Há pouco mais de um mês, o senador eleito Flávio
Bolsonaro dedicava-se, com desenvoltura, à escalação do próximo presidente do
Senado. Começou vetando Renan Calheiros. Quem seria o candidato ainda seria
discutido, mas Renan, jamais.
Depois das revelações sobre as movimentações financeiras
do ex-assessor Fabrício Queiroz, claramente incompatíveis com a renda, Flávio
perdeu o interesse na presidência do Senado e dedica-se a tentar minimizar e
postergar os desdobramentos do caso. Dizia nada ter a ver com o que seu
assessor fazia, mas atestou que as explicações dele recebidas eram plausíveis.
“Não sou investigado”, completava.
Na semana passada, Flávio Bolsonaro mudou de estratégia e
foi ao Supremo pedir a suspensão das investigações por ter descoberto que era,
sim, investigado, o que considera ilegal, já que teria foro privilegiado como
senador eleito e diplomado. Obteve liminar do ministro Fux, que remeteu ao
relator, ministro Marco Aurélio, que deve alterar novamente o rumo do
caso — provavelmente suspendendo a suspensão e remetendo de volta ao
Rio — no dia 1º de fevereiro, quando Flavio toma posse como senador e
participa da eleição da nova Mesa diretora do Senado, incluindo o novo
presidente.
Hoje está claro que a estratégia do deputado estadual
Flávio Bolsonaro foi uma rajada de tiros no pé. O assunto virou um problema
para o governo, não só porque Flavio é filho do presidente, mas porque há uma
ex-assessora de Jair Bolsonaro envolvida e recursos da conta de Queiroz foram
depositados na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Nessa sexta-feira, a situação de Flávio piorou muito, com
a divulgação, no Jornal Nacional, de que ele recebeu depósitos em sua conta, no
total de 96 mil reais, em apenas um mês, em 2017. O depositante não foi ainda
identificado e os depósitos foram feitos em valores pequenos para evitar o
rastreamento. O senador eleito, que deu entrevista à Record reclamando
por estar sendo investigado mas nada explicou sobre nada, também não se
manifestou a esse respeito.
Até aqui, a principal explicação que jornais e outras
mídias dão para o caso é de que havia esquema para que servidores do gabinete
de Flávio devolvessem parte dos salários para a conta controlada por Queiroz.
Esse tipo de ação é muito usada, especialmente em assembleias legislativas e em
câmaras de vereadores, para financiar atividades políticas dos parlamentares ou
simplesmente para engordar o patrimônio. Por si só, já é crime e pode levar a
condenações pela Justiça. Segundo o MP do Rio, apenas nesse caso da Alerj, há
22 gabinetes de deputados sendo investigados.
Mas o problema pode ser ainda maior para Flávio
Bolsonaro. Segundo o relatório do COAF, oito assessores depositavam recursos na
conta do assessor, geralmente em dias próximos ao pagamento. Só que os
depósitos em questão somam cerca de R$ 230 mil, já contados aqueles feitos pelo
próprio Queiroz. Ou seja, se servidores depositaram 230 mil reais numa conta
que recebeu mais de R$ 1,2 mi, de onde vieram os recursos restantes? Pode até
ser que tenham vindo do comercio de carros usados, claro. Mas também pode ser
que a resposta já esteja em algum outro relatório do COAF…
Por último, se Flávio Bolsonaro recebeu em sua própria
conta R$ 96 mil em um único mês, conforme divulgado e não desmentido ou
explicado, pode-se imaginar que essas coisas se repetiram em outros meses. Isso
botaria em xeque a história do comércio de carros usados e jogaria todo o clã
Bolsonaro na obrigação de explicar de maneira muito convincente e rápida esse
imbróglio.
Tudo isso pode levar a um efeito colateral ainda não foi
discutido: Flávio Bolsonaro pode mudar de ideia e, no dia 1º de fevereiro,
apoiar a candidatura de Renan Calheiros – que, por sinal, já saiu
providencialmente em defesa do filho de Bolsonaro nessa sexta…
Fonte: Blog do Magno