Quando a greve de caminhoneiros que parou o Brasil na
última semana começou a tomar grandes proporções, só havia uma certeza: o tema
daria margem para muitos boatos, que circulam especialmente pelo WhatsApp de
forma anônima. De fato, o principal deles diz que o próprio aplicativo será
bloqueado no Brasil após uma atualização.
O site Boatos.org catalogou dois áudios de grande alcance que falam
basicamente a mesma coisa. O governo brasileiro, incomodado com a utilização do
aplicativo na organização do movimento grevista, teria solicitado que o acesso
ao serviço fosse restringido no país. O bloqueio seria realizado por meio de
uma atualização, e a ordem é que usuários não baixem nenhuma atualização do
Google Play ou da App Store para impedir que o acesso seja limitado.
Em um dos casos, o bloqueio seria ordem direta do
presidente Michel Temer, o que simplesmente não é permitido. Já no outro, seria
uma ordem judicial que determinaria o bloqueio do WhatsApp por 48 horas; essa
segunda hipótese até poderia ser viável, visto que o aplicativo já foi impedido
de operar no passado, mas também não é verdade.
Supondo que a Justiça realmente determinasse o bloqueio
do WhatsApp, essa ordem seria destinada às operadoras de internet fixa e móvel,
que deveriam impedir seus usuários de acessar os IPs vinculados ao aplicativo.
Se isso, por um acaso, viesse a acontecer, atualizar ou não seu aplicativo não
faria qualquer diferença.
O que os autores do áudio parecem fazer é misturar
informações reais, mas antigas, da época em que o WhatsApp realmente foi
bloqueado por ordem judicial, com um contexto atual, como a greve dos
caminhoneiros, para causar maior pânico. No entanto, na época em que o
aplicativo foi impedido de operar no Brasil, não havia qualquer intenção de
silenciar um movimento popular. A punição foi porque o Facebook, empresa que é
dona do WhatsApp, não cumpria a ordem de entrega de dados solicitados pelas
vias legais para uma investigação policial, alegando ser incapaz de fornecer as
informações que a Justiça pedia, por não armazená-las em seus servidores e por
causa da criptografia de ponta-a-ponta incorporada ao serviço.