Em seu primeiro debate como
candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad protagonizou
confrontos na noite desta quinta-feira (20) na TV Aparecida.
O candidato do PT à
Presidência, Fernando Haddad, participa de seu primeiro debate na campanha
promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na TV Aparecida
Diego Padgurschi/Folhapress
O ex-prefeito rivalizou com
o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), que criticou o PT por “lançar
candidatura na porta de cadeia”. Haddadfoi oficializado candidato no dia 11 em
substituição ao ex-presidente Lula, preso em Curitiba.
O petista questionou o
tucano sobre o apoio do PSDB à gestão Michel Temer (MDB), chamada por ele de
“governo Temer-PSDB”, e contestou a reforma trabalhista e a emenda de teto dos
gastos, que julga prejudiciais ao trabalhador.
“Quem escolheu o Temer foi o
PT. Ele era vice da Dilma. Aliás, reincidentes, porque escolheram o Temer duas
vezes”, rebateu Alckmin, que cobrou o petista pela “herança da Dilma e do PT”
na economia.
“Quebraram o Brasil,
destruíram as empresas estatais, o petrolão foi o maior esquema do mundo de
desvio de dinheiro público”, continuou.
Haddad retrucou: “Quem se
uniu ao Temer para trair a Dilma foi o PSDB. Ele [o partido] que colocou o
Temer lá e um programa totalmente diferente do aprovado pelas urnas”.
O tucano e o petista também
se enfrentaram ao discutir a autocrítica de seus partidos. Haddad lembrou
afirmações do presidente do PSDB, Tasso Jereissati, de que a sigla errou ao
questionar o resultado da eleição de 2014 e ao embarcar no governo Temer.
“Todos os partidos estão
fragilizados e todos deveriam fazer autocrítica. Mas o PT, em vez de fazer
autocrítica, lança candidatura na porta de cadeia”, afirmou Alckmin.
Haddad também teve embates
com Henrique Meirelles (MDB). O ex-ministro da Fazenda de Michel Temer defendeu
sua atuação no cargo. “Essa crise, candidato, talvez seja o caso de você se
informar melhor, mas essa crise foi criada pelo governo da Dilma.”
“Eu considero a ingratidão o
maior dos pecados na política”, respondeu o petista, lembrando que Meirelles
foi por oito anos o presidente do Banco Central do governo Lula.
Ele aproveitou para criticar
as novas regras trabalhistas. “Nós temos que rever a legislação aprovada
durante seu mandato no Ministério da Fazenda para recuperar a confiança do
povo. Porque talvez o senhor tenha recuperado a confiança dos banqueiros da
Faria Lima”, disse o ex-prefeito.
“Essa crise foi criada no
governo Dilma”, afirmou Meirelles. O apadrinhado de Lula ressaltou os 12 anos
de “estabilidade democrática” do PT, em que foram “criados 20 milhões de postos
de trabalho”.
Haddad é o segundo colocado
na mais recente pesquisa Datafolha, com 16% das intenções de voto. Jair
Bolsonaro (PSL) lidera, com 28%.
O capitão reformado não
participou do debate, realizado pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil), porque está internado após sofrer um ataque a faca durante ato de
campanha. Sete dos 13 presidenciáveis compareceram.
CPMF
Mesmo ausente, Bolsonaro não
foi poupado, principalmente por Marina Silva (Rede). A candidata atacou a
proposta de criação de imposto nos moldes da extinta CPMF.
“Eu fiquei vendo essa
confusão entre o candidato [...] e o seu economista-mor, Paulo Guedes, que ele
diz que é o Posto Ipiranga, e eu vejo que já está tendo um incêndio no Posto
Ipiranga. Alguma coisa está acontecendo lá, pois eles não estão se entendendo.”
A ex-senadora deu a deixa
para Meirelles falar, em alusão a Bolsonaro, do risco de eleger “alguém que não
tem preparo para administrar o país, principalmente quem não tem preparo em
economia”.
