Pontífice ficará no país por três dias no Chile, em seguida viajará para o Peru
O papa Francisco chegou
nesta segunda-feira a Santiago para uma visita marcada por protestos contra os
abusos sexuais na Igreja e reivindicações por "ações, e não perdão"
para os sacerdotes pedófilos.
O avião do papa pousou às
19h20 no aeroporto da capital chilena, quase uma hora antes do previsto.
Recebido pela presidente
Michelle Bachelet e três crianças, o papa teve que retirar seu solidéu pelo
forte vento.
Durante sua permanência de
três dias no Chile (de 15 a 18 de janeiro), se reunirá com autoridades,
comunidades indígenas, religiosos e pessoas carentes em Santiago, Temuco (600
km ao sul de Santiago) e Iquique (1.800 km ao norte), onde oficiará missas.
Abusos sexuais
Nesta primeira viagem de um
papa ao Chile em trinta anos, Francisco, de 81 anos, se encontrará com a
população mais desconfiada com a Igreja Católica da América Latina, segundo um
estudo recente.
Os abusos sexuais dentro da
Igreja contribuíram para essa percepção.
Um grupo de ativistas de
vários países pediu nesta segunda-feira ao papa em Santiago que troque
"perdões por ações" para enfrentar a pedofilia e lançou uma
organização internacional contra o abuso infantil que pretende acabar com essas
práticas e levar os acusados aos tribunais.
"No Chile há bispos que
acobertaram e que deveriam estar na prisão ou, destituídos, e pedimos ao papa
concretamente no Chile, ações, não perdões", disse Juan Carlos Cruz,
integrante da Fundação para a Confiança.
Protestos
Vários grupos se
manifestaram contrariamente à presença do papa, perto da embaixada da
Argentina, devido ao gasto para o Chile que essa viagem representa. Pessoas
subiram em um guindaste e cinco manifestantes foram detidos.
Outras manifestações contra
os abusos sexuais por parte de religiosos e protestos da comunidade gay estavam
previstas, em meio a fortes medidas de segurança.
Na última sexta-feira, foram
registrados ataques a cinco igrejas em Santiago e no município vizinho de
Melipilla, por supostos grupos de anarquistas.
"Papa Francisco, as
próximas bombas serão na sua batina", dizia um cartaz deixado pelos
manifestantes.
O papa chega a um Chile em
plena transformação social, que acaba de aprovar o aborto terapêutico e tramita
no Parlamento o casamento homossexual, após a adoção da união civil de casais
do mesmo sexo.
"É recebido por um país
que mudou desde a visita de João Paulo II. Somos uma sociedade mais justa,
livre e tolerante, mas com desigualdades que requerem uma mensagem de esperança",
tuitou Bachelet.
A segurança é uma das
preocupações das autoridades chilenas, já que, em sua visita, o papa celebrará
três missas para multidões nas três cidades que visitará e fará vários trajetos
com seu papamóvel.
As autoridades esperam que
cheguem ao Chile cerca de um milhão de argentinos, bolivianos e peruanos para
ver o papa, que será protegido por cerca de 18.000 policiais.
Indígenas e migrantes
Francisco, que se posicionou
como um defensor dos indígenas do continente, denunciará em Temuco os abusos
sofridos pela comunidade mapuche, uma minoria cada vez mais radicalizada que
reivindica suas terras ancestrais e suas tradições.
Na quinta-feira, em Iquique,
uma importante rota migratória, concluirá sua visita com outra missa em uma
praia no litoral do oceano Pacífico.
De Iquique o papa argentino
viajará a um Peru em plena convulsão política e social pelo indulto ao
ex-presidente Alberto Fujimori, que foi condenado a 25 anos por corrupção e
crimes contra a humanidade.
Medo de um conflito nuclear
A caminho do Chile, o papa
disse à imprensa que o acompanhava na aeronave que nessa sexta viagem à região
seu temor é de que "um incidente" desencadeie uma guerra nuclear em
algum lugar do planeta.
"Sim, realmente tenho
medo. Estamos no limite. Basta um incidente para desencadear a guerra. Não se
pode correr o risco de que a situação precipite. Portanto, é preciso destruir
as armas nucleares", enfatizou antes de chegar ao Chile, a primeira etapa
de uma viagem pela América Latina, que também inclui o Peru.
Durante o voo, o pontífice
distribuiu aos 70 jornalistas que o acompanham uma foto tirada de Nagasaki após
a explosão em 1945 da bomba atômica, com a legenda "fruto da guerra".
Na foto, que foi divulgada
pela assessoria de imprensa do Vaticano no final de 2017, se vê um menino com o
corpo de seu irmão morto nas costas em uma fila para cremá-lo.
Ao sobrevoar o Brasil, o
papa enviou uma mensagem ao presidente Michel Temer e ao povo brasileiro,
assegurando que reza "pela paz e pelo bem-estar da nação", antes de
despachar outro telegrama ao sobrevoar o Paraguai com sua "benção divina
de paz e fortaleza". A Argentina também recebeu os "calorosos
augúrios" e a benção do pontífice, que não disse quando fará uma visita a
seu país natal.Fonte: Agence France-Presse