No
entanto, todos os que aparecem nas pesquisas de intenção de votos ou que já se
lançaram como pré-candidatos têm importantes obstáculos a superar até o início
da campanha, marcada para começar em agosto.
Pendências
na Justiça, disputas partidárias internas, tempo escasso de propaganda no rádio
e na televisão, alta rejeição ou falta de popularidade e impedimento para
participar em debates são alguns dos desafios que os postulantes à Presidência
e seus respectivos partidos ainda precisam driblar até agosto.
Apesar
de a Justiça Eleitoral ainda não ter divulgado o calendário oficial das
eleições do próximo ano, marcada para 7 de outubro, partidos trabalham com
prazos para atrair políticos, firmar alianças e lançar seus candidatos na
tentativa de aumentar suas chances eleitorais.
Mudança
na legislação feita em 2015 reduziu de um ano para seis meses o prazo para
filiação partidária de quem quer disputar a eleição. Em março, contudo, será
aberta uma janela de 30 dias para a troca de partido de políticos que queiram
se candidatar sem o risco da perda do mandato em curso.
Muitas
bancadas apostam nessa janela para aumentar o número de representantes na
Câmara e, assim, elevar o tempo de televisão e participar de debates.
Do
total do tempo de propaganda, 90% será distribuído proporcionalmente ao número
de deputados federais de cada legenda e o restante será distribuído
igualitariamente. Para participar de debates na televisão, por sua vez, o
candidato precisa estar filiado a um partido com mais de cinco deputados
federais.
A
BBC Brasil listou obstáculos dos principais pré-candidatos e partidos que já
anunciaram a intenção de lançar um nome à Presidência da República.
Lula (PT)
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera os cenários para a eleição
presidencial em 2018, mas pode ter a candidatura barrada caso a segunda
instância da Justiça federal mantenha por unanimidade a condenação por
corrupção - o julgamento do recurso foi marcado para janeiro.
Se
condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª região (TRF-4), Lula pode também
ser preso - ainda que a prisão após condenação em segunda instância seja um
tema cuja discussão tem dividido os ministros do Supremo Tribunal Federal
(STF).
Se
concorrer, Lula pode usar a campanha como estratégia de defesa das acusações
que pesam contra ele. A defesa de Lula, que tenta reverter a condenação sob o
argumento de que o ex-presidente é inocente e que não há provas contra ele,
traça estratégias jurídicas para mantê-lo na disputa por meio de diferentes
recursos.
Mesmo
que seja absolvido no caso do tríplex do Guarujá, o ex-presidente ainda
responde a outras quatro ações na Justiça, sob acusação de crimes como
corrupção, lavagem de dinheiro e obstrução de Justiça.
Além
das pendências judiciais, Lula também tem rejeição alta - segundo pesquisa
Datafolha realizada entre 29 e 30 de novembro, 39% disseram não votar nele de
jeito nenhum. Na frente dele está somente o presidente Michel Temer, que não
deve disputar a campanha presidencial, com 71%.
Ainda
assim, muitos integrantes da cúpula do PT veem em Lula a única opção para a
disputa presidencial. Um plano B seria o ex-ministro da Educação e ex-prefeito
de São Paulo, Fernando Haddad, que já declarou ser uma "grande
deselegância com Lula" se colocar como opção do partido para 2018.
O PT
enfrenta dificuldades para se coligar e deve participar das eleições sem
partidos aliados. O PCdoB, um dos mais fiéis aliados dos petistas, por exemplo,
anunciou que pretende disputar a eleição com a deputada estadual gaúcha Manuela
D'Ávila.
Lula
nasceu em Pernambuco, mas construiu sua carreira política em São Paulo,
incialmente como sindicalista.
Em
1986, foi eleito deputado federal por São Paulo para participar da Assembleia
Nacional Constituinte. Foi eleito presidente em 2003, depois de ter disputado
as presidenciais outras três vezes. Comandou o Brasil por dois mandatos e
elegeu a sucessora, Dilma Rousseff, em 2010.
