O médium João de Deus, preso
preventivamente em Goiás neste domingo (16) suspeito de abusos sexuais, vai
ficar em uma cela de 16 m² com outros três presos, que são advogados. Fontes
informaram ao G1que ele só poderá receber visitas após 30 dias. Mais de
300 mulheres o denunciaram. A defesa dele sempre negou as acusações. Entenda
os rumos da investigação.
João de Deus, que tem 76 anos, se
entregou à Polícia Civil em uma área rural de Abadiânia às
16h20. De lá, foi trazido a Goiânia, onde prestou depoimento na Delegacia
Estadual de Investigações Criminais (Deic). Pouco depois das 22h, foi para o
Instituto Médico Legal para exame de corpo de delito
O médium vai passar a noite no Núcleo de Custódia do
Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. Lá, ele ficará em uma cela com
cama, pia e chuveiro e terá direito a banho de sol.
Até o sábado, a polícia tinha feito buscas em mais de 30
endereços em busca do médium sem sucesso. Ele já era considerado foragido pelo
Ministério Público.
Em entrevista em frente à delegacia onde João de Deus
prestou depoimento, o advogado Alberto Toron afirmou que pretende
entrar com o pedido de habeas corpus nesta segunda-feira (17), para
"discutir a legalidade da prisão", e também citou como alternativas
possíveis uma prisão domiciliar e o uso de tornozeleira eletrônica.
Na ocasião, ele também negou intenção de fuga, disse que
os R$ 35 milhões movimentados em contas foram "apenas tirados de
aplicações" e declarou desconhecer o teor dos depoimentos das mulheres que
denunciaram o médium.
"O senhor João nega essas acusações. Nós, com o
tempo, poderemos demonstrar o que aconteceu", afirmou o defensor.
"[Ele deu] Mostras claras de que respeita a Justiça, respeita o
judiciário."
Também em entrevista coletiva no local, o delegado-geral
deu detalhes
sobre os rumos da investigação. “Ele vai ser ouvido caso por caso. Vai ser
um depoimento longo [o do João de Deus], mas a Polícia Civil se preparou para
isso. São 15 casos que chegaram até a nós.”
“Além do interrogatório do João de Deus, devem ser
ouvidas outras pessoas para apurarmos outras situações. E com a prisão devem
aparecer mais vítimas”, completou o delegado.
Segundo o delegado-geral, ainda não há como definir
exatamente por quais crimes ele vai responder, pq os depoimentos tratam de
crimes distintos. “De maneira geral, são crimes contra os costumes mediante
fraude”, disse
“Pela idade, ele acaba tendo alguns benefícios pela lei,
como a diminuição pela metade da prescrição dos casos”, declarou também o
delegado.
Ocultação de patrimônio
O Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO) informou à
TV Anhanguera, neste sábado (15), que João de Deus pode ter
tentado ocultar patrimônio e que isso levou o órgão a acelerar o
pedido de prisão do líder religioso. Ao órgão, mais de 330 mulheres denunciaram
o médium por abuso.
Segundo o jornal "O Globo", as investigações
apontam que o líder
religioso retirou R$ 35 milhões de contas e aplicações financeirasdesde que
as primeiras denúncias de abuso vieram à tona.
“A gente já tem informações de que há providências do
investigado buscando ocultar patrimônio. Este fato está sendo apurado e todas
as medidas cabíveis estão sendo tomadas pelo MP-GO”, disse a promotora
Gabriella de Queiroz Clementino.
“Claro que esta notícia de ocultação e patrimônio reforça
ainda mais os fundamentos da prisão”, afirmou.
Última visita à Casa
Na manhã de quarta-feira, o médium compareceu à Casa Dom
Inácio de Loyola, onde realiza os trabalhos espirituais, pela primeira vez
desde que as denúncias vieram à tona. Durante os poucos minutos que ficou no
local, ele disse que era inocente e que confiava na Justiça de Deus e dos
homens.
“Meus queridos irmãos e minhas queridas irmãs, agradeço a
Deus por estar aqui. Ainda sou irmão de Deus, mas quero cumprir a lei
brasileira porque estou na mão da lei brasileira. João de Deus ainda está vivo.
A paz de Deus esteja convosco”, diz João de Deus.
A assessora de imprensa do religioso, Edna Gomes,
afirmou, após as declarações, que o médium era inocente, mas que as denúncias
eram graves e deveriam ser apuradas.
Denúncias
O jornal "O Globo", a TV Globo e o G1 têm
publicado nos últimos dias relatos de dezenas de mulheres que se sentiram
abusadas sexualmente pelo médium. Não se trata de questionar os métodos de cura
de João de Deus ou a fé de milhares de pessoas que o procuram.
A força-tarefa que investiga as denúncias contra João de
Deus começou o trabalho de investigação na segunda-feira (10), depois que o
programa Conversa com Bial divulgou o relato de 10 mulheres que disseram ter
sido abusadas sexualmente pelo médium.
O Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO), que assim
como a Polícia Civil, investiga a suspeita de crimes sexuais durante
tratamentos feitos pelo religioso, havia contabilizado, até este domingo (16),
mais de 300 denúncias contra o médium.
Para atender às mulheres que não moram em Goiás, o MP-GO
preparou uma sala de videoconferência. Nela, ficam os cinco promotores de Goiás
que participam da força-tarefa, duas psicólogas e dois tradutores de línguas
estrangeiras.
“Temos casos fora do Brasil, por isso, temos a
necessidade de acompanhamento para ajudar a gente a esclarecer todas essas
situações”, afirma o procurador-geral do órgão, Benedito Torres.
Fonte: G1 Goiás.