No primeiro evento público em que apareceram juntos desde
que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou
movimentação atípica nas contas de um ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ),
o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), e seu filho evitaram a imprensa,
discursaram como se ainda estivessem em campanha e procuraram demonstrar
naturalidade para uma plateia formada basicamente por policiais militares,
autoridades estaduais e municipais e convidados da prefeitura de Duque de
Caxias.
Jair Bolsonaro e seu filho Flávio estiveram na manhã
desta segunda-feira (17) na cidade da Baixada Fluminense para a inauguração do
colégio Percy Geraldo Bolsonaro. A escola, que será gerida e dedicada a filhos
de policiais militares do Rio de Janeiro, foi batizada com o nome do pai do
presidente eleito - que fora dentista no interior de São Paulo.
No último dia 6, o jornal O Estado de S. Paulo revelou
que um relatório do Coaf apontou movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em uma
conta no nome de Fabricio Queiroz, ex-assessor do deputado estadual e senador
eleito Flávio Bolsonaro. Os valores foram movimentados entre janeiro de 2016 e
janeiro de 2017. O assunto - e, sobretudo, a falta de explicações sobre ele -
vem arranhando a imagem dos Bolsonaro a menos de um mês da posse do novo
presidente.
Nesta segunda-feira, 17, eles aproveitaram um evento
público que reuniu policiais militares e políticos apoiadores para tentar
demonstrar naturalidade. Como de costume, Jair Bolsonaro chegou sob forte
esquema de segurança. Flávio, por sua vez, chegou instantes depois. Ambos foram
para uma sala reservada antes de se posicionarem no palco.
Flávio era o mais sorridente. A proposta de instalação de
uma escola dedicada a filhos de policiais militares - a terceira no Estado -
teria partido dele, como foi anunciado mais de uma vez. Quando pegou o
microfone, o deputado enalteceu o pai.
"Eu queria dizer o seguinte: o presidente eleito
Jair Bolsonaro nem assumiu ainda e já está inaugurando uma escola
militar", discursou.
Jair Bolsonaro repetiu falas do período eleitoral. Ele
elogiou instituições de ensino geridas por militares e criticou o que chamou de
ideologia de gênero.
"Hoje nós vemos que os colégios militarizados,
colégios militares, estão na frente em grande parte dos demais. Não tem nada a
ver no tocante à qualidade do professor, são muito parecidos. É que se perdeu
ao longo do tempo a possibilidade do exercício de autoridade por parte dos
mestres", afirmou. "Com o tempo passou-se a instituir outras coisas à
sociedade, como por exemplo a malfadada ideologia de gênero, dizendo que
ninguém nasce homem ou mulher, que isso é uma construção da sociedade. Isso é
uma negação a quem é cristão, é uma negação a quem realmente acredita no ser
humano. Ou se nasce homem, ou se nasce mulher", continuou Bolsonaro.
Na saída, repórteres e cinegrafistas foram levados a uma
sala onde Jair Bolsonaro iria supostamente dar entrevista. Mas o presidente
eleito saiu por outro lado e deixou o local sem falar com a imprensa. Flávio
Bolsonaro também não foi mais visto.
No domingo, Jair Bolsonaro conversou com os repórteres
durante dois minutos enquanto tomava água de coco em um quiosque na Barra da
Tijuca, a cerca de 400 metros do condomínio onde mora. Ele encerrou a
entrevista quando foi indagado sobre as suspeitas apontadas pelo Coaf.
Fonte: Diário de Pernambuco