O
cálculo político é forçar o posicionamento de Temer até o início de abril,
quando Meirelles precisa sair do cargo caso queira concorrer
Encurralado
pela disposição cada vez maior de Michel Temer de discutir sua reeleição, o
ministro Henrique Meirelles (Fazenda) decidiu fazer uma jogada arriscada e
comunicar ao presidente que deseja ser o candidato do MDB ao Palácio do
Planalto.
O
cálculo político é forçar o posicionamento de Temer até o início de abril,
quando Meirelles precisa sair do cargo caso queira concorrer.
Assim,
o ministro transfere ao presidente a responsabilidade por vetá-lo ou não para a
disputa de outubro. Segundo apurou a reportagem, Temer e Meirelles devem
conversar pessoalmente sobre o cenário eleitoral na próxima semana, quando o
ministro pretende externar diretamente sua vontade de ser o candidato do
governo este ano.
A
decisão de Meirelles se dá no momento em que suas articulações têm sido
asfixiadas pela sombra da possível candidatura à reeleição de Temer, que ganhou
mais fôlego nesta semana, após o decreto de intervenção federal na segurança
pública do Rio.
Apesar
de dizer publicamente que não é candidato, o presidente passou a considerar
essa hipótese com seriedade, mas deu ordem para que seus auxiliares mais
entusiasmados esperem possíveis resultados da ação que possam ter reflexos
eleitorais.
Hoje,
o governo amarga índices baixíssimos de popularidade -6% consideram a gestão
ótima ou boa- e Temer tem 1% das intenções de voto, segundo o Datafolha.
A
expectativa sobre as consequências positivas da intervenção no Rio mexeu na
disposição das peças do Planalto no tabuleiro eleitoral.
O
presidente conseguiu redirecionar o discurso do governo -ancorado no fracasso
da reforma da Previdência- para a segurança pública, com mais apelo popular.
Sem a aprovação das mudanças nas regras de aposentadoria e com uma agenda
econômica em disputa com o Congresso, Meirelles sabe que sua candidatura está
cada vez mais difícil.
Apesar
disso, o ministro quer definir logo seu futuro político e ditar o andamento das
medidas econômicas de acordo com seu figurino. No fim desta semana, Meirelles
disse à rádio Itatiaia que havia "concluído" sua etapa como ministro
e, ao jornal "O Estado de S.Paulo", afirmou que a participação de
Temer na eleição não "invalidava" sua candidatura.
Nesta
sexta-feira (23), após as declarações, Meirelles telefonou a Temer para
explicar o contexto de sua fala. Disse que estava apenas descartando voltar a
ser ministro em governos futuros e ouviu do presidente que era preciso marcar
um encontro para conversarem "com calma".
Meirelles
já retomou abertamente seu discurso de que é melhor que haja apenas um nome do
Planalto, mas decidiu ser mais enfático com Temer sobre seu desejo de ser o
escolhido para o posto.
Acordo
tácito
Aliados
dizem que o ministro não vai disputar com o presidente. Sabe que sua
viabilidade eleitoral depende do apoio de Temer e de seu crescimento nas
pesquisas.
Por
enquanto, os dois não passam de 2% das intenções de voto, e o governo é
reprovado por 70% da população, segundo o último Datafolha. No Planalto, a
posição é ter cautela, com a tese de que Meirelles só poderá ser candidato com
suporte de Temer. Fonte: FolhaPE