O governo vai começar o seu plano de desenvolvimento pela
região amazônica e enviará três ministros ao oeste do Pará para avaliar
investimentos de infraestrutura e definir grandes obras na região. A escolha
não é casual. O avanço nessas áreas isoladas da floresta e na fronteira atende
também a um compromisso de campanha do presidente Jair Bolsonaro de aumentar a
presença do Estado no chamado Triplo A. Trata-se de uma área que se estende dos
Andes ao Atlântico, onde organismos internacionais supostamente pretendem criar
uma faixa independente para preservação ambiental.
A região é estratégica para os militares, que querem
marcar posição contra o que chamam de "pressões globalistas". Como
parte dessa estratégia, os ministros Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da
Presidência), Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Damares Alves (Mulher, Família e
Direitos Humanos) desembarcam nesta quarta-feira, 13, em Tiriós (PA) para
discutir com líderes locais a construção de uma ponte sobre o Rio Amazonas na
cidade de Óbidos, uma hidrelétrica em Oriximiná e a extensão da BR-163 até a
fronteira do Suriname.
A hidrelétrica teria, na avaliação do governo, o
propósito de abastecer a Zona Franca de Manaus e região, reduzindo apagões. A
ampliação da BR-163 - construída nos anos 70, ainda inacabada e notícia por
causa de seus atoleiros - cumpriria uma meta de integração da Região Norte. Já
a ponte ligaria as duas margens do Amazonas por via terrestre, ainda feita por
travessia de barcos e balsas. O projeto serviria como mais um caminho para o
escoamento da produção de grãos do Centro-Oeste.
Bebianno comparou as iniciativas à retomada do Calha
Norte, projeto do governo José Sarney para fixação da presença militar na
Amazônia. "A retomada do Calha Norte é fundamental para o Brasil como um
todo. Estamos fazendo um mapeamento da região e vamos lá olhar
pessoalmente", afirmou o ministro ao Estado.
O movimento coincide com ação do governo para combater a
influência do chamado "clero progressista" da Igreja Católica na
região. O pano de fundo é a realização do Sínodo sobre Amazônia, que será
organizado em outubro, em Roma, pelo Vaticano. Entre os temas que serão
discutidos estão a situação dos povos indígenas e de quilombolas e os
investimentos na região - considerados "agendas de esquerda" pelo
Planalto.
A última série de grandes investimentos na Amazônia
ocorreu ainda no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o
início das obras das hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau, em Rondônia, e
Belo Monte, no Pará. Nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer, os canteiros
foram abandonados ou perderam o ritmo.
O Planalto justifica a escolha dos projetos com o
argumento de que a população dos municípios da margem norte do Amazonas está
abandonada e seu objetivo é implementar um plano de ocupação para estimular o
mercado regional e definir um "marco" da política do governo de
incentivo econômico.
Resistências
Um auxiliar de Bolsonaro afirmou que a presença dos
ministros do Meio Ambiente e dos Direitos Humanos na comitiva tem por objetivo
reduzir eventuais ataques de ativistas e ambientalistas. A área delimitada para
o início do plano estratégico é formada por reservas ambientais e territórios
de comunidades isoladas, como a dos índios zoés, na região de Santarém.
Para tentar quebrar resistências, o governo vai incluir
termos de responsabilidade socioambiental em todas as obras e firmar
compromisso de diálogo com as comunidades locais. A equipe do presidente já
antevê, no entanto, reações especialmente de países da União Europeia, que têm
ligações com as entidades mais influentes da área de defesa da preservação da
floresta.
Militares com cargo no governo recusam a comparação com o
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado por Lula com obras em todo
o País, especialmente no Norte e no Nordeste. Ainda está prevista a retomada do
projeto de revitalização dos afluentes do Rio São Francisco.
A viabilidade dos projetos de infraestrutura na Amazônia
desenhados pelo Planalto esbarra numa série de dificuldades. As tentativas de
se instalar uma usina no Rio Trombetas já fracassaram em outros governos por
obstáculos socioambientais. O mesmo problema já comprometeu a continuidade da
BR-163. A região é de mata densa, sem estradas. Seria necessário abrir uma
rodovia na floresta, região marcada por áreas protegidas. Fonte: Diário de Pernambuco
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