Jair Bolsonaro (PSC)
Segundo
colocado nas pesquisas de intenção de votos, o deputado federal Jair Bolsonaro
ainda precisa trocar de partido para participar da presidencial ou disputar
dentro do PSC com Paulo Rabello de Castro, lançado candidato pela legenda em
novembro.
Bolsonaro
deve concorrer pelo PEN (Partido Ecológico Nacional), que espera a homologação
da Justiça Eleitoral para mudar o nome para Patriota.
"Mudamos
o nome do partido, colocamos cinco pessoas dele na Executiva, fizemos tudo o
que ele pediu. Antes era um noivado, agora ele está casado com o partido",
diz Adilson Oliveira, presidente do PEN.
Segundo
ele, Bolsonaro já assinou a ficha de filiação com data de 10 de março de 2018,
quando já poderia trocar de partido sem o risco de perder o mandato de
deputado.
Oliveira
lista os obstáculos que o Patriota e Bolsonaro vão precisar enfrentar.
Primeiro, a legenda precisa aumentar a bancada, que hoje tem três deputados. O
presidente do PEN diz que, em março, a filiação de Bolsonaro e do filho Eduardo
já garantiriam ao deputado o direito de participar de debates, mas que haverá
mais nomes migrando para o Patriota.
Recursos
de campanha também são vistos como um desafio e Oliveira aposta na divulgação
do número de uma conta para arrecadar doações junto a apoiadores pela internet.
O pouco tempo de propaganda oficial - 10 segundos se o Patriota não se coligar
- seria, segundo o presidente do partido, contornado pelas redes sociais e pela
produção espontânea de conteúdo de simpatizantes.
Para
Oliveira, Bolsonaro vai precisar mostrar a uma parcela do eleitorado que não é
agressivo nem radical e que domina diferentes temas.
Bolsonaro,
militar da reserva e professor de educação física, é deputado
federal desde
1991 - tem sete mandatos por cinco partidos diferentes.
Geraldo
Alckmin e João Dória (PSDB)
O
governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, assumiu neste mês a presidência do
PSDB para tentar apaziguar o partido, que se dividiu entre ficar ou sair da
base do governo Temer.
Alckmin,
contudo, não é o único nome tucano para a eleição presidencial.
O
prefeito de São Paulo, João Dória, ainda tenta se viabilizar dentro do PSDB.
Mas muitos tucanos acreditam que ele "queimou a largada" ao fazer um
giro pelo Brasil na tentativa de aumentar sua popularidade - ele ainda é
considerado desconhecido no país e não conseguiu alavancar seu nome nas
pesquisas. O ex-senador e atual prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, por sua
vez, pressiona o PSDB para participar de prévias com Alckmin.
Além
das disputas internas, Alckmin assume um PSDB desgastado pelas denúncias de
corrupção contra integrantes do partido, em especial as que pesam contra o
senador Aécio Neves, que disputou as eleições presidenciais em 2014. Alckmin
também foi acusado de receber R$ 10 milhões em quantias não declaradas da
Odebrecht, o que nega.
O
governador também não sabe se e quando contará com o apoio do DEM, aliado de
fiel de eleições anteriores. Coligada, a chapa PSDB-DEM teria, por exemplo,
mais tempo de propaganda.
Alckmin
já disputou as eleições presidenciais em 2006, quando perdeu para Lula no segundo
turno.
Formado
em Medicina, começou a carreira política como vereador e, depois, prefeito de
Pindamonhangaba (SP). Em 1994, foi eleito vice-governador de São Paulo e acabou
assumindo o governo com o agravamento da saúde de Mário Covas em 2001. Perdeu a
disputa pela prefeitura de São Paulo em 2008, mas voltou como governador em
2010 e foi reeleito em 2014.
Marina Silva (Rede)
Com
duas eleições presidenciais no currículo, Marina Silva lançou oficialmente a
candidatura em 2 de dezembro. A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente,
contudo, deve ter somente 12 segundos de propaganda e dificilmente a Rede vai
se coligar com outros partidos para aumentar o tempo na televisão e no rádio.
Por
isso, o primeiro obstáculo do partido é aumentar a bancada na Câmara antes do
registro da candidatura para que Marina participe dos debates - a Rede,
atualmente, conta com apenas quatro deputados federais.
