Um dos avanços da reforma
política seria a criação de um limite para o autofinanciamento de campanhas.
Essa regra chegou a ser aprovada por deputados e senadores. Para a alegria dos
milionários, o presidente Michel Temer vetou a mudança ao sancionar a nova lei.
A Câmara havia fixado um
teto de R$ 200 mil para todos os políticos que pretendem bancar as próprias
candidaturas. Numa trapalhada legislativa, o Senado tentou derrubar o limite e
impôs um valor ainda mais baixo, de R$ 9.690,00.
Agora Temer resolveu o
impasse a favor dos super-ricos. Com a canetada presidencial, eles poderão
financiar até 100% de suas campanhas. Assim, as eleições de 2018 arriscam se
tornar um grande Show do Milhão. Em vez de comprar votos, como sempre ocorreu,
os magnatas poderão comprar mandatos.
Para um ministro do Tribunal
Superior Eleitoral, a derrubada do teto de autofinanciamento representa o
primeiro "tiro de canhão" na sucessão presidencial. Ele avalia que o
veto terá um beneficiário direto: o prefeito João Doria, cujo patrimônio
declarado é de R$ 179 milhões.
Em 2016, o tucano já levou
vantagem na eleição de São Paulo ao injetar R$ 4,4 milhões na própria campanha.
A autodoação representou 35% da receita do tucano e 57% do orçamento do segundo
colocado, o petista Fernando Haddad.
Além de ajudar o aliado
Doria, o veto de Temer estimulará os partidos a lançarem outros magnatas. Isso
tende a distorcer ainda mais a representação política dos brasileiros. Em 2014,
quase metade dos deputados eleitos (248 dos 513) já tinham patrimônio superior
a R$ 1 milhão.
É ilusão pensar que os
super-ricos vão tirar dinheiro do bolso para bancar suas campanhas, seja
vendendo iates ou esvaziando contas no exterior. Um lobista que quiser entrar
na política poderá passar o chapéu entre empresários e dizer à Justiça
Eleitoral que só usou recursos próprios. Qualquer semelhança. Fonte: Bernardo Mello Franco – Folha de S.Paulo