O uso de máscaras é uma das
características marcantes do carnaval de Pernambuco, principalmente em blocos
tradicionais do interior do estado. Em Pesqueira, há os caiporas; em Triunfo,
os caretas; e em Bezerros, os papangus.
De acordo com o pesquisador
da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), César Pereira, a utilização desse adereço
tem um objetivo específico. "A finalidade é esconder a identidade do
folião, para que possa brincar à vontade sem ser reconhecido", explica.
Caiporas
Localizado a 216 quilômetros
da capital Recife, o município de Pesqueira tem um nome popular para a festa do
Momo: Carnaval dos Caiporas. No folclore brasileiro, caipora era a figura
responsável por afastar os caçadores e seus cães das florestas e considerada,
assim, protetora dos animais e guardiã das matas.
O bloco existe desde 1962 e
vai para a 57ª edição. Os homenageados em 2019 são Sérgio Amaral, dono do bloco
Lira da Tarde, e Seu Albino, reconhecido musicista na cidade que faleceu no
final de 2018. Neste ano, a apresentação ocorre às 19h do domingo e da
terça-feira de carnaval, dias 3 e 5 de março, respectivamente.
Além do saco de estopa, que
serve como máscara, a caracterização do personagem conta com paletó, camisa de
mangas compridas e calça. A energia observada nos caiporas vem do fato de
grande parte dos foliões que se fantasiam do personagem serem crianças ou
adolescentes.
Helena Melo, de 76 anos, é a
presidente do bloco. O posto foi herdado do marido, João Justino, que faleceu
em 2008. O apreço pelo carnaval não era tão alto para ela, que resolveu atender
a um pedido do esposo para ficar à frente do bloco.
"Eu não gostava. Fiquei
a pedido dele porque é um patrimônio da família, ele não queria entregar a
estranhos. Até pedi para repassar para outros interessados, mas ele não
quis", conta.
Desde que assumiu, o
envolvimento com o bloco apagou a relutância inicial. "Comecei a gostar. A
gente viajava muito, fazia trabalhos, e isso era o meu divertimento. Eu fico
com a parte de recrutar as crianças, falar com os pais. Também mudei as
vestimentas. Mandei fazer buracos nas máscaras, para aliviar o calor. E antes
usavam havaianas, hoje é todo mundo de tênis. O período é muito
trabalhoso", conta.
Apesar da importância para
Pesqueira, não há um espaço na cidade para a preservação da memória dos
caiporas.
Caretas
Os centenários caretas
representam a folia na cidade de Triunfo, localizada a 400 quilômetros do
Recife. Os mascarados se apresentam às 15h da terça-feira de carnaval, dia 5 de
março, com saída pelas ruas do município, acompanhados pela Banda de Frevo
Isaías Lima.
A expectativa da organização
é de receber entre 130 e 150 mascarados. A homenageada deste ano é Expedita
Trindade, que era responsável pela caracterização dos Caretas na cidade antes
de morrer.
A historiadora Diana
Rodriques Lopes, de 74 anos, participa dos festejos desde pequena. Ela elabora
um livro sobre o movimento, com lançamento previsto para ainda este ano, e
explica que a origem dos caretas ocorreu no Natal.
“No Sítio Laje, região
próxima à Triunfo, havia um reisado. Lá, havia a figura mascarada do Mateus. O
grupo do qual ele fazia parte foi para Triunfo a fim de participar de festejos
natalinos. Mas, ao chegarem, um deles bebeu muito e foi expulso. Vagando pela
cidade fazendo barulho, deu origem aos Caretas”, conta.
Antigamente, mulheres e
crianças não podiam participar, pois a brincadeira era exclusiva para homens.
Com a criação das trecas, conjuntos de caretas, todo mundo pode participar. As
vestimentas são compostas por um grande chapéu e roupas coloridas.
Também não pode faltar na
caracterização a tabuleta, que é um pedaço de tábua com chocalhos pendurados na
ponta. O barulho do instrumento passa a falsa impressão de que há gado por
perto.
"É uma coisa que passa
de pais para filhos. Crianças de dois anos já saem como caretas. É uma coisa
linda. E esse ano vai ser bem legal. Dez, vinte caretas juntos já é bonito,
imagina esse ano, com 150?", questiona Diana, com satisfação.
Nos caretas, cada um
organiza a sua própria treca, que funciona como um bloco. Não há um presidente.
"Eu sempre fui uma curiosa pela minha terra. Lá em casa, meu pai tinha o
costume de me contar lendas, à noite. Sempre de figuras locais. Acabei
absorvendo isso. Também participo de tudo aqui, sou uma careta", ressalta.
Os caretas ganham um espaço
próprio, com inauguração prevista para o dia 4 de março, a segunda-feira de
carnaval, no Alto da Boa Vista. A Casa do Careta conta com uma sala de
audiovisual, acervo histórico e espaço para oficinas e para vendas, e permanece
aberto após o carnaval.
Papangus
Em Bezerros, cidade
localizada no Agreste pernambucano, a 100 quilômetros do Recife, os papangus
são os destaques da folia. A caracterização é feita com máscaras de papel machê
e túnicas, sempre bem coloridas. Quando estão fantasiados, mudam até a
entonação da voz, pois a ideia é manter-se irreconhecível de todas as formas.
Folclorista e historiador de
Bezerros, o professor Ronaldo José Souto Maior, de 78 anos, explica que os
papangus surgiram em 1881.
“Eram senhores de engenhos
com suas famílias que saíam malvestidos e mascarados para visitar seus amigos e
comiam angu, comida à base de milho, típica da região. Ainda há uma outra
versão sobre o surgimento do movimento: um grupo de homens que, para brincar o
carnaval escondidos das esposas, usavam máscaras”, afirma.
O secretário de Turismo e
Cultura de Bezerros, Vando Dias, de 55 anos, tem uma ligação especial com os
papangus. "Eu saí nos papangus com meus tios, minhas irmãs. Em Bezerros,
quase todo mundo já deve ter saído de papangu", diz.
Quem administra os papangus
é a Secretaria de Turismo e Cultura de Bezerros. Não há um presidente ou homenageados
específicos. Na cidade, há um espaço dedicado à preservação da história deles:
o Museu do Papangu, localizado na antiga estação de trem.
O concurso dos papangus de
Bezerros acontece às 9h do dia 3 de março, o domingo de carnaval, na praça centenária
da cidade. A premiação total é de R$ 24.800, somando as categorias adulto e
infantil, para as fantasias mais criativas.
A categoria adulta conta com
as modalidades individual, dupla e em grupo. Na infantil, há a infanto-mirim,
até 7 anos, e infanto-juvenil, dos 8 aos 14 anos.
Serviço
Papangus, em Bezerros
Domingo (3), às 9h
Concentração na Praça
Centenária da cidade
Aberto ao público
Caiporas, em Pesqueira
Domingo (3) e terça-feira
(5), às 19h
Concentração na Praça Dom
José Lopes
Aberto ao público
Caretas, em Triunfo
Terça-feira (5), às 15h
Concentração no Alto da Boa
Vista
Aberto ao público
Fonte:G1