Marina disse que a visão de
país do deputado federal é “nefasta” e precisa ser combatida. A ex-senadora
qualificou como desastrosa a fala do vice dele, Hamilton Mourão (PRTB), de que
casa só com mãe e avó é “fábrica de desajustados” para o tráfico de drogas.
Ciro Gomes (PDT) questionou
Haddad sobre sua proposta para o sistema tributário e disse que o PT perdeu a
oportunidade de fazer mudanças quando governou. “Por que razão o eleitor
deveria acreditar nessas propostas na sua possível gestão se o seu partido
esteve no governo por 14 anos e não fez?”
O petista (que disputa o
eleitorado de esquerda com o pedetista) respondeu que Lula “fez uma das maiores
reformas tributárias às avessas”, ao “colocar dinheiro na mão dos pobres”.
Alvaro Dias (Podemos) também
mirou Haddad, descrevendo-o como um candidato que "vem para essa campanha
como porta-voz da tragédia e representante do caos".
"O PT se transformou na
filosofia do fracasso, na crença a ignorância, no arauto da intolerância",
afirmou Dias. Ele falou ainda que o PT "gerou riqueza para alguns de seus
chefes e delegou a nós brasileiros 63 milhões abaixo da linha da pobreza".
O ex-prefeito de São Paulo,
em resposta, citou programas sociais dos governos do PT como o Minha Casa,
Minha Vida e o Prouni. “Esse é o Brasil que o povo quer de volta e que se
perdeu no golpe”, afirmou.
CORRUPÇÃO
No início do programa, os
candidatos falaram sobre combate à corrupção ao serem questionados sobre ética
na política pelo arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer.
Após desejar boa noite ao
ex-presidente Lula, preso pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro,
Haddad sacou o discurso que tem usado para abordar o tema.
Afirmou que seu partido
fortaleceu instituições que combatem malfeitos e clamou por uma Justiça que não
tenha dois pesos e duas medidas para diferentes colorações partidárias.
O ex-prefeito defendeu “uma
Controladoria forte, uma Polícia Federal forte, um Ministério Público Forte, e
uma Justiça forte e apartidária”.
Marina lançou mão de uma
passagem bíblica ao responder: “Se existe um momento em que Jesus ficou
indignado foi quando ele viu a corrupção e entrou no templo com um chicote para
combater aqueles que estavam profanando”.
Alvaro Dias, como usualmente
faz, enalteceu a Operação Lava Jato, que para ele “é prioridade nacional e deve
ser institucionalizada como uma política de Estado no combate implacável à
corrupção”.
Temas como segurança
pública, educação, imigração, juros bancários, urbanização e direitos indígenas
também foram discutidos pelos candidatos.
Guilherme Boulos (PSOL)
levou ao debate o slogan #EleNão, que mobiliza usuários de redes sociais contra
Bolsonaro. Ele soltou palavras de ordem contra o capitão reformado ao evocar a
desigualdade de gênero para fustigar Álvaro Dias.
O representante do PSOL afirmou
que o adversário do Podemos não incluiu em seu programa de governo mais
propostas para equiparar os salários de homens e mulheres, por exemplo.
Boulos voltou a defender uma
"lista suja do machismo", para punir empresas que não eliminem a
disparidade salarial (proibindo-as de tomar crédito em bancos públicos, por
exemplo).
Cabo Daciolo (Patriota)
alegou “incompatibilidade de agenda” para se ausentar do debate. A assessoria
do candidato informa que ele está em um monte jejuando até o dia 26.
A mediação foi feita pela
jornalista Joyce Ribeiro, que, antes do início do programa, exaltou o fato de
ser a primeira mulher negra a conduzir um debate entre presidenciáveis.
Anna Virginia Balloussier , Isabel Fleck e Joelmir Tavares – Folha de S.Paulo