Gênero literário, veículo de comunicação, ofício e meio
de sobrevivência para inúmeras pessoas, a literatura de cordel foi reconhecida
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como
Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. A decisão foi tomada por unanimidade
pelo Conselho Consultivo, reunido no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro.
Apesar de ter começado no Norte e no Nordeste do país, o cordel hoje é
disseminado por todo o Brasil, principalmente por causa do processo de migração
de populações.
"Poetas, declamadores, editores, ilustradores,
desenhistas, artistas plásticos, xilogravadores, e folheteiros, como são
conhecidos os vendedores de livros, já podem comemorar, pois agora a literatura
de cordel é Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro", anunciou o órgão,
em reunião com as presenças do ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, da
presidente do Iphan, Kátia Bogéa, e do presidente da Academia Brasileira de
Literatura de Cordel, Gonçalo Ferreira.
O cordel foi inserido na cultura brasileira ao final do século 19. O gênero
resultou da conexão entre as tradições orais e escritas presentes na formação
social brasileira e carrega vínculos com as culturas africana, indígena,
europeia e árabe. Tem ligação com as narrativas orais, como contos e histórias,
à poesia cantada e declamada e à adaptação para a poesia dos romances em prosa
trazidos pelos colonizadores portugueses.
Originalmente, a expressão literatura de cordel não se
refere em um sentido estrito a um gênero literário específico, mas ao modo como
os livros eram expostos ao público, pendurados em barbantes, em uma espécie de
varal.
De acordo com o Iphan, os poetas brasileiros no século 19
conectaram todas essas influências e difundiram um modo particular de fazer
poesia que se transformou numa das formas de expressão mais importantes do
Brasil. Segundo o Ministério da Cultura, trata-se de uma expressão cultural que
“revela o imaginário coletivo, a memória social e o ponto de vista dos poetas
sobre acontecimentos vividos ou imaginados”. Hoje, Pernambuco, Paraíba, Rio
Grande do Norte, Ceará e Bahia são os principais celeiros de produção e consumo
da arte.
Em Pernambuco, a literatura é destaque em festivais. Em
Caruaru, há o Museu do Cordel Olegário Fernandes e também a Academia
Caruaruense de Literatura de Cordel (ACLC), fundada em 2005 para valorizar os
poetas do passado e incentivar futuros cordelistas.
O cordel tem uma rica poética e seus versos podem vir em
quadra, sextilha, septilha, oitava, quadrão, décima, martelo, galope à
beira-mar, redondilha ou carretilha. Métricas e rimas embaladas com causos de
humor, reflexão e temáticas das mais variadas.
REPRESENTANTES
A literatura de cordel tem icônicos representantes do
passado como o cearense Aderaldo Ferreira de Araújo, o Cego Aderaldo, os paraibanos
Leandro Gomes de Barros, Apolônio Alves dos Santos e Aderaldo Ferreira de
Araújo, o piauiense Firmino Teixeira do Amaral, os pernambucanos José Pacheco
da Rocha, Elias Carvalho, João Ferreira de Lima, Manoel Monteiro e Severino
Milanês, entre outros célebres nomes. A tradição também acompanha o tempo e se
atualiza, como no trabalho do cordelista pernambucano Josué Limeira, que
transforma em cordel histórias como as de O pequeno príncipe, Pokémon e Game of
thrones.
A história do cordel também tem guardiões. Como no caso
da pesquisadora e escritora Maria Alice Amorim. No acervo que leva o seu nome,
a tradição é preservada e há um trabalho de pesquisa documental, com um
conjunto de sete mil exemplares catalogados e digitalizados. O acesso ao conteúdo
pode ser feito na Fundação Joaquim Nabuco, no Recife.
Fonte: Diário de Pernambuco