Com 412,9 mil votos, a
delegada Gleide Angelo (PSB) conseguiu, em sua primeira disputa a um cargo
público, quebrar dois recordes: além de ter obtido o maior quantitativo de
votos para o cargo de deputado estadual desde a redemocratização, ela também
quebrou a hegemonia masculina que imperava entre os mais votados ao Legislativo
estadual, já que desde 1994 o primeiro colocado entre os eleitos era um homem.
A deputada eleita faz parte dos 22 parlamentares que vão compor a bancada da
Casa de Joaquim Nabuco pela primeira vez a partir do próximo ano.
Conhecida do eleitorado
pernambucano devido a sua atuação em casos de grande repercussão no estado, a
socialista não só desbancou o deputado Cleiton Collins (PP), que desde 2006 era
o campeão de votos na Assembleia Legislativa, como obteve quase o quádruplo de
votos do pepista. “O que eu enxergo é que houve um reconhecimento da população
aos meus 15 anos de trabalho na Polícia Civil. As pessoas acreditam no meu
trabalho e me deram um voto de confiança”, disse, ressaltando a força do
eleitorado feminino. “É a demonstração de que as mulheres precisam de
representação. Como podemos ter uma Assembleia com 43 homens e seis mulheres?
As pessoas enxergaram que precisamos de igualdade”.
Com gastos de R$ 359,4 mil
declarados à Justiça Eleitoral até a noite de ontem, a campanha da socialista
focou nas redes sociais. “A campanha foi os meus amigos. Todo dia nos
juntávamos e íamos para a rua. Gleide não é Gleide, mas sim um grupo”, disse a
deputada eleita. Segundo deputado estadual mais votado, Cleiton Collins teve
106,3 mil votos, bem abaixo dos 216 mil obtidos em 2014. “Essa eleição foi mais
curta, eu não consegui ir nem na metade dos lugares que queria. Não deu para
gastar muita sola de sapato”, justificou.
Na avaliação da cientista
política da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda, Priscila Lapa, a
credibilidade que Gleide já tinha junto à sociedade e o fato de o tema da
violência estar em alta no país justificam a vitória acachapante. “Ela não se
tornou popular do dia para a noite. Ela juntou o útil ao agradável: já tinha
uma imagem positiva e acabou surfando um pouco nessa onda da discussão sobre
segurança”.
Os números mostram que,
diferentemente de 2014, quando houve renovação de 53%, neste ano o percentual
foi de 48,9%. Em termos de bancadas, não houve grandes mudanças e o governador
reeleito Paulo Câmara (PSB) não deve encontrar dificuldades para aprovar
projetos: o PSB e o PP continuaram com o maior número de deputados, com 11 e 10
cadeiras, respectivamente, muito embora os pepistas tenham perdido quatro vagas
em relação à legislatura atual e os socialistas, uma. Outra novidade ficou por
conta da candidatura Juntas, do Psol, que vai ocupar um mandato compartilhado
na Casa de Joaquim Nabuco (o primeiro desse tipo no estado).
Nessa dança das cadeiras, 17
parlamentares que tentavam a reeleição não conseguiram renovar seus mandatos. É
o caso de nomes como Laura Gomes (PSB), Edilson Silva (Psol), Socorro Pimentel
(PTB), entre outros. Entre os novatos, há nomes que pertencem a tradicionais
famílias políticas do estado: é o caso, por exemplo, de Fabíola Cabral (PP),
filha do atual prefeito do Cabo de Santo Agostinho, Lula Cabral (PSB), e de
João Paulo Costa (Avante), filho do deputado federal Silvio Costa (Avante).
Nomes como José Queiroz (PDT) e João Paulo (PCdoB) voltam a ocupar um assento
no Legislativo estadual.
Diario de Pernambuco