As buscas por sobreviventes
do rompimento da barragem da mineradora Vale em Brumadinho, região
metropolitana de Belo Horizonte, foram temporariamente interrompidas na manhã
deste domingo (27) pelo risco de rompimento de uma outra barragem na região.
Uma sirene foi acionada por volta das 5h30, e moradores de partes baixas da
cidade começaram a deixar as suas casas em direção a regiões mais altas. 24 mil
pessoas devem sair de casa, de acordo com os bombeiros.
O rompimento da barragem 1
da Mina Córrego do Feijão, da Vale, ocorreu no início da tarde da última
sexta-feira. Um mar de rejeitos destruiu casas da região e a área
administrativa da empresa.
Há ao menos 37 mortos, 81
desabrigados e 23 feridos em hospitais, segundo os bombeiros. A Vale divulgou
uma lista com mais de 250 nomes de funcionários com os quais não conseguiram
contato.
Neste domingo, as sirenes
foram acionadas por volta das 5h30 após ser detectado um aumento dos níveis de
água nos instrumentos que monitoram a barragem 6, de acordo com a Vale.
Ainda segundo a mineradora,
as autoridades foram avisadas e, como medida preventiva, a comunidade da região
está sendo deslocada para os pontos de encontro determinados previamente pelo
Plano de Emergência.
Pedro Aihara, porta-voz dos
bombeiros, disse que as áreas de risco são os bairros de Parque da Cachoeira,
Pires, Centro e Novo Progresso. Os moradores desses locais devem deixar as suas
casas e se direcionarem a 3 pontos de encontro: Igreja Matriz, no centro, o
quartel da Polícia Militar e Morro do Querosene. Segundo ele, esses locais são
considerados seguros, mesmo se houver o rompimento.
Ainda de acordo com Aihara,
a barragem 6 tem de 3 a 4 milhões de metros cúbicos de água e é usada como
apoio às operações da mina.
Policiais ajudam a orientar
a população no local. Equipes dos bombeiros foram à região do Parque da
Cachoeira, que é o principal ponto de preocupação pelo risco de rompimento e
onde há aproximadamente 25 casas.
Um morador da parte baixa de
Brumadinho disse em entrevista a reportagem que se assustou com o alarme
e que, inicialmente, não sabia do que se tratava exatamente. Segundo ele, os
vizinhos começaram a ligar uns para os outros para entender o que estava
acontecendo e foram para a parte alta da cidade só depois que a polícia militar
confirmou que era para todos deixarem suas casas.
“Larguei a casa, peguei só
uns suprimentos e documentos e fui embora. Não teve nenhum treinamento para
saber se podíamos pegar mais coisas”, disse.
A chuva em Brumadinho
dificultou os trabalhos de resgate neste sábado. Um ônibus foi encontrado com
mortos na região próxima à barragem rompida, mas o número ainda não foi
divulgado. Uma pousada que é destino de famosos foi soterrada e poucas vítimas
foram resgatadas. O presidente da Vale, Fabio Shvartsman, também sobrevoou a
área afetada no sábado.
Área inundada pela lama
depois do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. — Foto:
Divulgação/Cemig Área inundada pela lama depois do rompimento da barragem da
Vale em Brumadinho. — Foto: Divulgação/Cemig
Área inundada pela lama
depois do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. — Foto:
Divulgação/Cemig
Nova decisão
Na noite deste sábado a
Justiça de Minas Gerais expediu uma segunda decisão de bloqueio de R$ 5 bilhões
da Vale em razão do rompimento de uma barragem da empresa. Nesta nova ação, o
bloqueio tem por objetivo garantir recursos para reparar os danos causados as
pessoas atingidas pela tragédia. Na anterior, também movida pelo MP de Minas, o
destino é dos recursos é o pagamento de despesas ambientais.
Com nova decisão, chega a
três o número de bloqueios de recursos da Vale:
R$ 1 bilhão para atendimento
às vítimas, em ação movida pelo governo de MG
R$ 5 bilhões para danos
ambientais, em ação movida pelo MP
R$ 5 bilhões para
atendimento às vítimas, em ação movida pelo MP
Além disso, a companhia
recebeu duas multas. Uma, de R$ 250 milhões, aplicada pelo Ibama e outra, de R$
99 milhões, aplicada pelo governo do estado.
O que se sabe até agora:
Há ao menos 37 mortos, 81
desabrigados e 23 feridos em hospitais, segundo os bombeiros; 192 sobreviventes
foram resgatados.
A Vale divulgou uma lista
com mais de 250 nomes de funcionários com os quais não conseguiram contato
(veja). Além destes funcionários, há outras possíveis vítimas entre pessoas que
estavam em casas e em uma pousada na região;
Familiares de desaparecidos
buscaram informações no IML de BH. Uma força-tarefa foi formada, mas a
identificação dos corpos é difícil;
Oito corpos foram
identificados e tiveram os nomes divulgados no sábado - veja aqui a lista;
Bombeiros divulgaram lista
de 183 nomes de pessoas que foram achadas vivas.
A Vale já teve três
bloqueios de recursos, de R$ 1 bilhão, R$ 5 bilhões e R$ 5 bilhões (veja) e
recebeu multas no total de R$ 350 milhões;
As Polícias Federal e Civil
abriram inquéritos sobre o rompimento.
O presidente Jair Bolsonaro,
ministros, o governador Romeu Zema e a procuradora-geral da República, Raquel
Dodge sobrevoaram a área e prometeram ações de investigação, punição e
prevenção;
A ONU emitiu nota de pesar e
ofereceu ajuda nos esforços de busca.
Ajuda de Israel
Ao serem retomadas, as
buscas devem contar com apoio de bombeiros de outros estados, como do Rio de
Janeiro, e também com a ajuda de profissionais israelenses. Um avião com 130
soldados saiu de Israel em direção ao Brasil às 6h da manhã deste domingo, no
horário de Brasília. O reforço deve chegar por volta das 21h30.
Militares de Israel embarcam
para ajudar em trabalhos de busca em Brumadinho
Além dos soldados, Israel
enviou ao Brasil sonares do tipo usado em submarinos para localizar pessoas em
grande profundidade com alta qualidade de recepção de imagem e detectores de
vozes e ecos. Cerca de 16 toneladas de equipamentos estão sendo trazidas.
Segundo a reportagem, o governo israelense enviará também uma aeronave com
equipe médica, especialistas e engenheiros. O apoio foi oferecido pelo premiê
Benjamin Netanyahu e aceito pelo presidente Jair Bolsonaro.
Impacto
O presidente da mineradora,
Fábio Schvartsman, diz que ainda não se sabe o que causou o rompimento da
barragem e que foi uma surpresa, porque as indicações eram de que estava “tudo
em ordem”.
Os rejeitos da mineração são
resultado do processamento para separar o minério de ferro bruto de impurezas
que não têm valor. Essa sobra contêm restos de minério, sílica e derivados de
amônia.
A Vale afirma que a lama
vazada não é tóxica. Especialistas dizem, porém, que há danos ambientais
graves, como a contaminação do solo e da água por minério fino, que fica na
sobra dos rejeitos. Veja mais informações de especialistas.
A comunidade local já tinha
alertado os órgãos ambientais do estado para o risco da continuidade das
operações na mina do Córrego do Feijão, que já estava esgotada.
Estima-se que a lama
percorra 200 km de área e chegue ao rio São Franciso. Ela está descendo a Serra
dos Dois Irmãos, que é rica em Mata Atlância, deve cair no rio Paraopeba, que
abastece um terço da região metropolina de Belo Horizonte.
Fonte:G1