Josias de Souza
Mais do que em qualquer outra eleição, a campanha de 2018
colocou o Brasil numa encruzilhada. Um pedaço do eleitorado trafega pelo
caminho que leva à cadeia. Outro naco de eleitores prefere a trilha que conduz
ao hospital. Ao fundo, ouve-se o barulho provocado por meia dúzia de candidatos
que se oferecem como alternativas ao poste fabricado atrás das grades e à
vítima da facada, recolhida à UTI.
Consolidou-se um deslocamento geográfico da campanha
presidencial. Preso, o ficha-suja inelegível transformou sua cela especial num
comitê eleitoral de onde articula sua substituição na cabeça da chapa.
Esfaqueado, o rival do polo oposto transforma seu drama clínico num grande ato
de campanha, postando desde a UTI vídeos, fotos e mensagens nas redes sociais.
A um mês do dia da eleição, os dois protagonistas da
disputa, Lula e Bolsonaro, guerreiam em trincheiras extremas: uma cela e uma
UTI. As principais armas do combate são o veneno ideológico e a mistificação
emocional. Num cenário assim, marcado por posições extremas, o extremismo que
mais preocupa é o da agenda extremamente vazia. O maior perigo para o eleitor
não é o risco da falta de sabedoria na escolha. O risco mais latente é o da
falta de opção.
Fonte: Blog do Magno