Escolhido por 155.522 paulistas para representar São
Paulo na Câmara dos Deputados, Alexandre Frota protagoniza um script que não
surpreende pelo ineditismo. Já vimos esse filme com a ex-atriz pornô
Cicciolina, nome artístico de Elena Anna Staller, que em 1987 entrou para o
parlamento italiano com a segunda maior votação daquele ano. A novidade da
versão brasileira é a pegada “familiar”.
Famoso pela paradigmática atuação no longa erótico A
boneca da casa (Brasileirinhas, 2004), Frota é filiado ao PSL, sigla
conservadora que tem entre seus principais valores a defesa da família
cis-heteronormativa brasileira. Os pesselistas inclusive ensaiam uma
aproximação com o DEM, que, no fim de 2016, ganhou as manchetes com o Projeto
de Lei nº 6.449/2016, apelidado de “antimasturbação”. De autoria do deputado
federal Marcelo Aguiar (hoje, do PSB), a medida visa proibir o acesso a sites
pornográficos no Brasil.
A nova tribo parece confortável ao carioca de 55 anos. “Descobri que sou um
conservador com uma cabeça bem liberal”, diz Alexandre, casado há 6 anos com
Fabi Frota, grávida de 7 meses de uma menina. O primogênito é Mayã Frota, de 20
anos, fruto de um relacionamento casual com Samantha Lima Gondim. A conturbada
relação entre pai e filho recentemente teve alguns capítulos publicados no
Twitter .“Construí uma família, e aí passei a entender a vida de uma outra
perspectiva. Fui dependente químico durante 20 anos e estou há 12 completamente
limpo. Não bebo, não fumo, não cheiro. Então, quando entrei para o PSL,
convidado pelo próprio Jair Bolsonaro, eu já estava alinhado com o os valores
do partido”, conta.
Frota é categórico ao afirmar que a carreira artística
(iniciada em 1984 na Globo) está definitivamente encerrada em todos os meios
pelos quais passou - TV, cinema convencional e entretenimento pornô. O
parlamentar, contudo, não faz planos de virar as costas para este último metiê,
em que trabalhou por 6 anos. Questionado sobre seu interesse em trazer ao
Congresso pautas relativas ao entretenimento adulto (discussão que já acontece
entre congressistas da Califórnia, por exemplo), ele afirma que a possibilidade
não está descartada. “Olha só, esse segmento, até hoje, não me procurou. Se me
procurassem, eu até atenderia. Não tenho absolutamente nada contra a indústria
pornográfica. A gente vive num país muito hipócrita, cheia de falsos
moralistas. Muita gente que me critica pelo meu passado também consome esses
produtos”, comenta.
O político assume um tom levemente ressentido quando se
lembra como os antigos colegas se posicionaram em relação à sua candidatura.
“Ninguém me procurou nem para me apoiar. Eu fui muito massacrado, muito apedrejado
virtualmente. Se eu não fosse um cara que tem estrutura ou estômago, teria
desistido de tudo, porque bateram forte em mim usando isso (seu passado como
ator de filmes adultos). Pra não dizer que ninguém se manifestou, pouco tempo
atrás, houve uma espécie de premiação do cinema pornô. Os participantes da
cerimônia foram questionados por um site sobre o que eles achavam do fato do
Alexandre Frota ter entrado para a política com a votação expressiva que eu
tive. Cinquenta por cento deles me apoiaram, cinquenta por cento me
criticaram”, relembra.
Soldado do capitão
Em março deste ano, o então pré-candidato à presidência
Jair Bolsonaro disse, em tom de brincadeira, que “gostaria de ver Alexandre
Frota como Ministro da Cultura” (importante frisar que nunca houve um convite
oficial). O deputado afirma que, ainda que fosse indicado, não tem interesse na
pasta. “Eu sou um soldado do Jair Bolsonaro. Fui eleito para ser deputado
federal, e vou lutar para ser, senão o melhor, pelo menos um dos três melhores
do Congresso. Eu até já sugeri alguns nomes para o Ministério da Cultura e
tenho propostas para a área cultural, mas prefiro não tocar nesse assunto
agora”.
A reportagem insiste: “Não poderia revelar ao menos um
nome e um dos seus projetos?”.
“Não, não vou te passar nada”, responde o político