O São Paulo ganhou um título
nos últimos nove anos (a Sul-Americana em 2012), e nas edições mais recentes do
Campeonato Brasileiro sua ambição foi escapar do rebaixamento. O mais
importante a se esperar de 2018, portanto, é que o clube perceba quão errados
são seus métodos e faça diferente.
Uma das poucas virtudes tricolores
desses tempos tem sido apostar no “novo”. E decorre disso também um dos grandes
problemas: a dificuldade em lidar com o tal “novo”.
Em 2015, o São Paulo
contratou um treinador colombiano que usava canetas nas meias para escrever
bilhetes aos jogadores durante as partidas. Mas Juan Carlos Osorio era bem mais
do que isso: uma ideia de futebol ofensivo, com escalações que jamais se
repetiam. Logo recebeu mensagem do presidente com a ordem de “parar de
inventar”. Foi embora.
Para 2017, o São Paulo
contratou um técnico que jamais havia sido técnico e tinha o
"agravante" de ser o maior vencedor da história como jogador. Com
Rogério Ceni chegaram um auxiliar inglês e outro francês para comandar um grupo
jovem, barato e sem chefe no departamento. Uma bomba-relógio.
É como se Leco tivesse
assinado um pacote de TV a cabo básico, e pouco tempo depois quisesse canais
premium. Só poderia dar certo se houvesse perfeita noção da ideia que se estava
comprando. Não havia. O fim foi tão melancólico quanto óbvio.
Desta vez a inovação está
fora do campo, talvez um sinal de que o São Paulo tenha percebido sua estrutura
retrógrada. No comando do futebol estarão Raí, Ricardo Rocha e, possivelmente,
Lugano. Um trio que fez história com a camisa tricolor, mas também inexperiente
em suas novas funções. Inexperiência significa erros. Eles acontecerão. Saber
lidar com o “novo” é o grande desafio de um clube que mete os pés pelas mãos em
razão do vazio de títulos.
Um dos erros que não se pode
repetir é remontar o elenco durante a temporada. O ano de 2017 terminou com a
equivocada impressão de que isso deu certo, em razão da chegada salvadora de
Hernanes. Deu muito errado.
O primeiro dilema a ser
resolvido se chama Lucas Pratto. O centroavante vê com bons olhos a
possibilidade de jogar no River Plate, perto de sua filha. O São Paulo deveria
tentar explicar ao argentino como ele é importante no processo de criação de
identidade – ideia corretamente exposta por Raí em sua apresentação.
Tornou-se habitual no
Morumbi justificar uma venda pela vontade do jogador. Não pode ser assim.
Projetos mais sólidos deveriam estar em jogo, e o clube precisa recuperar o
poder de convencer um atleta a permanecer, ter algo interessante a oferecer, e
não ajustar uma conveniência financeira ao desejo repentino de um funcionário.
A pouca movimentação do
mercado de transferências pode ser um trunfo. É justamente do que o São Paulo
precisa: mudar pouco. Contratar menos, vender menos. O time titular que
terminou o ano está, por enquanto, todo à disposição, mas é preciso manter
Hernanes. De qualquer jeito. Não há outra opção. Perdê-lo em janeiro será um
fiasco retumbante.
O promissor goleiro Jean foi
contratado, enquanto Reinaldo e Hudson, que mostraram valor emprestados a
outras equipes, deverão estar de volta. São boas opções.
A manutenção de Dorival
Júnior também foi positiva. Com ele, jovens poderão crescer, principalmente
Brenner, de potencial técnico e, aparentemente, mental incríveis.
Corinthians, Cruzeiro e
Grêmio ensinaram no ano passado que para vencer no futebol brasileiro não é
preciso montar supertimes. O mais importante é ter identidade de jogo e
convicção. Se o São Paulo conseguir criar as suas, poderá disputar títulos em
2018. Senão vai, mais uma vez, se contentar com migalhas como a permanência na
Série A. Fonte:GE