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Independente e artística: as peculiaridades da 'Rua Preta' de Caruaru


 

Rua 'inexistente' é conhecida pela denominação popular e marcada pelo grande número de artistas.

A Rua Preta da sede do Vera Cruz, do botijinha de Dedé, do bar Cacique e velho Duí". O primeiro verso da música "A Rua Preta", de Juarez Santiago, revela nomes de lugares e personagens de uma das ruas mais conhecidas de Caruaru, no Agreste de Pernambuco, que completa 161 anos nesta sexta-feira (18).

O logradouro "Rua Preta", porém, não existe. De acordo com o historiador Walmiré Dimeron, o nome é uma denominação popular que se sobrepõe à nomenclatura oficial. Toda a extensão do bairro São Francisco pode ser chamada de "Rua Preta".

O historiador também explica as versões da origem do termo. "A primeira versão é que era um local periférico da cidade. Por não terem condições, as pessoas construíam suas casas lá e não tinham como rebocá-las, então as casas ficavam em preto. A outra é que poderia ter sido o local onde existiam as caieiras que fabricavam carvão. Por conta disso, a fuligem deixava as casas sujas e enegrecidas", relata Walmiré.

Celeiro de artistas
Também conhecida como "bairro independente do São Francisco", a rua já teve moradores registados no livro "Rua Preta e sua história", da escritora Josabel Barreto, e nas músicas "A Rua Preta", de Juarez Santiago, e "Moleque da Rua Preta", de Valdir Santos. Sabe o que os três artistas têm em comum? São da "Rua Preta". Mas, eles não são os únicos personagens conhecidos.

Joana Angélica, Azulão, Camarão, Ezequias Rodrigues, Luiz Jacinto da Silva (Coronel Ludugero), Otrope (Irandir Peres Costa), Detto Costa, Rildo Hora, Ortinho, Agenor Farias, Lula Viegas, Azulinho, Sérgio Amaral, Walmir Silva, Pedro Sucata, Sivonaldo Marques, Gilvan Neves, Vital Santos, Joanatan Richard e Tiago Muriê são alguns dos artistas que cresceram ou viveram na folclórica rua.

Para o cantor e compositor caruaruense Valdir Santos, autor da música e do disco homônimo "Moleque da Rua Preta", a localidade é acolhedora e colaborativa.

"Lá havia uma fazenda e até hoje tem muito disso de acolher. Eu ainda peguei esse período, peguei um pedaço da fazenda que existia lá. A rua é muito acolhedora e por isso um artista foi buscando outro, foi oportunizando. O cara que gravou minha primeira música foi Ezequias Rodrigues. Os artistas mais velhos foram abrindo espaço para os outros. Tem essa coisa de família mesmo", comenta Valdir Santos.

"Eu não quero nem saber quem pintou a Rua Preta" foi um bordão criado pelo radialista Ivan Bulhões.

O músico também comentou por que decidiu homenagear o lugar com a canção. "Eu compus essa música, que é um autoretrato e também história de muitos amigos. Quando eu fiz o disco eu fui pesquisar de onde é que vem o nome e aí veio o grande lance: não existe. A rua é o bairro inteiro. Eu nasci e me criei lá, quando escrevi foi pra falar da minha história. Os personagens e as histórias da música são de verdade", diz Valdir.

Os Iguais
Outra particularidade do lugar é o grupo "Os Iguais". Em sete edições, o evento já homenageou grandes figuras do São Francisco e do município. De acordo com Kintura, organizador da festa, tudo surgiu em uma brincadeira. 

"Os Iguais surgiram através de uma brincadeira. Eu fotografei meu tio com uma peruca e daí eu aumentei o número de pessoas na brincadeira. Todo mundo ficou igual com a peruca. Fiz uma exposição na rua e coloquei esse nome. A peruca sugere que todo mundo é igual", afirma.

Kintura também foi o responsável pela criação da revista sobre a festa e a rua e disse planejar um novo livro sobre a localidade.

"Quando começou era só da Rua Preta, depois surgiram convidados. A cidade de Caruaru tem quase 400 mil habitantes, eu viajo o mundo todo e sempre falo da rua Preta. Dentro de Caruaru, não tem um bairro com todo esse potencial, com essa qualidade de artistas. Nasci e me criei na rua Preta. Eu sou apaixonado por ela. Tive oportunidade de morar em Maceió e em Natal, mas não saí de lá. Meus irmãos moram todos lá e eu procuro manter a alma viva, faço tudo por amor", finaliza. Fonte: G1