Em menos de cinco meses, as
expectativas econômicas sofreram uma séria reversão. Conforme noticiou a Folha
na última quinta (5), “em março, a alta esperada para o PIB (Produto Interno
Bruto) de 2018 encostava em 3%, com alguns economistas prevendo algo acima
disso”. Agora as projeções caíram para cerca de um terço daquele montante.
Em outras palavras, o Plano
Meirelles deu errado e a ponte para o futuro nos levou ao passado de estagnação
dos anos 1980 e 1990. Compreende-se, assim, que o ex-ministro da Fazenda
amargue 1% das intenções de voto e Lula continue com mais de 30% nas pesquisas,
apesar de preso.
Da metade da pirâmide para
baixo, o eleitorado quer, sobretudo, voltar ao período em que havia emprego e
renda.
O problema está em como
reconstruir as condições para tal retomada. O processo do impeachment, iniciado
em 2015 e concluído em 2016, abalou as bases do pacto que permitiu o “milagre”
lulista de reduzir a pobreza sem confronto político. Na sequência, a conjuntura
foi transformada por importantes mudanças locais e mundiais.
Na esteira do golpe
parlamentar, e sem a legitimação de um pleito presidencial, houve bloqueio dos
gastos públicos, retirada de direitos trabalhistas e abertura do pré-sal para
empresas estrangeiras. No plano externo, a ascensão de Donald Trump significou
o acirramento dos conflitos globais.
As vaias a Ciro Gomes (PDT)
e os aplausos a Jair Bolsonaro (PSL) na CNI (Confederação Nacional da
Indústria), quarta (4) passada, expressam bem o ambiente polarizado do qual não
conseguimos escapar.
Os apupos vieram quando o
candidato do PDT —longe de ser um radical, ainda que intempestivo— apenas
afirmou que reabriria o debate sobre as mudanças na CLT (Consolidação das Leis
do Trabalho). O postulante do PSL, por sua vez, foi ovacionado quando disse que
iria colocar “generais nos ministérios”.
Bolsonaro reiterou que não
entende de economia, delegando ao economista ultraliberal Paulo Guedes a
formulação dos planos para a área. Mas se propõe a garantir a ordem, por meio
de presença militar, para que o capital possa reinar inconteste. “Os senhores
são os nossos patrões”, declarou o deputado na CNI.
Como disse um amigo, a
direita está venezuelizando o país. Joga fora a Constituição de 1988 que, bem
ou mal, garantiu a fase mais completamente democrática que o Brasil teve. Se
forem bem-sucedidos, a instabilidade prosseguirá. Diante de tal ofensiva, fica
difícil conciliar. Fonte: Blog do Magno Martins