Sergio Roxo – O Globo
GARANHUNS (PE). Provável substituto de Lula como
candidato do PT a presidente, Fernando Haddad sentiu novamente na pele, na
tarde deste sábado, os efeitos do desconhecimento por parte do eleitor em
agenda de campanha em Garanhuns (PE), terra natal do ex-presidente petista.
Apesar de ter sido assediado para posar para fotos, o ex-prefeito de São Paulo
também viu eleitores chamá-lo de "Andrade" ou simplesmente não
saberem quem caminhava pelas ruas da cidade ao lado do governador Paulo Câmara
(PSB), candidato à reeleição.
Cabos eleitorais de candidatos do PSB dominaram a
caminhada de Haddad. Apesar de ter ficado neutro na disputa nacional, o PSB
pernambucano declarou apoio à candidatura presidencial petista. Um dos
principais nomes do PT em Pernambuco, Marília Arraes, que teve a candidatura ao
governo do estado retirada por determinação da direção nacional de sua legenda,
não participou do evento. Ela alegou conflito com a agenda de sua candidatura a
deputada federal. Marília é adversária de Paulo Câmara.
Entre os apoiadores que turbinaram a caminhada do candidato
petista a vice, estavam os cabos eleitorais de João Campos, filho de Eduardo
Campos, que disputará uma vaga de deputado federal este ano pelo PSB. Campos
morreu em 2014 numa queda de avião quando disputava a Presidência da República
contra Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). No comício realizado ao final
da caminhada, Haddad citou João e falou que gostaria de "fazer uma
homenagem a Eduardo Campos".
No ato, ainda foi executado o jingle da campanha
presidencial do PT que destaca Lula, apesar da decisão de cassação da
candidatura por parte do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Numa carta lida
pelo presidente da CUT, Vagner Freitas, o ex-presidente também se colocou como
postulante ao Palácio do Planalto e lembrou os projetos implantados em Pernambuco
quando estava no governo federal.
— Temos fé que comigo na Presidência e Paulo Câmara
podemos recuperar aquele tempo — disse Lula, na carta lida por Vagner.
Na tentativa de apresentar Haddad ao pública, o locutor
apelou:
— Tem um ditado que diz: amigo do meu amigo é meu amigo
também. Se Lula é nosso amigo, se é amigo de Paulo (Câmara) e é amigo de
Haddad, Haddad também é nosso amigo.
Ao discursar, o senador petista Humberto Costa, candidato
à reeleição, tratou da possibilidade de voto em Haddad para presidente, coisa
que o atual da vice da chapa petista se recusa a fazer.
— Se eles não deixarem Lula ser candidato, pode ter
certeza que nós vamos eleger você (Haddad) presidente da República — disse
Costa, dirigindo-se ao candidato a vice.
Antes, enquanto Haddad caminhava pelas ruas ao lado de
Câmara, um homem gritava próximo à calçada:
— É o Andrade.
O estudante Lucas de Oliveira Ramos, de 19 anos, saiu do
município de Águas Belas, a 80 quilômetros de Garanhuns, para participar do
evento e conseguiu se aproximar dos políticos para fazer uma foto. Mas
perguntou a pessoas de seu grupo quem era aquele ao lado de Paulo Câmara.
— Como é mesmo nome desse rapaz ? — indagava.