Era março de 2018 quando o
técnico Roberto Dornelas recebeu a notícia. Ao fim da temporada da Liga de
Basquete Feminino, a Uninassau não renovaria contrato com o time profissional.
Nas quadras, disputou a última partida no início de maio, chegando ao terceiro
lugar da competição. Quatro meses depois, sem patrocínio para 2019, treinador
revela grande risco de Pernambuco ficar fora da próxima LBF - marcada para
acontecer de março a setembro. Precisa confirmar a vaga até o fim de outubro.
Caso isso não aconteça, será a primeira vez, após seis anos, que um time local
ficará fora da Liga. Em todos esses anos, Roberto Dornelas esteve presente como
treinador em algum dos projetos.
"É uma queda no
precipício. Porque logo depois que entramos na Liga as escolinhas cresceram no
estado. E com isso vieram exigências, de ter mais campeonatos, voltamos a ter
atleta na Seleção, a ser campeões brasileiros no escolar. Houve um crescimento
não só massificado, mas técnico também. Se o espelho deixa de existir... Você
tem aquela imagem, só que tua memória vai se apagando. Meu medo é esse. Tudo
pode ir por água abaixo pelo esquecimento. Eu tive uma grande frustração na
minha carreira, que foi minha saída do Sport. Essa seria a segunda."
Com um mês pela frente até o
fim do prazo, o treinador abriu negociação com três empresas diferentes. Uma
dessas frentes, inclusive, é a Prefeitura do Recife - responsável pelo ginásio
Geraldão, que está perto de ter as obras finalizadas. Nenhuma delas acenou
positivamente para segurar a equipe.
- Quanto mais tempo passa,
menos aporte com atletas podemos fazer. Como dispensamos a equipe e não demos
perspectiva de volta, corre o risco de não ter nem atleta para contratar. Até
porque só dá para negociar quando tiver certeza de que vai participar. A gente
não vê nenhuma empresa querendo fazer a parceria, então estamos correndo um
risco muito grande de ficar fora da próxima Liga.
A RD Sports - assessoria
esportiva comandada por Dornelas, gerenciadora da Uninassau, nesta temporada -
tem apresentado três projetos: um orçamento para montar uma equipe que apenas
participe, outro para chegar entre as quatro primeiras e um último para brigar
pelo título. Os valores, que variam de R$ 60 a R$ 160 mil por mês, abarcam
estrutura - como apartamento para as atletas -, comissão técnica e elenco.
A regra na Liga de Basquete
Feminino é que toda equipe nova na disputa deve desembolsar uma taxa de R$ 10
mil para a inscrição. Como a Uninassau tem o direito para 2019, o treinador
negocia com a universidade e a Liga para obter uma carta que ateste a
transferência da vaga - e evite que a equipe pernambucana precise investir
ainda mais. Já que o técnico também precisará voltar ao mercado para trazer ao
menos nove contratações para compor o time.
E a equipe de 2018?
Menos da metade do elenco
permaneceu no Recife. Eram 15 no grupo de 2018, mas, após o encerramento do
contrato com a Uninassau, somente cinco pernambucanas e uma carioca ficaram.
Foram elas as pivôs Luiza e Jennifer, a armadora Mariana, a ala Mariana
Paraíba, a ala armadora Debora e a ala pivô Nicole - do Rio de Janeiro, mas que
decidiu terminar os estudos na cidade.
Além do elenco, parte da
comissão técnica - como psicóloga, preparador físico, nutricionista e seis
estagiários da fisioterapia - foi liberada. Somente o fisioterapeuta principal,
o treinador Roberto Dornelas e seu auxiliar Alemão permanecem em atividade. Os
três mantêm os treinamentos com as seis remanescentes. Todas recebem bolsa de
estudo na Uninassau e cinco delas são atendidas pelo Programa Bolsa Atleta do
Estado. Desde julho elas têm dividido os trabalhos de quadra com jogadoras
promovidas do Sub-17 e Sub-19.
O que vem pela frente
O treinador conta que uma
vantagem para as equipes em 2019 é que a Liga começará a arcar com as passagens
aéreas, enquanto os clubes ficarão responsáveis por manter o time, custear
alimentação e hospedagem. Nesta temporada serão dez na disputa. E a expectativa
é de que o número suba para 12, em 2020. Mas, à medida que a Liga cresce,
aumenta também a concorrência para garantir uma vaga. Caso, por exemplo, da equipe
financiada pelo Instituto Babby - do ex-pivô Rafael Babby -, no Rio Grande do
Norte, que está disputando o Paulista em parceria com a prefeitura de
Pindamonhangaba, em São Paulo, e será novidade nesta LBF.
"Se a gente não entrar,
fica ameaçada até a vaga da gente para o outro ano. Porque, quando você está
dentro, é menos difícil conseguir apoio. Mas passar um ano todo fora, até
porque a Liga vai crescer, pegar atletas que estavam na Europa, já que a
temporada termina em maio, o nível técnico vai subir... Você dificilmente vai
ter outra condição de montar uma equipe tão forte."
Na corrida contra o tempo, o
treinador se agarra às possibilidades para, ao menos, garantir a vaga na edição
de 2019 - evitando um retrocesso do cenário do basquete ainda precário em
Pernambuco. Mesmo que, para isso, precise trabalhar sem condições de brigar
pelo título.
- Pensaríamos em montar uma
equipe nova, jovem, para garantir essa vaga, e no próximo ano encorpar,
pontualmente contratar para fazer um time que chegue a brigar pelo título. Mas
a gente vê uma dificuldade muito grande em trazer o empresário para o esporte
olímpico, amador. Isso é geral no Brasil, e em Pernambuco, não é diferente.
Apesar de a gente ter tido um retorno publicitário imenso, é complicado.
Fonte:GE