Quase dois meses depois de tomar posse, o presidente Jair
Bolsonaro ainda não tem uma estratégia desenhada para a comunicação do governo.
O problema ficou evidente há 11 dias, quando uma reunião da Secretaria de
Comunicação Social da Presidência (Secom) com todas as repartições federais -
incluindo equipes de ministérios, empresas estatais e entidades vinculadas -
foi encerrada sem a apresentação das diretrizes para a divulgação das realizações
de cada área. O motivo alegado foi o de que o plano não estava pronto.
Bolsonaro tem sido criticado por aliados e até por
integrantes de seu partido, o PSL, por adotar tom de campanha nos
pronunciamentos. No Congresso, é comum ouvir que o presidente ainda não desceu
do palanque. É geral a avaliação de que a falta de um plano de comunicação
ajuda a esconder eventuais realizações do governo, enquanto a agenda da crise
se sobressai - como a que culminou, na semana passada, com a demissão do
ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno.
O receio de auxiliares de Bolsonaro é de que as
turbulências na política respinguem nas negociações com o Congresso em torno da
proposta de reforma da Previdência.
A reunião da Secom, no dia 14, vinha sendo tratada como o
"1.º encontro sobre comunicação global" do Sistema de Comunicação de
Governo do Poder Executivo Federal. O sistema reúne o conjunto de equipes de
comunicação dos órgãos que compõem a administração pública federal. O evento
lotou o auditório do prédio anexo no Palácio do Planalto.
Foram convocadas para o encontro as equipes de todos os
ministérios, de empresas públicas, autarquias e fundações e demais órgãos
federais. Houve envolvimento da cúpula da Secom com os responsáveis pelos
setores de Imprensa, Pesquisa e Opinião Pública, Gestão e Controle, Publicidade
e Promoção, Patrocínios, Eventos, Articulação e também pela Empresa Brasil de
Comunicação (EBC).
Os assessores se apresentaram, trocaram contatos e
ouviram discursos do ministro da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto
dos Santos Cruz, que abriu a reunião, depois presidida pelo chefe da Secom,
Floriano Barbosa de Amorim Neto, publicitário de confiança do presidente e
ex-assessor parlamentar do clã Bolsonaro.
Ao final, os participantes também puderam levantar
dúvidas e sugestões. O principal recado do Palácio do Planalto foi o de que é
preciso cortar despesas, mas a reunião transcorreu sem que fosse apresentada a
linha de comunicação a ser trabalhada pelo governo.
O jornal O Estado de S. Paulo conversou com cinco pessoas
que estiveram no encontro. Todas disseram que Amorim chegou a anunciar que
apresentaria um plano na reunião. Mesmo assim, passou pelo constrangimento de
dizer que ele não ficara pronto a tempo. A reportagem pediu detalhes da reunião
à Secom, mas não obteve resposta.
Redes
Desde a campanha eleitoral, Bolsonaro tem privilegiado a
comunicação pelas redes sociais, e, para tanto, tem o apoio dos três filhos: o
vereador Carlos (PSC-RJ), o deputado federal Eduardo (PSL) e o senador Flávio
(PSL) (mais informações na pág. A8). Ativo nas redes, Carlos é apontado como o
responsável por mensagens postadas nas contas do pai.
Na semana passada, o ministro demitido Gustavo Bebianno
deixou vazar áudio de uma conversa privada em que Bolsonaro trata a TV Globo
como "inimiga" e diz não falar com jornalistas. No Planalto, o
próprio chefe da Secom não costuma atender a imprensa.
Ministro da Secretaria de Governo, o general Santos Cruz
disse na reunião da Secom que a ordem é otimizar recursos e unificar o discurso
governamental, mas não deu detalhes sobre o que será feito.
Amorim também não falou em estratégia. Até agora, ele tem
dedicado sua agenda a discussões internas no governo. Recentemente, recebeu
apenas representantes do Google e do Twitter, além de autoridades públicas e a
deputada Bia Kicis (PSL-DF). Boa parte da agenda do chefe da Secom tem sido
dedicada a discutir o futuro da EBC. A interlocução com veículos de imprensa
vem sendo feita por ministros, como Santos Cruz, e outros secretários.
Em administrações anteriores, as reuniões da Secom eram
usadas para apresentar o planejamento de comunicação do governo, alinhar
estratégias, definir temas relevantes e mídias prioritárias, além de
estabelecer a coordenação de ações conjuntas entre ministérios, instituições
vinculadas, empresas estatais e a Presidência.
Assessorias
No encontro do dia 14, foram dados exemplos de como todos
os ministérios podem fazer a defesa da reforma da Previdência - que tem uma
campanha publicitária específica, para a qual foi contratado o marqueteiro
Daniel Braga. Houve, ainda, quem reclamasse da falta de pessoal nas
assessorias, uma vez que muitos ministérios estão com equipes reduzidas desde
que Bolsonaro tomou posse.
É o caso de Meio Ambiente, Defesa e Cidadania - a pasta
que acumulou atribuições de três ministérios (Desenvolvimento Social Esporte e
Cultura) e tem o contrato em processo de licitação.
Fonte: DP