Marina
enfrenta uma rejeição de 24%, segundo o último Datafolha. Vai precisar também
responder a críticas de ser omissa em momentos em que muitos aguardavam um
posicionamento ou opiniões firmes sobre temas centrais ou disputas política e
de ter declarado voto a Aécio Neves no segundo turno das eleições de 2014.
Avessa
a embates e a ataques, a própria candidata avalia que será uma campanha
extremamente agressiva.
Marina
disputou as duas últimas eleições presidenciais, uma pelo PV e outra pelo PSB.
Ela começou a carreira política no PT.
Ciro Gomes (PDT)
A
candidatura do ex-ministro e ex-governador do Ceará é considerada
"irreversível" pelo presidente do PDT, Carlos Lupi. À BBC Brasil,
Lupi disse que o partido marcou para 8 de março um evento para confirmar o nome
de Ciro como pré-candidato à Presidência.
A
falta de aliados para fortalecer a candidatura numa coligação formal é um
obstáculo a ser enfrentado. O PDT negocia alianças com o PSB e o PC do B.
"São conversas que ainda estão em construção", diz Lupi.
O
estilo franco e impulsivo que há anos rende a Ciro a fama de
"destemperado" pode ser um empecilho. "Todo mundo já teve uma
palavra maldita ou foi mal interpretado", pondera Lupi.
Ciro
enfrenta uma rejeição de cerca de 22% do eleitorado, que segundo o Datafolha
diz não votar nele de jeito nenhum, e não decolou. A depender do cenário ele
tem de 6% a 10% das intenções de voto.
Ciro
Gomes já foi prefeito de Fortaleza, deputado estadual, deputado federal,
governador do Ceará e ministro dos governos Itamar Franco (Fazenda) e Lula
(Integração Nacional).
Ele
já passou por sete partidos em 37 anos de vida pública. Ciro já concorreu à
Presidência duas vezes, em 1998 e em 2002.
Manuela D'Ávila (PCdoB)
Ao
anunciar a ex-deputada federal e atual deputada estadual no Rio Grande do Sul
como pré-candidata, o PCdoB praticamente acabou com a possibilidade de o
partido ser vice numa eventual chapa encabeçada por Lula.
Ao
perderem o aliado, petistas classificaram a decisão do PCdoB como "erro
histórico".
Manuela,
de 36 anos, terá cerca de 20 segundos no tempo de propaganda e poderá
participar de debates. Apesar de ter sido deputada federal por dois mandatos e
líder do PCdoB da Câmara, Manuela não é um nome conhecido em todo o país.
Conforme apontou o Datafolha, ela é conhecida por 24% do eleitorado.
Entre
os obstáculos, provavelmente, também estará a dificuldade de desassociar a
imagem do partido à do PT - em especial porque o PCdoB foi contra o impeachment
da presidente Dilma Rousseff e muitos de seus filiados defendem Lula das
acusações que pesam contra ele na Justiça.
Manuela
é jornalista de formação e foi a vereadora mais jovem da história de Porto
Alegre, eleita aos 23 anos. Em 2006, foi para a Câmara dos Deputados, onde
ficou por dois mandatos. Concorreu à prefeitura da capital gaúcha duas vezes,
sem sucesso. É deputada estadual desde 2014.
Álvaro Dias (Podemos)
O
ex-tucano ganhou fama no Senado por ser um ferrenho crítico da gestão petista e
integrante ativo de CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito).
Ele
trocou de partido para ser candidato à Presidência, mas ainda enfrenta o
desafio de se tornar um nome mais conhecido nacionalmente capaz de conseguir
mais que os 4% de votos que as pesquisas indicam para ele.
Segundo
o Datafolha, o senador é conhecido por 44% dos entrevistados, mas apenas 9% disseram
que o conhecem muito bem.
O
Podemos é o ex-PTN e as projeções indicam que deve ter 12 segundos no rádio e
na televisão.
Álvaro
Dias cursou História e está no quarto mandato consecutivo de senador. Já foi
vereador, deputado estadual, deputado federal e governador do Paraná. É de uma
tradicional família de políticos do Paraná.
