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Moradores de Maraial não têm chão e muito menos um teto



As casas são simples. Têm dois quartos e um vão. Estão avaliadas, cada uma, em R$ 32 mil. Há sete anos, foram erguidas apenas no imaginário da população de Maraial, na Mata Sul pernambucana, a 133 quilômetros da capital. Atingidas pela enchente de 2010, pelo menos 700 famílias receberiam um imóvel como o descrito acima. A terraplanagem feita ao custo de R$ 8 milhões nos lotes Salvador I e Salvador II, naquele ano, deu esperanças a pessoas que perderam tudo com as águas. Sete anos depois, o lugar tem mato e não casas. Sem alternativa, famílias voltaram às áreas de risco ao longo dos anos e o pior aconteceu. Cerca de 90% delas foram novamente vitimadas pelas enchentes.

As obras dos imóveis prometidos pelo governo do estado para os desabrigados pelas cheias não são alvo da Operação Torrentes, deflagrada pela Polícia Federal. Mas representam muita dor de cabeça para a população e os gestores das cidades atingidas pelas chuvas dos anos de 2010 e 2017. Na primeira enchente, 14.136 casas foram destruídas ou danificadas. Um total de 12.131 casas foi entregue até hoje. Uma casa a menos representa riscos a mais para quem não tem alternativa e é obrigado a voltar para as áreas de risco. O governo do estado não informou o número de casas atingidas neste ano.

Nesse pequeno município com pouco mais de 12 mil habitantes, por exemplo, aconteceu algo curioso. Segundo a gestão municipal, além de Maraial não receber nenhum dos 700 imóveis prometidos naquela época, ainda teve uma redução na quantidade de casas a serem entregues por conta da tragédia deste ano. “Eram 400 casas no lote II e 300 no lote I. Isso em 2010. O que acontece? Vem a enchente de 2017 e o governo ficou de fazer somente 450. Ou seja, caiu de 700 para 450. Andei tudo, o governo veio, fez foto, mas, na verdade, não tem um tijolo no lugar. Fui em Brasília para saber do dinheiro, ainda era Dilma (Rousseff a presidente), e disseram que o dinheiro já estava no estado, 100% já creditado para o estado”, criticou o prefeito Marcos Antônio de Moura e Silva (PTB).

Segundo a gestão municipal, o prejuízo estendeu-se ao Colégio Fábio Correia, atingido em 2010 pelas chuvas. A nova escola prometida pelo governo do estado ficou pronta somente recentemente, em outro terreno alvo de terraplanagem, e ainda não está ofertando aulas. “Usamos recursos do município para recuperar a antiga unidade e continuar oferecendo aulas para 2,5 mil alunos naquela ocasião”, acrescentou Marcos Moura. Naquele ano, 533 escolas foram danificadas no estado.

Outro grande alvo de críticas e dor de cabeça para as gestões municipais são as barragens prometidas: cinco ao todo. Apenas uma, a de Serro Azul, ficou pronta. O governo do estado, por sua vez, coloca a responsabilidade das obras inacabadas no governo federal. A Adutora do Agreste, em Bezerros, por exemplo, está com apenas a primeira etapa concluída. De janeiro a outubro, justifica o estado, somente foram repassados R$ 67 milhões para as obras de adutoras, um valor bem menor do que o repassado no ano passado: R$ 136 milhões. A média ideal seria de R$ 30 milhões por mês e faltam R$ 579 milhões para a conclusão. O governo também costuma destacar como trunfo a entrega de cinco hospitais atingidos pelas enchentes em 2010, o Regional de Palmares e os municipais de Água Preta, Cortês, Barreiros e Jaqueira.

Fonte: Diário de Pernambuco