Treinador abriu o jogo sobre
crise financeira que o clube, que deve salários há três meses, vive:
"Estou há dois meses pedindo para os jogadores esquecerem isso"
Logo após o empate sem gols
diante do Luverdense, no último sábado, o técnico Marcelo Martelotte falou que
"todo mundo sabe de parte da situação do clube; de toda a situação, quase
ninguém".
Foi a porta de entrada para um desabafo. Sem expor toda a crise
financeira do Santa Cruz, que está há três meses sem pagar salários aos
jogadores, ele deu uma ideia da dificuldade que está sendo trabalhar no Arruda.
Afundado na 18ª colocação, a seis pontos do primeiro time fora da zona do rebaixamento,
o Tricolor convive com a ameaça real do rebaixamento.
- Se vocês sabem parcialmente,
vão continuar sabendo parcialmente. Eu não acredito que vocês saibam 100% da
questão financeira, só isso. Vocês sabem só parte dela. Quando se fala que o
Santa tem problema financeiro, não é só o que se aponta. É um problema muito
maior.
O treinador disse que, desde
que chegou, pede para os jogadores esquecerem os salários atrasados. E afirmou,
categoricamente, que o trabalho dentro de campo foi o que menos preocupou ele.
- Estou há dois meses aqui e
trabalhando com a cabeça deles há dois meses para trabalhar isso. É para
esquecer isso. Esquecer é a palavra. Não é o grupo de jogadores e a comissão
técnica que vão resolver isso. E uma das coisas que eu menos me preocupei foi o
futebol.
O trabalho psicológico feito
por ele à frente do Santa Cruz supera o de qualquer outro âmbito. Segundo
Martelotte, o mais difícil é manter os jogadores motivados, esquecendo os
problemas extracampo. Ele chegou a dizer que pode ter uma ideia tática genial,
mas nada adianta se os atletas não estiverem focados.
- Como fazer esse grupo, nessa
situação, se motivar e se concentrar é muito maior do que a minha preocupação
sobre quem vai jogar. Sobre o meu esquema, enfim. Não dá para ter o melhor esquema
do mundo se os jogadores não tiverem motivados. Eu posso ter uma ideia genial
que não tem jogo. Eu estou há 60 dias mantendo os caras dentro do trabalho.
Na visão de Martelotte, há uma
cobrança muito grande sobre as escolhas dele sobre qual jogador vai entrar no
time, qual vai para o banco de reservas, mas que não existe uma observação
sobre o contexto geral. E até a greve que aconteceu no ABC-RN, nesta semana,
foi citada.
- Se reclama muito falando
sobre quem jogou, quem não jogou... Mas ninguém sabe o que a gente trabalha.
Quero eles focados, se é possível. Eu trabalho há 60 dias dentro de cabeça
deles. O ABC essa semana não treinou, fez greve. Ganharam depois, OK, isso
existe no futebol. Há coisas no futebol que você não explica, mas que acontecem,
fazem parte mesmo depois de um momento conturbado.
Marcelo fez questão de elogiar
o elenco que tem em mãos. Tanto é que afirmou que os jogadores corais ainda não
fizeram nenhum tipo de greve sob o seu comando. E que, mesmo em uma situação
muito difícil, ele não deixa de cobrar.
- Aconteceu no ABC, acontece
em outros lugares. Mas aqui ainda estamos segurando. E aqui estamos no fio da
navalha. E está sendo bem aceito pelos jogadores. Não é fácil na situação deles
trabalhar do jeito que estão trabalhando.
E eu estou cobrando, viu? Há uma
outra parte que se pensa em só motivar e não cobrar. Mas eu estou cobrando,
mesmo com essa situação deles. O que eu não tive de cobrar uma vírgula ainda
foi com relação a empenho, a entrega, a se superar. O que está acontecendo aqui
é superação. Nesse sentido, é zero (cobrança). Nos outros, eu continuo
cobrando. Temos um acordo desde o dia que eu cheguei que era brigar até o final
para tirar o Santa dessa situação.
Fonte: GloboEsporte