Os primeiros três meses do governo do presidente Jair
Bolsonaro foram marcados pela economia estagnada.
O IBGE informou nesta quinta-feira (30) que o PIB
contraiu 0,2% de janeiro a março, ante o 4º trimestre de 2018, confirmando o
quadro de letargia que vem sendo descrito por economistas.
É o primeiro resultado no vermelho após dois anos (oito
trimestres) seguidos de recuperação da atividade, ainda que com desempenho
fraco. O PIB crescera 1,1% em 2017 e em 2018, após mergulhar 7,6% em 2015 e
2016.
Nos últimos três meses de 2018, o desempenho foi de 0,1%
e não houve revisão.
Pesquisa da agência Bloomberg indicava que a maior parte
dos entrevistados projetava que o PIB recuaria 0,2% no primeiro trimestre.
Já em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, a
economia teve uma leve alta de 0,5%. Os analistas entrevistados pela Bloomberg
previam uma alta igual.
Com o nível atual de atividade, a economia ainda não
recuperou o que perdeu na crise. No primeiro trimestre, o PIB ainda estava 5,3%
abaixo do pico atingido no primeiro trimestre de 2014. Hoje, a economia roda no
mesmo patamar do primeiro semestre de 2012 -e os brasileiros ainda são quase 9%
mais pobres do que em 2014.
O PIB neste início de 2019 ficou no negativo em seus
principais componentes, quando comparado ao retrato do último trimestre do ano
passado.
A indústria encolheu 0,7%, puxada pelo declínio do setor
extrativo, após o desastre ambiental de Brumadinho, onde uma antiga barragem de
dejetos minerais mantida pela Vale se rompeu e paralisou a produção de minério
de ferro.
A agropecuária retraiu 0,5%, com a quebra de safra da
soja, a mais importante lavoura do país, devido à seca atípica no Paraná, Bahia
e Mato Grosso do Sul.
Em relação ao início de 2018, a indústria e a
agropecuária também encolheram 1,1% e 0,1%, respectivamente. E os serviços
subiram 1,2%.
A crise econômica na Argentina também contribuiu para a
retração da economia. As exportações recuaram 1,9% no primeiro trimestre, em
relação ao fim do ano passado. As importações subiram 0,5%.
Em comparação com o início de 2018, as exportações
apresentaram sinal positivo, com alta de 1% e as importações, afetadas pela
atividade interna fraca, recuaram 2,5%.
Já os serviços registraram uma leva alta de 0,2%,
contidos pelo elevado desemprego.
SEM SAÍDA
Nenhum dos indicadores da demanda demonstrou dinamismo
que pudesse apontar uma saída para o marasmo.
Em relação ao 4º trimestre, o consumo das famílias subiu
0,3% e os gastos do governo, 0,4%.
A pior informação trazida pelo IBGE, porém, aparece no
investimento, cujos números ainda deixam claro que a atividade está distante da
retomada. Eles caíram 1,7% em relação ao fim do ano ano passado.
Além do desastre ambiental de Brumadinho, economistas vêm
apontando os efeitos da baixa confiança.
A eleição de Bolsonaro havia recobrado os ânimos de
empresários e consumidores, mas os índices voltaram a recuar em março e abril,
com a piora da crise política. Sem confiança, não há investimento.
Em comparação com o início de 2018, os indicadores que
acompanham a demanda também tiveram desempenho insatisfatório.
O consumo das famílias subiu 1,3% e os gastos do governo
oscilaram 0,1%. O investimento marcou 0,9%.
Os números desta quinta-feira eram esperados com certa
ansiedade por analistas, que já anteveem dificuldades para a economia também no
segundo trimestre.
Os primeiros dados de abril, sobre a confiança, apontam
para uma atividade mais fraca. São resposta às incertezas provocadas pelo
desarranjo político do governo Jair Bolsonaro, incapaz de organizar a relação
com o Congresso Nacional.
Para economistas, a aprovação da reforma da Previdência é
fundamental para limpar o horizonte no médio e longo prazo, garantindo a
sustentabilidade das contas do governo, em deficit desde 2014. O temor é que,
sem moderar a evolução dos gastos, o governo sancione uma escalada
inflacionária.
Investidores do mercado financeiro costumam antecipar
estes movimentos, uma das razões da alta do dólar e da desvalorização da Bolsa
nas últimas semanas.
A incerteza sobre a solvência do Estado está produzindo a
mais lenta reação da economia da história, o que levou analistas a discutirem
se o PIB está em depressão -um estágio mais grave de crise econômica.
O debate foi levantado pela equipe do ex-presidente do
Banco Central Affonso Celso Pastore, que analisou o comportamento decepcionante
da renda dos brasileiros após o mergulho na recessão em 2014.
Boa parte dos analistas ainda tem como diagnóstico uma
economia estagnada, porém sob risco crescente de nova recessão, o que
debilitaria ainda mais o emprego e a renda.
Fonte: Diário de Pernambuco