Uma suposta irregularidade no registro do lateral-direito
Ernandes pode mudar o rebaixamento de um dos times da Série A e o acesso de
outro da Série B. Ernandes fez um jogo pelo Ceará na
Série A (derrota para o Santos, na primeira rodada) e 31 jogos pelo Goiás na
Série B. Se o STJD entender que esses clubes devem ser punidos por uma suposta
escalação irregular de Ernandes, o Ceará seria rebaixado no lugar do
Sport, e a Ponte Preta subiria na vaga do Goiás.
A informação sobre a suposta irregularidade na escalação
de Ernandes foi divulgada pelo repórter Pedro Orioli, da Rádio Central de
Campinas. A Ponte Preta confirmou ao GloboEsporte.com que estuda a melhor forma
de usar essas informações.
Procurado, o departamento de registros da CBF informou
que até o momento "não recebeu nenhum pedido de informações sobre o
caso".
Pelas informações no Boletim Informativo Diário (BID) da
CBF e no site oficial do Goiás, Ernandes Dias Luz nasceu em 11 de novembro
de 1987, mas uma certidão no segundo cartório de São Félix do Araguaia-MT, onde
o jogador nasceu, consta uma data diferente: 11 de novembro de 1985.
Ernandes seria, portanto, dois anos mais velho do que a documentação oficial
mostra – "gato", como se diz na gíria do futebol.
Ernandes, atualmente, é atleta do Goiás, mas jogou a
Série A deste ano: fez uma partida pelo Ceará, na primeira rodada: derrota
por 2 a 0 para o Santos, no Pacaembu. Com isso, se o STJD entender que o
Ceará tem de ser punido pela escalação do "gato", o clube cearense
perderia três pontos (independentemente de não ter somado ponto algum no jogo),
caindo de 44 para 41 pontos, sendo rebaixado no lugar do Sport, que somou 42.
O artigo 214 do CBJD (Código Brasileiro de
Justiça Desportiva) prevê, em caso de escalação de atleta em situação
irregular: perda do número máximo de pontos atribuídos a uma vitória no
regulamento da competição, independentemente do resultado da partida, prova ou
equivalente, e multa de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais).
– Não tem sentido, caso haja irregularidade nos
documentos, os clubes serem punidos. Não há necessidade de estudar isso
juridicamente – diz Marcelo Segurado, gerente de futebol do Ceará.
O Sport, que seria o maior beneficiado numa evenual
punição ao Ceará, se manifestou via Klauss Câmara, executivo de futebol:
– O Sport, antes de qualquer coisa, acredita nas
instituições que regulamentam o futebol. Temos certeza de que isso será apurado
e, caso tenha algo errado, as medidas serão tomadas. A princípio, nós iremos
esperar o que acontecerá nesse desenrolar.
Goiás se exime de culpa
O Goiás afirma que tomou conhecimento nesta
segunda-feira, por meio da imprensa, de uma suposta fraude em documento pessoal
de Ernandes. A diretoria
esmeraldina se exime de qualquer culpa no que se refere a possíveis
irregularidades e garante que a inscrição do atleta junto à CBF está em
conformidade com os dados apresentados por ele.
De acordo com Túlio Lustosa, gestor de futebol do Goiás,
a diretoria acionou seu departamento jurídico e não teme sofrer qualquer tipo
de punição. O clube entende que, mesmo que seja comprovada alguma fraude, a
mesma não é de responsabilidade da agremiação.
– Estamos resguardados. O Goiás possui toda a
documentação que comprova a inscrição regular do jogador. Se existe algo de
errado em um documento pessoal, não temos culpa. Não podemos duvidar do atleta
quando ele nos apresenta um documento – diz o dirigente do Goiás.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o Goiás divulgou
uma nota oficial comentando o caso. Leia na íntegra:
No Boletim Informativo Diário (BID) da Confederação
Brasileira de Futebol (CBF), Ernandes Dias Luz nasceu no dia 11 de novembro de
1987, ou seja, como consta no documento apresentado pelo jogador no ato de contrato
com o Goiás Esporte Clube. Se o atleta possui outra documentação, o fato não é
de responsabilidade do clube que o contratou e sim de quem efetuou o registro
do jogador como profissional de futebol. Em toda documentação de Ernandes
apresentada ao Goiás, desde Carteira de Trabalho, de Reservista, Carteira de
Motorista e de Identidade apresentam a data de nascimento com o ano de 1987.
