Palácio do Planalto, mas a chance de que ele vire o jogo
é baixa, na visão de especialistas. Para ganhar a eleição, o petista precisa
reverter a diferença de 15 milhões de votos que o separa de Jair Bolsonaro
(PSL), segundo as pesquisas. Isso significa conquistar, pelo menos, 1,5 milhão
de votos válidos por dia até domingo, quando os brasileiros irão novamente às
urnas — e esses votos têm de sair do total recebido até agora pelo adversário.
Pesquisa Ibope divulgada ontem mostra que Haddad tem 43% dos votos válidos
(descartados nulos e brancos), o que equivale a 46 milhões de eleitores, caso
seja mantida a mesma abstenção do primeiro turno, quando 20,3% não foram às
urnas. Está, portanto, 14 pontos atrás de Bolsonaro, que lidera a corrida com
57% — 61 milhões de votos, se usada a mesma métrica.
No primeiro turno, 107 milhões de brasileiros votaram em
algum candidato — nulos e brancos não entram na conta, porque são
desconsiderados no cálculo final. Se a mesma quantidade escolher um dos dois no
domingo, o vencedor precisará de 53,5 milhões de votos para ser eleito. Para
Bolsonaro, significa receber mais 4,3 milhões em relação ao que conseguiu no
primeiro turno. Para Haddad, 22,2 milhões.
Mesmo se o petista conquistasse todos os indecisos — 3,1
milhões, segundo a pesquisa Ibope de ontem, mantida a abstenção do primeiro
turno —, seria insuficiente para virar. Ele precisaria também tirar votos que
hoje são declaradamente de Bolsonaro. Apesar do aumento de 41% para 43% das
intenções de voto em Haddad, na comparação com a pesquisa divulgada na semana
passada, a missão é difícil, acredita o analista político Murillo de Aragão, da
Arko Advice. “Já se admite que possa haver uma subida nos últimos dias. Mas
mesmo se, no esforço final, ele conseguir avançar para 45% ou 46%, ainda é
improvável que chegue a 50% mais um e ganhe”, avalia. A chance é “muito baixa”,
segundo ele, porque as pesquisas mostram um nível de aderência maior a favor de
Bolsonaro: 37% dos entrevistados dizem que votam no capitão reformado “com
certeza”, contra 31% entre os eleitores do professor.
Rejeição
Nem o apoio, considerado tardio, de Marina Silva (Rede) e
José Maria Eymael (DC), divulgados na última segunda-feira, deve fazer
diferença a essa altura. Juntos, eles tiveram 1,1 milhão de votos no primeiro
turno, menos do que Haddad precisaria por dia para decolar. Além disso, nem
todos os eleitores migram para o candidato do PT — ainda menos este ano, devido
ao crescimento do antipetismo. O Ibope divulgou que 41% das pessoas não
votariam “de jeito nenhum” em Haddad — uma queda em relação aos 46% da semana
passada, mas ainda um pouco maior que a rejeição a Bolsonaro, de 40%. No
levantamento anterior, o candidato do PSL era rejeitado por 35% dos eleitores.
O terceiro colocado na primeira fase do pleito, Ciro
Gomes (PDT), que teve 13,3 milhões de votos, também é contrário a Bolsonaro,
mas não se engajou na campanha para o PT, o que pode ter limitado a
transferência de votos, porém, não a ponto de mudar o quadro, segundo
especialistas. O cientista político César Alexandre de Carvalho, da CAC Consultoria,
ressalta que Haddad não precisaria apenas tirar votos do candidato do PSL, mas
avançar em regiões difíceis para o petista, como o Sudeste. “Ele perde em Minas
Gerais, no Rio de Janeiro e em São Paulo, os três maiores eleitorados do país”,
observa. Até no Nordeste, historicamente um reduto do PT, Haddad tem apoio
menos expressivo do que tiveram candidatos anteriores da sigla. Em 2014, no
primeiro turno, Dilma Rousseff conseguiu 16,3 milhões de votos na região. Este
ano, Haddad teve 14,5 milhões.
Para que o cenário mude até domingo, é preciso que haja
um fato novo de muita repercussão, o que não aconteceu até agora, aponta
Carvalho. A denúncia de que empresários teriam pago agências para divulgar
notícias falsas em benefício de Bolsonaro não foi suficiente para que ele
despencasse nas pesquisas. “Precisaria ter dinheiro na mesa, uma coisa muito
grave, com provas. Não adianta só a denúncia, tem de ter escuta telefônica,
assinatura, algo palpável”, explica.
As estatísticas de eleições passadas vão na mesma direção
do que afirmam os especialistas. Em 2014, a cinco dias do segundo turno, Dilma
tinha 52% das intenções de votos válidos, contra 48% de Aécio Neves (PSDB),
pela pesquisa Datafolha. Dois dias depois, pelo Ibope, o placar era de 54%
contra 46%. No fim das contas, a petista foi reeleita com 51,64%, contra 48,36%
do tucano, praticamente o que havia sido previsto cinco dias antes. “A
mobilidade dos votos no segundo turno é menor. O cenário já está mais
consolidado”, afirma Carvalho.
Fonte: Diário de Pernambuco