
"Uma verbalização malfeita pode gerar grandes
crises. Quando vocaliza polemizando no tema, qual impressão que dá? Que há
algum tipo de apoio. Acho que o presidente certamente percebeu isso e ontem fez
um discurso reafirmando a tolerância zero. E tem que ser mesmo."
A declaração foi feita durante o Consórcio de Integração
Sul e Sudeste (Cosud), que acontece no Palácio Anchieta, sede do Governo do
Espírito Santo, onde se reuniram governadores das duas regiões para discutir
sobre investimentos nos estados brasileiros.
Maia reconheceu que a forma radical como o presidente tem
se comunicado pode ter agravado a relação com governos internacionais. "O
presidente compreendeu que está passando uma sinalização de algo que talvez ele
não esteja fazendo, que é estimular as queimadas", afirmou o presidente da
Câmara.
"Todo discurso mais radical a alguma instituição do
estado democrático de direito, quando se polemiza da forma que o presidente fez
nos últimos dias, em relação às queimadas, acaba gerando uma insegurança",
completou, referindo-se a acusações do presidente da República contra ONGs e
movimentos ambientais.
Na quarta (21), Bolsonaro disse, sem apresentar qualquer
evidência, que ONGs estariam por trás das queimadas na floresta. "Quando
ele questiona um dado e diz que eles estão errados e acusa outras pessoas por
essas ações criminosas, ele sinaliza que pode estar dando um apoio, que eu
acredito não existir."
Maia afirmou que entende as preocupações de países
europeus com relação às queimadas na Amazônia, mas pediu diálogo antes da
discussão sobre possíveis sanções contra o Brasil.
"Nossa relação com a União Europeia é histórica,
qualquer retaliação vai gerar talvez um conflito grande e histórico. É preciso
diálogo neste momento. Eles têm razão na preocupação, mas caminhar para sanções
mais duras sem o Brasil ter tomado ainda qualquer atitude concreta, é
precipitado."
No mesmo evento, o governador de São Paulo, João Doria
(PSDB), afirmou que o avanço do Brasil com a reforma da Previdência está sendo
neutralizado com um "passo gigantesco" nas questões ambientais.
"O Brasil deu um passo gigantesco em relação à
reforma da Previdência e um passo enorme para trás nas questões ambientais,
neutralizando um projeto tão importante como este da Previdência."
Dória fez duras críticas e avaliou que o desgaste com a
crise ambiental no país pode comprometer ainda mais os projetos de
investimentos que estão sendo traçados para o Brasil.
"Uma imagem desgastada do país impacta diretamente
nos investidores. Não é uma questão só dos governos brasileiros, mas de
relações internacionais. Fechar as portas para o mercado brasileiro significa
matar a economia do país", afirmou o governador.
"Não se pode misturar partidarismo e ideologia com
meio ambiente. Aliás, esse termo precisa e merece ter o respeito de todos nós,
além da nossa solidariedade. Dar um passo para trás neste momento delicado é
prova de esperteza e humildade", continuou.
Fonte: DP
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