Fato este que não acarretará nenhum tipo de ação ou punição contra o Goiás
Esporte Clube. O atleta está de férias e até o presente momento não foi
localizado para prestar esclarecimentos sobre o fato apresentado.
Ponte estuda o que fazer
O caso de Ernandes despertou interesse da Ponte Preta,
que ficou em quinto lugar na Série B e perdeu a vaga no G-4 para o Goiás no
número de vitórias. Uma punição ao time esmeraldino poderia, portanto,
favorecer a Macaca.
Procurada pela reportagem do GloboEsporte.com, o departamento
jurídico da Ponte Preta mostrou desconhecimento do caso, mas disse em nota que
busca maneiras de verificar a informação antes de tomar alguma medida - o
presidente José Armando Abdalla, o diretor jurídico Giuliano Guerreiro e o
advogado João Felipe Artioli esclarecerão o assunto em entrevista marcada para
esta terça, às 9h, no Majestoso.
– A Ponte Preta informa que foi pega de surpresa em
relação à notícia divulgada nesta tarde pela imprensa sobre uma suposta
irregularidade de um atleta do Goíás. A Macaca está buscando informações e
documentos a respeito para se embasar melhor e verificar, primeiramente, a
veracidade da informação e - em seguida - definir os próximos passos e quais
medidas serão tomadas. Assim que isso ocorrer, o Departamento Jurídico irá se
pronunciar a respeito do caso – diz a Ponte, em nota à imprensa.
A reportagem também fez contato com a assessoria de
imprensa do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), que disse que o
órgão não recebeu nenhuma denúncia até o momento e, portanto, não é possível se
pronunciar oficialmente sobre o caso.
O Goiás também foi procurado. De acordo com o gestor
Túlio Lustosa, o clube soube da informação pela imprensa e não foi notificado.
A diretoria tentou entrar em contato com o Ernandes, mas ainda não conseguiu.
Mesmo assim, o departamento jurídico já foi consultado e garantiu que o clube
está resguardado. Uma eventual punição, segundo o Goiás, seria ao atleta e
não afetaria o clube.
O caso Carlos Alberto, do Figueirense, em 2006
A situação de Ernandes lembra a de Carlos
Alberto, jogador que atuava pelo Figueirense quando foi descoberto como
"gato". Na época, o volante tinha cinco anos a mais do que afirmava
ter.
O Figueirense correu risco de perder 24 pontos, mas
acabou se safando de qualquer punição – seu advogado foi Mário Bittencourt, que
depois ficou famoso no cenário nacional como "o
advogado do Fluminense". Quem acabou sendo punido foi Carlos Alberto,
afastado do futebol por 360 dias.
O caso Eduardo, do América-MG, em 2014
Em 2014, o América-MG viveu esse drama na Série B
com o
lateral Eduardo e deixou de subir. Depois de perder 21 pontos e sair
do G-4 para a lanterna, o clube recorreu e ficou sem seis pontos. No fim das
contas, o Coelho deixou de subir, mas também não caiu para a Série C. A diferença
é que a punição ocorreu por conta de o jogador ter atuado em três clubes na
mesma temporada, não por adulteração de idade.
O caso Sandro Hiroshi, em 1999
Muito antes disso, em 1999, o São Paulo perdeu pontos no
Campeonato Brasileiro por conta da escalação irregular do atacante Sandro
Hiroshi em duas partidas, contra Botafogo e Inter. O jogador foi registrado na
CBF com uma adulteração na identidade – nasceu em 19/11/1979, mas o documento
mostrava 1980.
O Botafogo, que havia sido goleado por 6 a 1, e o
Internacional, que empatou por 2 a 2, entraram com uma ação pedindo os pontos
das partidas contra o São Paulo. E o tribunal aceitou. Os cariocas ficaram com
os três pontos, enquanto os gaúchos levaram dois. Quem acabou sendo rebaixado
foi o Gama, do Distrito Federal.
Fonte: GE