Com o intuito de ajudar no
processo de ressocialização dos detentos idosos das Penitenciárias de Tacaimbó
e Caruaru, no Agreste de Pernambuco, o Centro Universitário Tabosa de Almeida
(Asces-Unita) criou os projetos de extensão "Envelhecer no Cárcere" e
"CineCidadania". Coordenado pela professora Wanda Medeiros, a
iniciativa, que tem a participação de alunos de direito consiste em promover
ações com rodas de conversas quinzenais aos detentos idosos da unidade
prisional de segurança máxima.
O 'Envelhecer no Cárcere',
atua na penitnciária Juiz Plácido de Souza em Caruaru e leva oficinas e
atividades para ajudar os detentos. "No envelhecer, nós levamos eles [os
presidiários idosos] para o cinema, fazemos oficinas, levamos professores de
atividades físicas, lanches diferentes para harmonizar com a atividade e
fazemos uma tarde de alegria, que o tempo passa e eles nem percebem",
disse Wanda.
A primeira parte da
iniciativa foi descobrir o perfil desses idosos e, por meio de pesquisas,
realizar um levantamento para identificar qual era a trajetória dessas pessoas.
"Percebemos que eram perfis de pessoas humildes, de baixa renda, que
moravam na zona rural, com um modelo de criação machista, sem uma família
estruturada", pontuou Wanda.
A professora universitária
afirmou que os idosos que estão dentro do sistema penitenciário são esquecidos
e excluídos socialmente. "Os idosos acabam ficando separados, não
interagem com outros presos e ficam dentro de um local separado dos outros, até
por questões de constrangimento que eles possam passar.iolações e violências
propriamente ditas", destacou o professor de direito penal Adrielmo de
Moura.
Pinturas produzidas pelos
detentos durante o projeto promovido pela Asces-Unita — Foto: Wanda
Medeiros/Arquivo Pessoal Pinturas produzidas pelos detentos durante o projeto
promovido pela Asces-Unita — Foto: Wanda Medeiros/Arquivo Pessoal
Wanda ainda salientou que
"o sistema [penitenciário] não tem instalações específicas para idosos,
como a Lei de Execução Penal prevê, e nós encontramos essas pessoas abandonadas
pelas famílias, com penas longas, precisando de um olhar mais humano e de algo
que dê a eles uma esperança. A falta de infraestrutura para idosos nas prisões
onfende o Estatuto do Idoso".
A Lei de Execução Penal
serve a dois objetivos: um que é tirar o indivíduo do meio social e fazê-lo
refletir sobre o erro cometido, numa situação de isolamento; e outr que é o cumprimento
legal da pena, a sanção, conforme ressaltou a professora.
"As prisões passaram a
ser apenas um local onde o sujeito vai porque a lei diz que é o 'castigo' dele,
mas não há nenhuma outra ação que faça com que ele reflita, corrija o erro e se
prepare para a vida depois da prisão", falou Wanda.
CineCidadania
'CineCidadania' leva filmes
com temáticas reais e interessantes para que os detentos assistam — Foto: Wanda
Medeiros/Arquivo Pessoal 'CineCidadania' leva filmes com temáticas reais e
interessantes para que os detentos assistam — Foto: Wanda Medeiros/Arquivo
Pessoal
O CineCidadania, trabalha
com os detentos da Penitenciária de Tacaimbó e leva filmes com temáticas reais
e interessantes para que os detentos assistam e possam trabalhar, por meio de
um diálogo crítico, o que perceberam do filme, como isso se encaixa na vida
cotidiana e qual a lição que podemos aprender através disso.
Toda essa iniciativa faz
parte de um processo de ressocialização, de inclusão dos presos. "As
pessoas que estão lá, a qualquer dia vão voltar para o nosso convívio, e esse
movimento de trabalhar a ressocialização virou um mito, uma história de contos
de fada", ressaltou a professora Wanda Medeiros.
É importante salientar que o
projeto não é uma consolação, conforme informou Wanda. "A gente também não
vai para lá para passar a mão na cabeça deles, dizer que eles são anjos. Nós
vamos até lá para dizer que eles erraram, mas nenhum erro é maior que o homem.
Então, esse momento de reflexão é a hora deles decidirem o que vão fazer quando
saírem da prisão".
"Eles têm que arcar com
esse erro e não devemos dizer a eles que quando saírem vão encontrar tudo
fácil. [Temos que dizer que] a realidade é dura, [e falar:] 'vocês vão ter que
ralar e a partir disso vão decidir se vale a pena voltar' [para o
presídio]", Wanda Medeiros.
Relação dos alunos com os
detentos
Equipe que participa da
realização do projeto 'CineCidadania' — Foto: Wanda Medeiros/Arquivo Pessoal Equipe
que participa da realização do projeto 'CineCidadania' — Foto: Wanda
Medeiros/Arquivo Pessoal
Para participar do projeto,
os alunos interessados passam por uma seleção. Eles se inscrevem e participam
de uma fase de preparação, na qual é mostrado como é o sistema e os objetivos
do projeto. "Nós deixamos eles a par de tudo, porque nós sabemos que é um
ambiente que foge da nossa realidade", destacou a professora.
No final de cada semestre é
feita uma avaliação com os alunos no intuito de saber como foi o
desenvolvimento do projeto e a interação deles com os detentos.
"Em 100% das avaliações
os alunos sempre falam que o projeto mudou a visão deles, que eles vivenciaram
um processo de humanização com esse contato. Eles se envolvem mais do que nós
imaginamos. Por conta própria, os estudantes sempre arrecadam dinheiro para
fazer lanches diferentes. Em épocas comemorativas eles realizam ações
diferentes", afirmou Wanda.
*Sob supervisão de Joalline
Nascimento
Fonte:G1