A história do alambique do
evangélico José dos Santos Ramos, conhecido como Dê ou Ramos Guerra, de 43
anos, começa na cidade de Salinas, em Minas Gerais, em meados de 2013, quando
Ramos, que prestava serviço para usinas, fez um curso de como preparar – a
tradicional brasileira e famosa mundialmente – cachaça.
Há quatro anos produzindo a
pinga artesanal denominada “A Todo Vapor”, o fabricante Ramos Guerra coleciona
histórias que passeiam entre a coragem de empreender e a fé, traços marcantes
do povo da Capital do Baixo São Francisco – Penedo, localizada no interior de
Alagoas.
Assim que pisou em solo
alagoano, o penedense, evangélico e pai de cinco filhos iniciou a plantação de
cana-de-açúcar e construiu um alambique ao lado de casa, com as próprias mãos,
com a ajuda da família, e passou a produzir e vender cachaça artesanal como
meio de sobrevivência.
“Eu tinha um trator e
prestava serviço para as usinas de Minas Gerais. Mas, durante meu período de
trabalho, eu comecei a ver os engenhos dentro das canas e comecei a me
interessar pelo serviço. A partir disso, o pessoal foi me dando apoio. Fiz um
curso, eu aprendi e coloquei na cabeça de que quando eu chegasse em Alagoas, na
minha terra, eu iria montar um negócio. Quando cheguei, isso tudo [o alambique]
não existia e eu fui montando, com a ajuda da minha família”, relembrou, com a
voz serena, José Ramos.
Com o apoio da esposa
Lucicleide da Silva Ramos e dos filhos Alex, Simone, Abraão, Alejandro e
Samylle, Guerra conta que busca aprimorar e melhorar o produto a cada produção
e que já chegou a vender para um professor que mora na Austrália.
“Nosso Pastor nunca comentou
nada com a gente”, diz Ramos.
Ao iniciar os trabalhos, a
vizinhança e as pessoas que frequentam a região começaram a questionar o que
era a fumaça. “Ás vezes as pessoas veem no Facebook e veem aqui (no alambique)
para conhecer”.
Sobre ser evangélico e
produzir cachaça, José Ramos conta que já foi questionado inúmeras vezes. “Quem
já viu evangélico produzindo cachaça? Mas aí, aparecem os que questionam os que
tem profissão de policial e possuem porte de arma e, se necessário, vai usar. E
o nosso pastor nunca comentou nada com a gente. A cachaça é a nossa sobrevivência,
é a nossa fonte de renda que temos. A cana que a gente planta a gente colhe. É
pouca e só dá prá gente fazer cachaça para agradar o pessoal”, afirmou.
Com o engenho parado em
virtude de manutenção, Dé espera reiniciar os trabalhos no próximo terça-feira,
dia 28 de novembro. “Estamos esperando umas peças para começar a fabricar e
também estamos correndo atrás da documentação para regularizar, para poder vender
em grosso para revendedores, ampliar nosso negócio com tudo legalizado. Ainda é
de forma artesanal. Na embalagem, por exemplo, colocamos exclusivo porque o
consumidor não vai encontrar em lugar nenhum”, afirmou Ramos Guerra.
No mês a depender do período,
a família consegue arrecadar R$ 3 mil, e devido aos constantes pedidos, o prazo
de entrega é de três dias. “Eu acredito, primeiramente em Deus, que terá
futuro. Não terá futuro se eu fosse fabricar e consumir. Mas não bebemos, somos
evangélicos”, reforçou Ramos Guerra, acrescentando que “está correndo atrás
para buscar uma melhora”, e que , “muitas pessoas já ofereceram dinheiro pelo
alambique, pela receita da cachaça”.
“O sol quando nasce brilha
para todos, mas já apareceram muitos, alguns até para alugar o local. Mas é o
negócio da minha família. Para mim é um divertimento, porque quando estamos
funcionando, não para de chegar gente, e de todas as partes,” contou Ramos.
O nome que dá origem à
cachaça ” À Todo Vapor” surgiu depois da chaminé, que as pessoas podem ver
durante a produção. “As pessoas que passavam brincavam: “Eita, Tá à todo
vapor!”. E assim foi, foi, e a batizamos assim”, concluiu Ramos.
No início, a cachaça, que
possui quatro sabores, era armazenada em garrafas PET. Hoje em dia, a pinga é
armazenada em garrafas de vidro – embalagens compradas em Minas Gerais.
Atualmente, Ramos vende a
cahaça via WhatsApp (99133-9617) – ferramenta de mensagens instantâneas – e já
possui uma cartela de clientes fiéis que propagam a notícia de que a cachaça,
além de ser natural e artesanal, não deixa sinais de ressaca.Fonte: Gazeta de
Alagoas