Pesquisadores conseguiram
eliminar tumores de camundongos. Testes agora devem seguir por ao menos mais
oito anos, e cientistas já miram outros tipos de câncer.
Pesquisadores brasileiros
desenvolveram uma vacina contra o câncer e obtiveram bons resultados nos testes
realizados em camundongos. O resultado foi publicado na revista científica
"Frontiers of Immunology".
A vacina usa células
tumorais do próprio indivíduo que receberá o tratamento e secreta citocina
GM-CSF, que estimula a proliferação e a maturação de diferentes tipos de
células de defesa, para evitar que as células tumorais se multipliquem
descontroladamente no organismo.
"A vacina consiste em
modificar células tumorais para que produzam imunomoduladores. Estes
imunomoduladores estimulam as células de defesa do organismo a identificar e
eliminar o câncer", disse o pesquisador Marcio Chaim Bajgelman, que
coordena o estudo no Laboratório Nacional de Biociências, no Centro Nacional de
Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que tem sede em Campinas.
Os pesquisadores testaram
diferentes combinações de células tumorais geneticamente modificadas para
desenvolver a vacina, que foi aplicada em camundongos com câncer de pele. Os
resultados foram positivos.
"Nossos estudos
demonstraram a possibilidade de curar o câncer em experimentos com animais.
Além disso, uma observação interessante foi que animais curados e redesafiados
com novos tumores apresentaram uma resposta duradoura, sugerindo-se o
desenvolvimento de uma memória imunológica antitumoral", avalia Bajgelman.
Por que o câncer de pele?
Para o estudo, os
pesquisadores injetaram as células tumorais de um melanoma altamente agressivo
nos animais. A ideia era colocar os animais em uma situação semelhante ao que
acontece com humanos, em que o tumor se desenvolve a partir de células próprias
e o sistema imunológico age nestas células.
O resultado mostrou que o
sistema imunológico daqueles que tinham recebido a vacina conseguiu responder
ao câncer. Em alguns animais, o tumor foi eliminado completamente.
"Sendo assim, animais
que não recebem a terapia desenvolvem tumores e animais submetidos a terapia
têm o sistema imune estimulado para erradicar o câncer", diz o
pesquisador.
Eles também já trabalham
para desenvolver a vacina que funcione com outros tipos de câncer: "Além
do modelo de melanoma também estamos investigando outros modelos que utilizam células
derivadas de câncer de mama e câncer de próstata. O câncer é uma doença
multifatorial que apresenta características que podem variar entre indivíduos,
por esse motivo pacientes podem responder de forma diferente aos
tratamentos".
No futuro
Nas próximas etapas no
estudo, a vacina será testada em tecido humano proveniente de amostras clínicas
de pacientes removidas em cirurgias para avaliar o desempenho in vitro. Se esta
etapa for bem sucedida, os cientistas planejam fazer ensaios no que chamam de "animais
humanizados", simulando os efeitos no corpo humano.
"A transferência desta
tecnologia para o mercado depende da conclusão destes ensaios pré-clínicos e
posterior realização de ensaios clínicos, que seguem requisitos preconizados
por comissões e órgãos regulamentadores. Estes ensaios seguem um cronograma
padrão, de cerca de 8 anos para chegar ao mercado", explica Bajgelman.
O trabalho vem sendo
conduzido no Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), do Centro Nacional de
Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), durante o doutorado de Andrea Johanna
Manrique Rincón, sob a coordenação do pesquisador Marcio Chaim Bajgelman. Fonte: G1