Segundo o Ministério da Saúde, por ano, cerca de 800 mil
pessoas tiram as suas próprias vidas em todo o mundo. No Brasil, o número é de
11 mil pessoas, sendo a quarta maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29
anos. Em Pernambuco, cerca de 337 pessoas desistem de viver anualmente, o que o
torna o décimo estado brasileiro com mais casos. O primeiro boletim
epidemiológico de tentativas e óbitos por esse tipo de morte, divulgado em
setembro do ano passado também pelo Ministério da Saúde, revela ainda que, de
2011 a 2015, foram registrados 1.688 casos em terras pernambucanas.
Para combater os números alarmantes, setembro ficou amarelo para conscientizar
as pessoas a prevenção do suicídio e alertar sobre essa realidade em todo o
mundo e suas formas de combate. Por muito tempo, o suicídio foi visto como tabu
e as pessoas que cometiam tal ato eram consideradas como fracas e covardes,
mesmo tendo chegado a tal extremo movido pelo desejo de libertação. Não falar
sobre o assunto ou julgar quem perdeu a vontade de viver não é o caminho, é
preciso trazer esse tema à tona para ajudar quem precisa de apoio,
identificando quando quem está perto está desistindo da vida.
O psicólogo professor e coordenador da pós-graduação em Saúde mental, álcool e
outras drogas do Instituto de Desenvolvimento Educacional (IDE), Paulo Aguiar,
conta que não existe características suicidas, pois cada caso tem suas
particularidades a partir das suas experiências de vida. “Porém, algumas falas
podem ser observadas, que apontem para uma tentativa de pôr fim a vida. Assim,
é fundamental uma atenção especial quando ouvimos determinadas expressões que
apontem para isso”, explica o docente.
Os membros da família são peças fundamentais para ajudar uma pessoa com
pensamentos suicida, pois a proximidade fará esses entes perceberem com mais
facilidade os primeiros sinais de que há algo errado. “A família precisa estar
atenta aos comportamentos dos seus membros. Isolamento, pouca interação e falas
que apontem para acabar com a vida devem ser investigadas. A família é
fundamental nesse processo”, aponta o professor do IDE.
As causas que levam uma pessoa a tentar contra a própria vida, na maioria das
vezes, estão ligadas a patologias, mas não são as únicas razões que levam as
vítimas a consumar tal pensamento. “A depressão, a esquizofrenia e alguns
transtornos de personalidade podem levar o sujeito a tentar o suicídio. Porém,
é importante perceber que outros fatores podem levar às tentativas de suicídio
que não sejam apenas a partir de um transtorno mental. As condições
socioeconômicas e culturais podem influenciar diretamente nestes casos”, aponta
o especialista.
Paulo Aguiar traz três exemplos de casos em que o suicídio não está associado a
problemas mentais. O primeiro é o do Grécia, onde os efeitos das políticas
econômicas implantadas no país provocaram dificuldades financeiras ao povo
daquela nação. “Isso elevou o número de suicídios naquele país sem nenhuma
associação com algum transtorno mental, mas fruto de uma mudança radical na
economia”, conta o profissional de psicologia do Instituto de Desenvolvimento
Educacional.
Outro exemplo é o dos povos indígenas do Brasil. “Um estudo realizado pela
Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (FLACSO) apontou o elevado
número de suicídio nas populações indígenas dos estados do Amazonas e Mato
Grasso do Sul, principalmente pelo processo de aculturação desta população.
Fato curioso e estarrecedor é que a faixa etária principal dos sujeitos que
cometem suicido dentro da população indígena está compreendida entre 10 e 19
anos, segundo os estudos da FLACSO”, diz o professor.
E o terceiro caso trazido pelo psicólogo é o do município de Itacuruba,
localizada no sertão pernambucano. “A cidade tem uma taxa de suicídio dez vezes
maior que a média nacional. Inundada pela hidroelétrica de Itaparica, a
população precisou mudar de cidade e isso causou muitos problemas para a
população”.
Há uma compreensão de que o uso de drogas ilícitas é
também uma das causas que levam um indivíduo a tentar contra a sua própria
vida. “Em relação ao uso de drogas, a literatura aponta que as mortes
associadas a dependência estão associadas ao tráfico e a ilegalidade de algumas
substâncias. As tentativas de suicídio podem acontecer, mas associadas a alguma
psicopatologia”, explica o educador.
SAÚDE MENTAL E PREVENÇÃO - Além de ajudar quem
precisa de apoio e não deixar que esse assunto continue sendo tabu, é preciso
cuidar da saúde mental. “Cuidar da saúde mental não se resume a um trabalho
pessoal apenas, a ideia de saúde mental está associada a um conjunto de
condições, como trabalho, moradia, renda, uma cidade acessível, opções de
lazer, cultura, práticas esportivas, educação de qualidade, trânsito e outras
coisas que compõem o dia a dia das pessoas na sua relação consigo mesmo e com os
outros num determinado espaço territorial”, orienta o profissional do IDE.
“Penso que cuidar da saúde mental e poder observar estes
aspectos, pois senão dirigimos nossa atenção única e exclusivamente para o
sujeito e podemos cair no erro de ‘patologizar’ apenas a situação vivenciada
individualmente pelo sujeito sem levar em consideração as diversas condições
que podem contribui para o sujeito vivenciar o sofrimento e tentar cometer o
suicídio”, finaliza o professor sobre a importância de cuidar da saúde mental.
SOBRE O IDE – O Instituto de Desenvolvimento
Educacional (IDE), desde 2006, é uma instituição especializada em cursos de
extensão e pós-graduação na área de saúde, com mais de 120 cursos nas áreas de
medicina, enfermagem, farmácia, fisioterapia, nutrição, educação física,
psicologia e fonoaudiologia.
Com matriz no Recife e atuação no interior de Pernambuco, como Caruaru,
Garanhuns e Petrolina, tem unidades também espalhas por vários estados do Norte
e Nordeste, como Ceará, Bahia, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pará. Já
formou mais de 5 mil alunos, sendo a maior estrutura física, administrativa e
pedagógica do Nordeste voltada exclusivamente para cursos de pós-graduação em
saúde.
Fonte: Diário de Pernambuco