O presidente Jair Bolsonaro (PSL) deixou de fora a
reforma da Previdência de transmissão ao vivo pelas redes sociais nesta
quinta-feira (4) e defendeu o trabalho infantil usando como principal argumento
sua experiência pessoal.
"Olha só, trabalhando com nove, dez anos de idade na
fazenda eu não fui prejudicado em nada. Quando um moleque de nove, dez anos vai
trabalhar em algum lugar, tá cheio de gente aí 'trabalho escravo, não sei o
quê, trabalho infantil'. Agora, quando tá fumando um paralelepípedo de crack,
ninguém fala nada", comentou o presidente em tom de
"confissão".
Embora tenha defendido o trabalho de crianças, ele disse
que não vai apresentar nenhum projeto que permita isso para "não ser
massacrado".
"Fiquem tranquilos que eu não vou apresentar nenhum
projeto aqui para descriminalizar o trabalho infantil porque eu seria
massacrado. Mas quero dizer que eu, meu irmão mais velho, uma irmã minha
também, um pouco mais nova, com essa idade, oito, nove, dez, doze anos,
trabalhava na fazenda. Trabalho duro."
Embora tenha falado sobre trabalho em vários momentos da
transmissão que durou quase 40 minutos, o presidente não comentou em nenhum
momento a votação da reforma da Previdência.
O projeto é considerado prioritário para seu governo e
está em votação nesta quinta na Câmara.
A comissão especial que analisa a reforma rejeitou
afrouxar as regras de aposentadoria para categorias da segurança pública, num
movimento contrário à atuação de integrantes do governo e interlocutores do
Palácio do Planalto.
Ainda sobre sua infância, o presidente disse que aprendeu
a dirigir aos nove anos em dois tratores na fazenda em que morava e que já
atirava "quando era muito jovem".
Ele começou o assunto dizendo ter encontrado 54 anos
depois o dono da propriedade em que vivia, identificado como Jorge Alves
Lima.
"Eu aprendi a dirigir, inclusive, em dois tratores
da fazenda, com nove anos e dirigindo. Eu arava, inclusive. Irresponsabilidade?
Nada, pô. Eu atirei jovem também e não tinha problema nenhum. O velho tinha uma
espingarda, eu ia pro meio do mato e metia fogo, atirava sem problema
nenhum", afirmou.
Em tom saudosista, Bolsonaro lamentou os tempos atuais ao
dizer que hoje em dia há "mais direito do que dever".
"Hoje em dia é tanto direito, tanta proteção que
temos uma juventude aí que tem uma parte considerável que não tá na linha
certa. O trabalho dignifica o homem e a mulher, não interessa a idade. E
naquela época o professor tinha como exercer sua autoridade em sala de aula.
Então, ai de você se levasse uma bronca do professor e professora e teu pai ou
tua mãe ficasse sabendo. Não era bronca não, o pau cantava. A juventude nossa
está aí..."
Na visão do presidente, a causa para piora dos tempos
atuais é o excesso de direitos.
"Saudades daquela época onde você tinha muito mais
deveres que direitos. Hoje só se tem direitos, dever quase nenhum e por isso
nós afundamos cada vez mais", afirmou.
Ao lado dos ministros Ernesto Araújo (Relações
Exteriores) e Tarcísio Freitas (Infraestrutura), Bolsonaro voltou a defender o
projeto que modifica as regras de trânsito.
O texto foi enviado ao Congresso pelo governo no início
de junho e é alvo de críticas por flexibilizar as regras para infratores e por
fim à obrigatoriedade ao uso de cadeirinha para crianças.
Ele também defendeu a edição de uma nova placa de
trânsito para os brasileiros, argumentando que não haverá custo por ser
opcional.
Ao lado de Jorge Seif, Secretário Especial da Aquicultura
e Pesca, Bolsonaro comemorou a liberação da pesca da tainha em Santa Catarina.
No início da live, ele disse que estava fazendo
propaganda para as broas da Irmã Dulce, já que tinha dois pacotes do produto à sua
frente.
Em anúncio feito esta semana pelo Vaticano, Irmã Dulce
será canonizada em outubro pelo papa Francisco.
Bolsonaro disse que pretende ir a Salvador no dia 20 de
outubro, quando ocorrerá uma grande celebração na Arena Fonte Nova em homenagem
a ela.
Nascida em 1914 em Salvador, Irmã Dulce, que ficou
conhecida como "anjo bom da Bahia", teve uma trajetória de fé e
obstinação na qual enfrentou as rígidas regras de enclausuramento da Igreja
Católica para prestar assistência a comunidades pobres da capital baiana,
trabalho que realizou até a morte, em 1992.