Farmanguinhos, no Rio de Janeiro, vai passar a produzir o
medicamento indicado para a prevenção do HIV, conhecido como Truvada.
Combinação dos antirretrovirais Emtricitabina e Tenofovir, o remédio será
preparado dentro de uma Parceria de Desenvolvimento Produtivo (PDP) com as
empresas Blanver e Microbiológica. A expectativa é de que o produto feito pela
PDP passe a ser fornecido para o Sistema Único de Saúde (SUS) no segundo semestre.
O Truvada começou a ser distribuído este ano em alguns serviços de referência
do SUS dentro da estratégia de terapia pré-exposição (PrEP), em que pessoas
saudáveis tomam o medicamento não para tratar a doença, mas para se proteger da
infecção.
O remédio atualmente ofertado nos serviços que fazem a PrEP é produzido pela
farmacêutica Gillead. A expectativa é de que, com a parceria entre
Farmanguinhos, Blanver e Microbiológica, o preço do tratamento caia de forma
expressiva. Em nota, o Ministério da Saúde afirma que a queda nos custos será
de aproximadamente 60%.
Ano passado, na ocasião da primeira compra feita com a Gillead, o Ministério da
Saúde anunciou que seriam gastos US$ 1,9 milhão na aquisição de 2,5 milhões de
comprimidos. A quantia seria suficiente para atender uma demanda de cerca de 7
mil pacientes. A pasta estima que, com a produção nacional, o número de pessoas
atendidas poderá ser ampliado.
Em entrevista ao Estado, o diretor de Farmanguinhos, Jorge Souza Mendonça,
afirmou que, na PDP, a Microbiológica ficará encarregada de produzir a
matéria-prima e a Blanver, o medicamento final. Nessa primeira etapa, caberá à
Fiocruz embalar o produto. O sistema é conhecido como tecnologia reversa. A
empresa inicia com a etapa final do processo e, pouco a pouco, vai dominando os
demais estágios de produção.
O prazo inicialmente previsto para que a Fiocruz domine toda a produção do
Truvada é de quatro anos. Mendonça, no entanto, avalia que esse período poderá
ser mais curto. "Farmanguinhos já tem domínio de parte da
tecnologia", disse
O diretor contou ainda que o produto desenvolvido pela PDP deverá, numa outra
etapa, ser também submetido à certificação da Organização Mundial da Saúde. A
medida seria o primeiro passo para o antirretroviral ser fornecido também para
o mercado internacional.
A PrEP não está disponível para todos interessados. A prevenção com
medicamentos é indicada no SUS apenas para homens que fazem sexo com homens,
transexuais, profissionais do sexo que adotem um comportamento de risco para
HIV e casais sorodiscordantes (em que um dos parceiros tem o HIV e outro, não).
Para ingressar na estratégia, interessados têm de fazer testes que indiquem que
eles não têm o vírus e, ainda, demonstrar que estão dispostos a manter o uso do
remédio por um período de tempo. Também é preciso ainda que tenham mais de 18
anos.
A PrEP faz parte da estratégia combinada, ou seja, quem adota a PrEP não deve
abrir mão do uso de preservativos. O Brasil foi pioneiro na América Latina ao
adotar a terapia como política de saúde. Antes dessa incorporação, cinco
estudos foram conduzidos no País para avaliar a eficácia da medida. O objetivo
principal da PrEP é reduzir o número de pessoas infectadas e, com isso, a
circulação do vírus.
O uso do medicamento não garante proteção imediata. A proteção começa a partir
do sétimo dia para exposição por relação anal e a partir do vigésimo dia para
exposição por relação vaginal. A promessa é de que a estratégia de prevenção
esteja disponível em 36 serviços situados em cidades consideradas estratégicas. Fonte: Diário de Pernambuco