João Almoêdo (Novo)
O
ex-banqueiro João Amoêdo se afastou da presidência do partido que ele próprio
ajudou a criar em 2015 para ser lançado pré-candidato à Presidência. Pelas
regras do Novo, candidatos não podem exercer funções partidárias nos últimos 15
meses antes da eleição.
Amoêdo
não é um nome que desfruta de popularidade e tem viajado o país para fazer
palestras na tentativa de se tornar mais conhecido.
Novato
em eleições gerais, o partido de Amoêdo conta com o apoio de profissionais liberais,
de economistas que ocuparam cargos importantes no governo de FHC, como Gustavo
Franco, e tem entre seus quadros o ex-treinador de vôlei Bernardinho. A legenda
ainda tenta atrair tucanos descontentes que estão deixando o partido.
A
maioria deles, contudo, são neófitos das urnas.
Formado
em Engenharia Civil e Administração, Amôedo começou a carreira profissional
trabalhando para bancos. Atualmente é sócio do Instituto de Estudos de Política
Econômica/Casa das Garças.
PSOL
O
PSOL conta com cinco pré-candidatos, sendo que um deles ainda não se filiou.
Guilherme Boulos, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, é citado pelo
deputado federal Chico Alencar (RJ) como um dos possíveis nomes da legenda para
disputar a Presidência.
Além
deles, o partido conta com os economistas Plínio de Arruda Sampaio Jr e Nildo
Ouriques, Hamilton Assis, militante do movimento negro, e Sônia Guajajara,
líder indígena.
Para
Chico Alencar, é mais fácil o partido se coligar com movimentos da sociedade
civil-organizada que com partidos políticos. "Há um descrédito muito
grande, as pessoas estão com nojo dos partidos", diz Alencar.
Além
disso, o partido avalia que o grande desafio será cumprir a cláusula de
barreira que exige para 2018 1,5% dos votos em nove Estados para que as legendas
continuem recebendo fundo partidário e tendo acesso à inserções no rádio e na
televisão.
O
PSOL terá cerca de 13 segundos de propaganda eleitoral, mas vai conseguir
participar dos debates por ter uma bancada com seis deputados.
Paulo Rabello de Castro (PSC)
Recém-filiado
ao PSC, o presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), Paulo Rabello de Castro, foi lançado candidato em novembro.
Nome
desconhecido de grande parte do eleitorado, Rabello de Castro contabiliza
apenas 1% nas pesquisas de intenção de voto. Além de incrementar a popularidade
do candidato, o PSC pode precisar conter uma migração em massa de sua bancada
para outras legendas.
Antes
de assumir o BNDES, ele havia sido indicado por Michel Temer para o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Formado
em economia e em direito, é fundador da primeira empresa brasileira de
classificação de riscos de crédito do país.
Henrique Meirelles (PSD)
O
ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, busca o apoio do PMDB de Michel Temer
para se viabilizar como candidato. Ele ainda corteja partidos do centrão como
PP e PR para uma possível candidatura.
Mas
a popularidade de Meirelles ainda é um obstáculo a superar. O ministro, apontou
o Datafolha, é conhecido por 48% do eleitorado, mas só 9% o conhece muito bem.
Com
cerca de 2% nas pesquisas de intenção de votos, ele estabeleceu uma meta de 5%
a ser alcançada em março para confirmar ou não sua candidatura.
Para
se lançar oficialmente, ele teria que se desincompatibilizar do cargo.
A
trajetória profissional de Meirelles está ligada à área financeira
internacional. Antes de ser presidente do Banco Central, entre 2003 e 2011, no
governo Lula, foi o principal executivo do BankBoston. Antes de assumir a
Fazenda, Meirelles atuou por quatro anos como presidente do conselho de
administração da J&F Investimentos, holding criada pela família Batista e
controladora da JBS.
Estão
cotados também para participar da disputa os nomes do senador Cristovam Buarque
(PPS), que foi candidato presidencial em 2006, e o do filho do ex-presidente
João Goulart, João Vicente Goulart (PPL). Fonte: bbc