A América Latina é a terra do realismo fantástico. Nos últimos dias, os chefes
de Estado do continente se reuniram para debater medidas de combate à
corrupção. O Brasil foi representado por Michel Temer, alvo de duas denúncias e
dois inquéritos criminais.
Ontem o presidente dissertou sobre o tema da cúpula. “Não
se pode tolerar a corrupção. A corrupção destrói tecidos sociais, compromete a
gestão pública e privada, tira recursos valiosos da educação, da saúde, da
segurança”, disse, em tom professoral. “O combate à corrupção é imperativo da
democracia”, prosseguiu.
Antes do discurso, um repórter quis saber se ele se
sentia constrangido com o assunto. “Muito pelo contrário”, respondeu Temer, com
um sorriso. “É um tema que enaltece o governo brasileiro, porque no Brasil as
instituições funcionam com toda a regularidade”, acrescentou.
Na segunda-feira, a Justiça aceitou denúncia contra nove
acusados de integrar o “quadrilhão” do PMDB. Estão na lista o ex-deputado
Eduardo Cunha, que articulou o impeachment e instalou o amigo na Presidência, e
os ex-ministros Geddel Vieira Lima e Henrique Alves.
Também viraram réus Rodrigo Rocha Loures, o deputado da
mala, e dois suspeitos de recolher propina para o chefe: o advogado José Yunes
e o coronel João Baptista Lima. A Procuradoria pediu a prisão de todo o grupo e
descreveu Temer como “líder da organização criminosa”.
Na terça, o presidente deu posse a 11 ministros. Um foi
denunciado por corrupção, outro responde a ação por furto de energia, o
terceiro foi condenado por improbidade e o quarto foi preso em flagrante por
porte ilegal de arma.
“Não vamos nos incomodar com críticas”, disse Temer, na
quinta-feira. “Não vamos nos incomodar com aqueles que querem dizer: ‘Não, não
pode etc, isso, aquilo’. Nós vamos em frente. Enquanto as pessoas protestam, a
caravana do governo vai trabalhando”, desdenhou.
As ações da Eletrobrás desabaram desde que Moreira Franco
assumiu o Ministério de Minas e Energia. Com a desvalorização da estatal, a
União perdeu R$ 2,6 bilhões em uma semana, segundo a “Folha de S.Paulo”. É o
foro privilegiado mais caro do mundo.
O Globo
Por Bernardo Mello Franco
Na terra do realismo fantástico